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Fim  parte Um.

Antigo Cairo, dia do Alinhamento.

     " — Jesus está onde há crentes para serví-lo. "
   
    Malu ainda se lembrava da professora da escola dominical explicando o que era a igreja. Agradeceu mentalmente por ter nascido em família pentecostal, coisa que nunca achou que faria. Entrou sem cerimônias na sala, onde a Comandante e outros conversavam, Ernesto estava em seu encalço.

      — Temos que ir para Cairo, o amuleto está no Bairro Copta. – exclamou, explicando em seguida o que o texto do papiro queria dizer.

    O príncipe mestiço, filho do céu uno e do ventre virgem era Jesus. Portanto, o corpo de Kytzia provavelmente estava em uma região cristã do Cairo. E o bairro Copta que ficava na outra margem do Nilo se encaixava com o enigma.

     — Os Universos se cruzam, enfim. Há um apocalipse em cada um dos mundos, no cristão e egípcio. Assim como há demônios. – um Medjai falou. – Nosso erro foi nos limitarmos ao nosso próprio horizonte. Pensamos no Herdeiro errado.

      — Ok, então vamos nos organizar mais uma vez para partirmos. – Emma Aariak começou a dar ordens, coordenando todos. Ela parecia incansável, mesmo não tendo dormido nas últimas noites.

   — Comandante, sobre a Lança de Rá há alguma informação? – Malu perguntou, quando estavam sozinhas.

   — Não temos nada definitivo, mas estamos bem perto. Malu você sabe o que vai acontecer quando acharmos o amuleto, não é? – questionou.

    — Eu imagino.

    Um consenso silencioso se firmou entre elas. Malu sentiu uma lufada de alívio, sabia que as coisas aconteceriam como deveriam ser.

    Antonia saiu da recepção hospitalar improvisada inebriada pela informação que recebera, não queria ter escutado aquilo. Estava preenchida pela culpa e raiva de si mesma, buscava nos pensamentos medidas que poderiam ter evitado o  agora, mas não encontrava nada.

    Entrou no dormitório apertado com uma beliche estreita, na qual lençóis cinzas repousavam tranquilos. Chutou a porta atrás de si, bateu o toco decepado no ferro da cama. Na tentativa de evacuar o sofrimento por intermédio da dor, urrou com lesão auto-infligida. Jogou-se no chão, clamando por um milagre que transformasse tudo aquilo numa alucinação cruel.

    " — Sacrifícios, minha querida. – era Kytzia quem falava.
    
        Antonia já não estava mais no dormitório, mas em um jardim.

     — Já me disse isso antes. – retorquiu.

    Kytzia estava sentada, olhando para o horizonte. Tinha um cacho de uvas em um das mãos, na outra um cesto com peixes.

     — Sacrifícios são sempre necessários. Ainda que estejamos na mais alta suspensão que é ter o poder de gerar. – concluiu. "

    — Meu Deus, seu pulso. – Malu disse, quando viu a irmã no chão com os pontos estourados.

    A visão acabara. Os flashes repentinos de memórias estavam se tornando uma aflição.

    — Eu estou bem.

     — Não, não está. – saiu apressada, retornando com uma enfermeira.

    Malu contou a nova suposição, enquanto Antonia recebia o tratamento médico e assumia o eixo da própria sanidade.

     — Certo, então vamos logo. Já está perto de amanhecer. Não podemos deixar que anoiteça sem que tenhamos o amuleto em nossas mãos. – Antonia se levantou e saiu do quarto decidida.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora