XIX

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"Qual o tamanho da noite?" – Lude Mendes.

El Qars, maio de 2012.

   David Ghandour sentia a própria vitalidade se evaescer a cada dia, tentava a todo custo conter o decaimento da própria força, mas era como se pegasse um punhado de areia  nas mãos. Quanto mais pressionava, mais a energia escorregava por entre os dedos. Aquela expedição devia apresentar os resultados esperados, o tempo estava se esvaindo. Caso o objetivo não fosse alcançado, ele perderia bem mais do que um investimento milionário.

   Os outros membros do Gofs já cobravam resultados imediatos da missão.

   Assim que desceu do carro, sentiu o corpo ceder ao cansaço, falou algumas poucas palavras e se encaminhou para seu locatário privado. Entrou no próprio quarto e jogou o corpo na cama, os músculos relaxaram e o sono dominou sua mente. Dormiu horas em inatividade profunda, naquele episódio não foi atormentado por nenhum pesadelo, dos quais estava acostumado. Acordou com um leve bater na porta, percebeu que do lado de fora o dia já tinha acabado.

   — Senhor Ghandour? – a voz soou polida atrás da porta.

   — Sim, Candace. – ele disse para secretária.

   — Precisa de alguma coisa? O que posso pedir para seu jantar? – prosseguiu solícita.

    A secretária particular do empresário estava preocupada com a longa ausência do patrão, já passava da meia-noite e homem não havia comido nada desde a chegada.

   — Peça para Dubois seguir o cronograma da minha dieta. Já estou saindo. – respondeu, referindo-se ao chef particular.

   Ele se levanta da cama e começa se despir, estava exalando um cheiro de suor rançoso. Ciente da necessidade de um banho, começou a atravessar o extenso quarto em direção ao banheiro. Diferente do alojamento dos pesquisadores, o aposento do empresário apresentava uma  arquitetura interna contemporânea. David deixara claro para o arquiteto que o lugar deveria ser uma cópia exata da suíte presidencial do Palazzo Versace Dubai, que era o hotel de luxo favorito do investidor.

    A única discrepância do hotel e do local era a forte rede de segurança. David se certificou de que a casa deveria ser uma fortaleza, ainda que tivesse uma equipe de segurança altamente treinada, gostava de ter a própria privacidade. As paredes eram grossas e as janelas cobertas por uma película inovadora no mercado, o que possibilitava uma ampla visão de dentro para fora, mas não o oposto. Havia câmeras espalhadas por toda a extensão do território, um segurança em prontidão e uma equipe de emergência. A cereja do bolo era o portão com interior de aço, nada vivo entraria ali.

   Enquanto caminhava para o banheiro, sua visão periférica captou o reflexo do seu corpo no espelho. Conteve os passos e encarou a própria imagem, tatuagens cobriam completamente seu torso. Aos olhos desatentos, os símbolos aparentariam desenhos normais. Contudo, aqueles que observassem com mais cuidado perceberiam que as figuras estavam cravadas mais profundamente.

   No entanto, não foram as tatuagens que fizeram David cessar seus passos, aquela visão era sua companheira de muito tempo. A perda de peso progressiva, era a novidade, suas costelas em breve poderiam ser vistas. Assim como os ossos do quadril e da face, em pouco tempo apresentaria um visual famélico.

   Estou definhando. - pensou pesaroso.

   Voltou os passos em direção a cama e pegou o telefone, discou os dígitos desesperado. A pessoa do outro lado da linha atendeu imediatamente, uma resposta rápida diante do horário.

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