"O egoísmo causa a ignorância, a cólera e o descontrole, que são a origem dos problemas do mundo."
-Dalai Lama.Antigo Império Egípcio, 2526 a.C
Ísis era a deusa padroeira dos Faraós, o hieróglifos de trono sobre sua cabeça explicitava que a dinastia era sua protegida. A entididade era mais conhecida pelo nome Aset, todos os templos do Egito possuíam referências à deusa mãe. Já que ela era vista como a pessoa responsável por todas origem da fertilidade egípcia. Afinal foram as lágrimas dela que encheram o rio Nilo, no dia em que Set matou Osíris.
Ainda que Ísis fosse conhecida por sua piedade e compaixão, ela assim como todos os outros deuses do Egito se sustentavam pelo medo. Ninguém ousava desafiar a hegemonia das entidades mágicas, e enfrentar a fúria de uma maldição ou morte. Os Faraós, mesmo que acreditassem ser superiores aos outros humanos, deuses vivos onipotentes, eram apenas fantoches escolhidos para manter um governo, no qual as vontades divinas fossem atendidas. Já os sacerdotes eram os mensageiros dos deuses, ferramentas de transmissão das vontades e caprichos daqueles que habitavam o Aaru. Os religiosos incubiam aos poucos as ordens dos deuses nos Faraós, em troca recebiam migalhas de poder que iludidos acreditavam ser significativos.
Era o governo teocrático quem mantinha aquela ordem de dominação, que alienava o povo em adoração. E por que os deuses tinham que manter essa conjuntura? Pela própria sobrevivência, sem as preces e o fanatismo a energia das entidades definhava e apodrecia. Sem o povo não havia divindade. Cada palavra de um mero indivíduo, cada ritual e pensamento repreendido agia como uma descarga de vitalidade preenchendo a existência dos deuses. Se os humanos esquecessem ou se revoltassem contra o Aaru, restaria apenas o vazio para aqueles que se declaravam imbatíveis. Kytzia soubera desse sistema quando ainda era criança, aprendera a odiá-lo e tentou destruí-lo, mas agora sua própria sobrevivência estava refém da ajuda divina.
Mesmo sendo arrogantes, os deuses sabiam da instabilidade humana e que não eram invencíveis. Nenhum deles queria entrar em latência ou virar um parasita como havia acontecido com Apófis, por isso plantaram a ideia das pirâmides nos sacerdotes. As pirâmides seriam a garantia de que o mundo sempre se lembraria deles, uma grandiosidade arquitetônica feita em honra às entidades faria eternamente parte do imaginário humano. Eles permaneceriam fincados aquela terra, do mesmo jeito que as areias eram eternas no deserto. É claro que eles não teriam a mesma preponderância da adoração constante, mas meia existência é melhor que existência nenhuma. Ainda poderiam se acomodar e desfrutar dos prazeres de pequenas interferências nas vidas das pessoas.
- Você ao menos imagina o que a suas ações causaram em Aaru, cortesã?- perguntou Ísis deitada sobre os crocodilos.
Kytzia sentiu o medo se espalhar por cada músculo de seu corpo, a deusa mãe das dinastias a encarava sem nenhum constrangimento ou expressão.
- Não vai me responder? - insistiu a divindade - Está com medo de Ammit? - atribuiu a ausência de palavra da mulher à presença dos animais ferozes, que também davam forma ao demônio que vivia no submundo - Você deveria, Apófis prometeu sua alma a ela. No entanto, não deve se preocupar por agora, está sob minha proteção.
A língua da humana parecia ter se enrolado e retrocedido até seu estômago, sentia que havia perdido a capacidade de falar, tamanho era o medo que vivia naquele momento.
- Fale! - exigiu Ísis, sem perder nenhum traço de sua formosura.
- Não tenho o que falar para você. - expurgou com uma falsa coragem, que tinha surgido momentaneamente.
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LINHAGEM [CONCLUÍDA]
Historical FictionEm 2526 a.C., a Quarta Dinastia Faraônica reinava próspera e plena no Antigo Egito. Sob a proteção dos deuses, a realeza desfrutava de uma realidade luxuosa, enquanto servos se sacrificavam para atender os caprichos dos nobres. Até que uma mulher, t...