XII

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" A punição pode ser anulada, mas a culpa será perene." - Ovídeo.

Londres, abril de 2012.

-Falena. - ele disse com uma voz baixa, assim que viu a ex-namorada.

Falena.

Era assim que ele a chamava quando estavam juntos, o apelido em sua tradução literal significa mariposa. Em italiano, também tinha o sentindo de traça, que era o motivo pelo qual Peasso havia posto essa alcunha. Devoradora de livros, costumava falar.

- Bom dia, Peasso.- começou ignorando completamente o cumprimento anterior - Deseja sanar alguma dúvida relativa a expedição, ainda não tive tempo de analisar os relatórios ou plano de ação integralmente. - completou fugindo dos olhos dele.

- Na verdade, eu vim por outro motivo. - falou sorrateiro.

- E que motivo seria esse? - intrometeu-se Malu - Veio pedir dispensa da pesquisa? - a pergunta soou quase como uma sugestão.

- Ah, não - negou visivelmente desconfortável, era interessante ver um homem de tal porte em uma situação de vulnerabilidade - gostaria de falar com você, Antonia. Assuntos pessoais. - terminou olhando de soslaio para a moça que ainda não conhecia.

- Eu sou irmã dela, acho que posso ficar. - retorquiu assertiva.

- Não - a palavra da irmã mais velha fez a outra abrir a boca em protesto - vou conversar com doutor Peasso na minha sala, fique aqui Maria. Eu já volto.

Os dois caminharam em direção a sala que ficava poucos metros de distância do hall, Andrade abriu a porta e deixou o homem passar na sua frente. Com um aceno pediu para que ele se sentasse na cadeira, do lado oposto da mesa ela se posicionou e respirou fundo discretamente.

- Bem, doutor Peasso eu quero deixar claro que entre nós não haverá assuntos além dos profissionais. Não, estou disposta a nenhum tipo de conversa pessoal. Tampouco, vou permitir que minha expedição seja atrapalhada por ocorrências passadas. - as palavras saíram como um discurso decorado, porque afinal ela havia pensado nisso nas últimas horas, tinha se preparado para essa ocasião desde o dia que viu o nome dele na lista.

- Ora, parece que você não mudou nada desde a última vez que nos vimos. - ele retorquiu com um sorriso cheio de cinismo.

- Não vou levar essa conversa para esse rumo, Peasso. - respondeu, controlando a própria fúria em relação ao sarcasmo do outro.

- Eu vim para levar a conversa exatamente para esse rumo, Antonia. -  o italiano assumiu uma posição diplomática - Vamos viajar juntos, em uma expedição que tem o potencial de ser a mais importante da sua carreira. A última coisa que eu quero é o nosso histórico atrapalhando a dinâmica da sua pesquisa...

- Não precisa se preocupar com isso, para mim não há nada que nos impeça de realizar um bom trabalho. Como eu disse antes, nosso relacionamento será estritamente profissional. - mentiu, pois ainda que negasse sabia o quanto a história dos dois a afetava.

- Ah não, Antonia! - exclamou desapontado- Três anos se passaram desde a última vez que nos vimos, mas você ainda continua utilizando subterfúgios falsos.

As palavras a irritaram profundamente, já havia escutado afirmações similiares àquelas de outras bocas recentemente, e estava cansada desse tipo discurso. O que aprofundava ainda mais o seu incômodo, era o fato de Peasso, com quem não convivia há anos, ser capaz de supor a mesma coisa que seu namorado e irmã.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora