XIII

156 19 33
                                    

"Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade."- Provérbio Chinês.

Antigo Império Egípcio, 2526 a.C

-Ouvi dizer que vai ficar calada dessa vez. - a voz soou.

Kytzia não demorou muito para reconhecer o cheiro exagerado de óleo de sândalo, a voz jocosa não era nenhuma novidade para ela. Suspirou em desespero sabendo que não dormiria imediatamente, agradeceu a si mesma por não ter tirado o amuleto. Decidiu ficar em silêncio, fingir que estava dormindo, para que o homem que lhe encoxava fosse embora.

- Não adianta fingir, sei que não está dormindo. Eu te conheço! - insistiu convencido.

Parece que não conhece tão bem. - pensou a falsa princesa sarcástica.

Jahi soltava bafos cálidos na nuca da mulher, depois do dia difícil estava em busca de um reconforto incandescentes na pele da amante secreta. Como ele era comandante do exército egípcio, tinha passado o dia tentando acalentar o temor que assombrava as terras do Nilo, que clamavam por socorro devido o pânico noturno.

- Esse voto de silêncio não é efetivo comigo, Hetepheres. Não precisa de fingimentos quando estamos juntos. - ele obviamente não estava disposto a desistir.

- Ora, por favor! - a reclamação escapou quase automaticamente- Meus pais morreram, dê-me um pouco de espaço. - suplicou.

- Seu marido também tinha morrido naquele dia, e você tampouco hesitou em cair nos meus braços. - retorquiu brutal, enquanto virava o corpo dela para poder encará-la.

Jahi era um homem grande, sem muitas delicadezas, as cortesãs se escondiam por entre as pilastras quando escutavam os passos deles no corredor. Ninguém queria tê-lo, ainda que fosse uma das principais autoridades do exército, era estúpido e ignorante demais até para as mais desesperada. Contudo, Hetepheres II discordava já que aparentemente, estava tendo um caso com o militar. Um relacionamento que inclusive não parecia recente, precedendo até mesmo a morte de Kawab.

A monogamia não era um valor vigente dentro da realeza egípcia, da mesma maneira que o incesto era socialmente aceito e até mesmo incentivado. O faraó possuía um rodízio de esposas, com quais tinha diversos filhos, que eram classificada em grau de importância pela família de origem. Os filhos eram escolhidos para assumir cargo pela ordem de nascimento, pela importância política de suas mãe, ou ainda pela vontade do faraó. É claro que os amantes das mulheres da realeza deveriam ser mantidos em segredo, uma vez que teoricamente elas deviam devoção plena aos seus cônjuges, ainda que não houvesse reciprocidade.

- Por que está me rejeitando, Hete? - interrogou irritado - Não lhe sirvo mais agora que será rainha?

- Não é nada disso - tentou contornar a situação - só estou cansada demais para qualquer coisa que não seja dormir.

- E o que fez tanto no dia para tal exaustão? - ainda raivoso - Por caso já consumou a união com Djedefré? - indagou enciumado.

- Não! - tudo que ela queria era expulsá-lo, mas o medo de que essa ação transparecesse algo suspeito a conteve - Fui ao Nilo hoje mais cedo, o sol exauriu minhas forças. Por favor, deixe-me descansar. Prometo-lhe que será recompensado. - não mediu as palavras para poder se livrar do comandante, teria que resolver esse problema adicional mais tarde.

- Está bem - falou vencido - mas é só por hoje, não pense que serei descartado.

Ele se levantou sem nenhuma cerimônia, o corpo excessivamente musculoso reluziu com luz que passava pela janela. Com uma olhadela para trás ele se retirou do quarto, e Kytzia nem ao menos pode se dá ao luxo de pensar no que faria para resolver a questão. O sono lhe dominou suas pálpebras e fez seu corpo relaxar.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora