XXIV

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“Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura.”– Aristóteles.

El Qars, maio de 2012

  As duas irmãs seguiram juntas para fora do alojamento, o sol ainda chegava timidamente no horizonte. Do lado externo, dois seguranças estavam parados dentro do jeep militarizado.

   — Para onde estão indo, senhoritas? – Welch, chefe da segurança perguntou ao descer do carro. Ele mantinha o rifle perto do corpo.

   — Hoje vamos um pouco mais cedo. – Antonia explicou, com um sorriso acanhado.

   As duas estavam com tênis de corrida, uma vez que sabiam da indisponibilidade de conseguir transporte ou avisar alguém da saída repentina. Era uma ação impensada, mas nenhuma delas conseguia questionar a motivação que guiava a tomada de decisão recente. A vontade descobrir o que era aquela luz misteriosa, nasceu inicialmente  em Malu, contaminou Antonia simultaneamente.

   — O senhor Ghandour sabe disso? – apesar de está armado, ele parecia amigável.

   — Sabe sim. Ele não te avisou? – Malu mentiu descaradamente. – Pensei que ele comunicaria a Candace, que por sua vez repassaria a informação para vocês. Nós queremos fazer uma caminhada até o local das escavações, coisa de historiador.

   — Hum. – riu contido. – Se falou alguma coisa a Ghandour ele deve ter esquecido. O deserto está afetando o pobre coitado. – Welch era inegavelmente simpático. – Mas não posso deixá-las sozinhas, há boatos que os Medjai ainda estão circulando por essa área. Vamos fazer o seguinte, levamos vocês e paramos onde quiserem.

  Não era uma proposta, mas uma afirmação. Encurraladas, entraram no carro em silêncio. Trocaram olhares cúmplices e seguiram a viagem. Vez ou outra pararam no meio do caminho para recolher uma amostra, que obviamente era desnecessária. Os homens armados permaneceram calados, falavam somente comentários banais sobre o tempo e a duração do trabalho.

   — Chegamos. – Welch abriu a porta para a mulheres saírem do carro. – Daqui a uma hora o resto do time vai chegar, nós ficaremos na base que fica ao norte daqui. Está com o comunicadores? – perguntou.

  — Sim. Agradeço a carona e a privacidade. – Antonia responde, antes dos dois homens saírem.

   Elas esperaram o carro se afastar no horizonte, com uma nuvem de poeira. Sabiam que estavam sendo monitoradas, e de alguma forma isso incomodava.

   — Tonia me desculpa falar isso, mas eu acho que há coisa muito errada. – Malu desabafou, enquanto caminhavam em direção ao local do flash. – Estou com medo, Tonia. Tenho sonhos estranhos e pensamentos persistentes. Não sei o que há de errado. Não sei se o problema é comigo ou com essa viagem. – estava nervosa ao falar aquilo, porque sabia que suas afirmações tinham como base irracionalidade.

   Malu queria que tudo que havia dito não passasse de um delírio, preferia um diagnóstico de psicótica a descobrir que suas palavras tivessem base racional.

   — Que tipo de sonhos? – a irmã perguntou, surpreendendo a outra.

   — Não sei explicar, mas há uma mulher cuja a imagem não consigo retirar da cabeça. Ela tem os cabelos ondulados, a pele cor de oliva, olhos castanhos e está sempre com um nó de Ísis...

   — Um Tyet? – perguntou de supetão, lembrando-se do sonho que teve no dia anterior, a mulher parecia ser a mesma pessoa. Assim como o símbolo que carregava.

   Antonia sentia uma empolgação crescente. A narrativa que se desenrolava era fora da realidade, mas atiçava sua ambição. Seu sangue fervilhava, queria mais.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora