VII

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"Quando se é demasiado curioso de coisas praticadas nos séculos passados, é comum ficar-se ignorante das que se praticam no presente." - Descartes.

Londres, abril de 2012.

   Depois de analisar os documentos, Antonia seguiu para casa e desfrutou de uma noite de sono profundo, apesar da  onda de curiosidade e excitação que fervilhavam em seu espírito.Na manhã seguinte, ela recebeu uma mensagem afirmando que a reunião seria adiada uma semana, um dos integrantes tinha se machucado em uma trilha e teria que ficar de repouso. A pessoa em questão seria o guia na viagem, então deveria está com plenas capacidades físicas antes de qualquer planejamento.

   Os dias passaram rápidos e calorosos, tinha fugido das responsabilidades de sinceridade com o namorado, e tinha evitado pensar sobre o ex. Passando a maior parte do tempo estudando e treinando para a expedição. Visitou a irmã todos os dias, e as duas passavam horas formulando teorias sobre a mudança repentina de pauta. Malu tinha recebido os documentos, assim como a irmã, e tinha sido oficializada como estagiária do programa. Ambas viviam só para a viagem futura, sem nenhum comentário ou referência relacionado a discussão passada. 
  

                                                                                                         ***

   Ela chegou no compromisso às nove da manhã, Antonia estava aflita na sala de reuniões, como sempre tinha chegado adiantada e estava sozinha esperando os outros membros da expedição. Sua irmã estava melhorando, o progresso dela foi elogiado pela direção da reabilitação. Em breve, ela estaria recuperada do vício e pronta para seguir viagem com ela. Tudo estava dando certo, até que na noite  passada Eddie chegou em seu apartamento descontrolado de raiva.

   O homem que era um poço de paciência e compreensão, sempre disposto a escutar, as longas visitas na infância à casa da tia psicóloga tinha desenvolvido nele uma inteligência emocional aguçada. Porém, ao saber que a namorada havia escondido dele o retorno do italiano, suas estribeiras foram soltadas.

   Assim que ela abriu a porta soube que ele tinha descoberto, apesar dela ter adiado aquele momento ao máximo sempre teve consciência de que a hora chegaria. Keith não estava feliz em saber que a namorada iria trabalhar com o ex, tampouco que ela tem escondido isso por mais de uma semana. Os dois brigaram e Andrade assumiu a responsabilidade dos erros, afirmou ter medo de como ele reagiria. Depois partiu para a indiferença, dizendo que não se importava com a presença do ex -namorado. Essa era uma estratégia comum da mulher. E no final das contas a reconciliação ficou para o fim do dia, quando eles iriam jantar.

   O relógio seguia o lento e comunal ritmo de momentos de ansiedade, passando o ponteiro dos segundos cada vez mais vagaroso e cauteloso, como se quisesse explorar um carpe diem. A brasileira o encarava com olhos astuciosos,  como se aquilo fosse assustá-lo. Ao mesmo tempo que a reunião a excitava, com a possibilidade de novas informações, o temido encontro a constrangia 

   — Bom dia! – falou uma mulher entrando pela porta. – Você é a Andrade chefe da expedição? – perguntou ela com um forte sotaque asiático, provavelmente sul coreana.

   — Sim, sou eu. – respondeu, levantando-se para cumprimentar a recém-chegada. – E você é?

   — Sora Maeng, matemática especialista em codificação histórica. – falou a outra que aparentava ter por volta de trinta e cinco anos. – É a primeira vez que chefia uma expedição em campo? – sentou-se em uma das cadeiras que ficavam ao redor da mesa retangular, seus movimentos eram firmes.

   — É sim, mas já tive diversas experiências em campo. –disse tentando conquistar a confiança da subordinada . – As descobertas da exploração vão servir como tese no meu doutorado.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora