III

583 76 341
                                    

"As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo." - Epicuro.

Londres, março de 2012.

  " Cara senhorita Andrade,

   Eu, Sir William Robinson, diretor geral do departamento de História da Royal Society, venho aqui lhe trazer boas novas.

   Nosso comitê tem avaliado por muito tempo o seu trabalho, e ficamos maravilhados com sua dedicação e competência. Dessa forma, decidimos liberar recursos para que a senhorita possa ter os instrumentos necessários para investigar a história da Quarta dinastia de Faraós.

   Espero que esteja ansiosa e preparada para embarcar em uma jornada à procura do conhecimento e de fatos históricos.

   Atensiosamente, Sir. Robinson."

    Eram aquelas palavras que Antônia queria escutar desde o fim do seu mestrado, foram meses anexando relatórios para conseguir verba suficiente para explorar as ruínas recém encontradas no Irã.

    O comitê logístico havia resistido firmemente aos pedidos dela, a explicação da resistência não estava na sua falta de competência ou em um currículo incompleto. Antonia é uma das mais qualificadas coordenadoras da instituição na qual trabalhava, mas também era a única mulher latina. A ciência pode ser um espaço de desenvolvimento de conhecimento, porém, determinados paradigmas sociais resistiam, dificultando a inclusão.

   Contudo, após ler o e-mail, a última coisa que Antonia pensou foi em uma análise socioeconômica da comunidade científica. O grito gutural de felicidade surgiu na sua garganta, despertando o andar inteiro do prédio. Finalmente, ela poderia dar início a pesquisa para o seu doutorado. E não era qualquer pesquisa, ainda que tentasse manter os pés no chão, a historiadora sabia que suas descobertas poderiam mudar a a perspectiva do mundo em relação a história antiga do Egito.

   O grito de êxtase e trouxe Eddie de volta a sala, que no percurso bateu o dedo mindinho na quina de um móvel e urrou de dor.

   — O que houve? – perguntou ele. – Está tudo bem? – continuou preocupado dividindo a atenção entre o dedo machucado e a razão dos gritos da namorada.

   — Está tudo ótimo! – respondeu ela. – Você não vai acreditar... – o entusiasmo era tão grande que Antonia estava prestes a hiperventilar.

   Depois de alguns segundos ela conseguiu se acalmar, e explicar o que havia acontecido para Eddie que seguia preocupado, escutou tudo muito cauteloso, ainda temoroso com o drama familiar que ocorreu nas últimas semanas. Depois de entender que a exaltação era por motivos positivos, ele se juntou a companheira em uma comemoração barulhenta que assustou inclusive o mascote do casal, carinhosamente chamado Chicó.

   Depois de longos minutos de agitação os dois sentaram no sofá sorridentes, ambos sabiam a importância daquela notícia. Ainda que Edward não fosse diretamente beneficiado, sua felicidade era tão genuína, quanto no dia que recebeu recursos para pesquisar a técnica linguística das civilizações ágrafas que viveram no Congo.

   — Isso é fantástico, você adora trabalhar em campo! – exclamou o rapaz respirando cansado.

   — Eu sei, faz tanto tempo que não saio dos laboratórios. – falou ainda extasiada.

   — Você acha que vai poder montar a própria equipe de expedição? – perguntou curioso.

    — Eu espero que sim, provavelmente vou precisar de um linguista. Você poderia me sugerir algum? – questionou com um sorriso instigante.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora