Água fria-5

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Eu sabia que tinha que preparar primeiro o terreno para poder dizer ao homem o que disse, mas sem rodeio soltei logo a bomba, tanto o rapaz como o mais velho me olhava em silêncio, então o homem se ergueu de onde estava sentado e se aproximou, ele me analisava a sondar com o olhar de alto a baixo:

_ Quantos anos tem rapaz?

_ Vinte... Tenho vinte anos.

_ Eu acho que se eu tivesse um filho de vinte anos eu saberia, quem inventou isso para você com certeza mentiu.

_ Minha mãe não mentiria para mim. Não em algo tão importante, mas eu não me importo em fazer o exame de DNA para comprovar aquilo que eu já tenho certeza, pois tenho plena confiança do que minha mãe disse.

_ Sua mãe... e quem é a sua mãe, como ela se chama?

_ Rebeca...

_ Rebeca?

O assunto que antes não passava de especulações e curiosidade por parte dele, agora pareceu ganhar um interesse maior, e por um milésimo de segundo pude notar o quanto abalado ele ficara com a menção do nome de minha mãe:

_ Como disse que é mesmo o seu sobrenome?

_ Eu ainda não disse, mas posso garantir que conhecia muito bem a minha mãe, Rebeca Alexsader.

_ Você está me dizendo que é filho de Rebeca Alexsander?


_ Exatamente, ela é a minha mãe.

_ Ela não seria capaz de tamanha crueldade, me esconder e roubar a alegria de ser pai. Ela não tinha esse direito, eu preciso ouvir da boca dela o motivo pelo qual ela me escondeu que eu era pai... a vinte anos.

_ Ouvir os motivos da boca dela será impossível.

_ Impossível, nada é impossível, ela vai ter que me explicar os seus motivos pelo qual me negou o direito de não ter você na minha vida durante todos esses anos.

_ Minha mãe morreu.

O homem recuou alguns passos atrás com essa informação, e se o rapaz não o amparasse facilmente iria ao chão:

_ Rebeca está morta?

Ele pareceu abalado demais isso não passou despercebido a nenhum dos dois rapazes que ali se encontrava:

_ Como isso aconteceu, isso não faz nenhum sentido, ela era tão nova?


_ Ela morreu a três meses atrás, foi acidente, ninguém teve culpa.

_ Mas e você, por que não me procurou nenhuma vez durante esses vinte anos?

_ Na verdade eu só soube que eu tinha um pai a umas semanas atrás, minha mãe deixou uma carta para mim no dia da leitura do seu testamento, nessa carta ela me fez o último pedido e eu tenho que cumprir.

_ Último pedido?

_ Sim... eu tenho que conviver com você durante cinco anos, ela quer que nos aproximemos, que nos comportemos como pai e filho, eu sei que é difícil de digerir tudo isso, e não sei como  será essa convivência e nem se aceitará que eu fique aqui durante esse tempo, mas foi o último desejo da minha mãe.

_ Ela quis que você more aqui na fazenda durante cinco anos?

_ Na verdade ela impôs isso em testamento, ou eu fico e passo cinco anos aqui, ou perco metade dos meus bens.

Ele não me respondeu de imediato, exibiu um sorriso olhando para o outro rapaz:


_ Roger... leve o... como é mesmo o seu nome?

_ Jordan.

_ Leve o Jordan para o quarto ao lado do seu, ele ficará lá até amanhã e amanhã veremos um quarto melhor.

_ Antes se não se importar eu gostaria de tomar um banho quente...

_ Banho quente?

Olhei para Roger que tinha um riso em seus lábios:

_ Aqui não é cidade grande, aqui é fazenda... tomamos banho na tina.

_ Tina?

_ Vem comigo que vai descobrir rapidamente o que é tina.

Segui o rapaz e fui surpreendido pela pergunta:


_ Veio aqui, para se aproximar do meu pai ou apenas para não perder os seus bens?

_ Como é?

_ Você ouviu bem o que eu perguntei mas eu repito.

Ele parou de caminhar se virando para mim:

_ Não vou permitir que magoe o meu pai, se veio com a intenção de conhece-lo e conviver com ele, tudo bem, mas se veio apenas por causa de interesse no que sua mãe lhe deixou é melhor que nem fique, ou encontrará em mim um grande inimigo.

Aquilo não era nada bom, o rapaz estava mesmo lhe desafiando?
Ele iria mesmo querer trilhar por aquele caminho?

Seguimos para os fundos da casa, onde se encontrava um deck de madeira.

_ A água desce por esse cano, precisa bombear três vezes a bomba de água para sair, infelizmente para você a água não sai quente, caso queira água quente, precisará esquentá-la a lenha ali.


Ele apontava um fogão a lenha apagado, eu estava boquiaberto, primeiro pelo tratamento que estava recebendo e segundo ao modo arcaico que eles mantinham:

_ Você está de brincadeira?

_ Você veio parar em uma fazenda, não foi em um resort de luxo ao qual com certeza está acostumado. Se quer bancar o filhinho, terá que se adaptar ao arcaico que temos aqui. Para sua sorte hoje está um dia quente, então aproveite o banho. Enquanto isso eu irei preparar o seu quarto e avisar a minha mãe para colocar um lugar a mais na mesa.

_ São 10h ainda?

_ Almoçamos cedo aqui, acordamos ás 06h portanto esse horário já estamos querendo comer um boi.

_ Que cortês você... 06h ok... eu sei que é difícil para você aceitar o fato de não ser o único filho, mas não se preocupe, eu não vim roubar o seu posto de filho.

_ Tem muita coisa que você não sabe... para começar eu não sou filho legítimo de Douglas Teixeira, ele me adotou quando eu era criança, e eu o amo mais do que a mim mesmo, se o magoar farei com que pague por isso.

_ Olha aqui rapaz, eu estou sendo educado com você, mas não estou afim de receber ameaças, é melhor não entrarmos nesse joguinho, é um caminho perigoso e não estou afim de trilhar por ele.

Seus olhos estavam semicerrados, eu também o encarava mantendo a segurança do olhar, então ele aliviou suas expressões:

_ Te encontro lá dentro, quando tiver tomado o seu banho.... gelado. 

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora