XVI

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" O ciúme é o pior dos monstros criados pela imaginação." – Calderón de La Barca.

Antigo Império Egípcio, 2526 a.C

   Era Rephael.

   Era ele quem estava no meio da multidão, foi ele quem despertou a atenção de Kytzia em meio a centenas de pessoas. O coração dela bateu tão forte que machucou as costelas, seus olhos ficaram marejados e teve que apertar os braços da cadeira para conseguir controlar a própria respiração. Djedefré percebeu a mudança de comportamento da mulher ao seu lado, e se guiou pelo olhar dela para encontrar motivo. Ao se deparar com a imagem do homem, objeto de admiração de sua amada, um torpor tomou conta de seu peito.

     Era como se uma crematório tivesse sido instalado no tórax do futuro faraó, com uma capacidade de queimar meio mundo. Ele soube naquele momento que aquele homem era o hebreu de quem ela falara anteriormente, um ódio sem precedentes encurralou seu estômago e esmagou seus pulmões.

   Tinha visto Kytzia lhe ameaçar com uma adága e confessar a autoria do assassinatos de seu pai, mas não sentira o rancor que o dominava naquele momento. Isso porque a inveja reprimia sua sanidade, queria que ela olhasse para ele da mesma forma que espiava o hebreu, com um amor avassalador. Ele desejava que ela o quisesse de forma incondicional, que ele fosse o único a ocupar seus pensamentos, porque era assim que ele sentia. Djedefré viu a falsa Hetepheres abaixar a cabeça, o véu que trazia cobrindo a face era mais fino e suave, diferente do que ela havia usando quando não estava com o disfarce mágico.

   O Vale dos Reis apareceu no horizonte depois de algumas horas de viagem, Kytzia saiu de sua liteira e lançou um olhar de compaixão para os homens que tinha a carregado nos próprios lombos. Lamentou a exploração da força daquelas pessoas, que em um estado de alienação, sentiam-se honradas de participarem de maneira tão efetiva do funeral de um Faraó. Os rituais foram devidamente seguidos, e depois de longos processos a realeza foi levada de volta para o palácio.

   No dia seguinte, o luto deveria ser esquecido e os festivais de coroação seriam iniciados. Um ano de festas e cerimônias se sucederiam para consagrar a Djedefré como o legítimo Faraó do Alto e Baixo Egito.

   —Kanope, ações imediatas devem ser tomadas, antes mesmo do meu governo ser oficialmente instaurado. – Djedefré falou para o sumo sacerdote.

   O sol já ido embora há muitas horas, mas toda a equipe administrativa do império egípcio ocupava o principal salão real do palácio. Djedefré exigiu que todos estivessem presentes e atentos as instruções, uma vez que grandes mudanças seriam realizadas. Além disso, ele sabia do compromissos que tinha com Ísis, ter Apófis no encalço da amada era uma responsabilidade muito grande para aumentá-la ainda mais.

    — Sim, meu senhor. – respondeu obediente. – Por onde deseja começar?

   — Pela a implantação de missões religiosas, – começou firme. – quero a adoração a Ísis promovida não só no Egito, mas em todos os povos vizinhos.

   — Mas meu senhor, achei que fosse assumir como seu protetor. Seu pai o designou como Dourado como Ré. – indagou o religioso.

   — E eu vou, no entanto a deusa Ísis deve ter seu lugar de importância no reino. Afinal, depois de tanta desgraça tudo que mais precisamos é de compaixão e fertilidade. – argumentou e o sacerdote, assim como os outros concordaram. – Abubakar. – chamou pelo engenheiro.

   — Sim, meu senhor. – respondeu o homem de meia-idade.

   — Agora que a pirâmide de meu pai já foi finalizada, devo começar os planos da minha. – a sala ficou surpresa com a afirmação, Djedefré sempre repudiou o sofrimento dos escravos durante a construção monumental, era curioso que agora quisesse sua própria pirâmide – Ela será ao nordeste do Império e em breve vou lhe enviar as especificações.O que posso dizer por agora, é que nessa construção o método será diferente.  A pedras serão menores para evitar acidentes, castigos físicos estarão proibidos, água e comida devem ser dadas em abundância aos trabalhadores. Devemos proteger nosso povo, ao mesmo tempo que protegemos o nosso reino.

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