Eu te amo-23

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No silêncio da noite, o sono parecia se recusar a chegar e fiquei rolando de um lado a outro na cama, uma enxurrada de pensamento invadia minha mente, pensamentos esses que me assombravam.
Afloravam em mim o medo... medo de decepcionar os meus pais, medo de perder o Jordan, medo do Zulu contar de forma distorcida o que sabia, medo, simplesmente medo, era tudo o que eu sentia naquele momento. A impressão que eu tinha era que o mundo havia desabado em cima de mim. Fechei os meus olhos tentando de todas as formas mandar embora todo aquele sentimento de pavor que eu estava a sentir, mas parecia que ele me assombrava ainda mais.

Com o romper do dia, assim que saio do quarto me deparo com Jordan que estava parado em frente a porta de seu quarto, ele me olhou demorando no olhar, ele me olhava como se procurasse uma resposta, exatamente do que eu não sabia dizer:

_ Ontem... não sei o que me deu, descu...

Fomos interrompidos por meu pai, que abriu a porta do seu quarto:

_ Vamos meninos, a Brenda já preparou o café.

Certamente ele entendeu o que eu queria dizer, tomamos o café em silêncio, apenas ouvindo o meu pai que parecia ter a conversa acumulada de tanto que falava, mas aparentemente nem Jordan prestava atenção assim como eu não me atentava ao que ele dizia. Minha mãe também se mantinha em uma mudez absoluta.

Termino primeiro o café, e fico esperando Jordan terminar sua xícara, logo o indagando:

_ E aí terminou, podemos ir?

Jordan então se levanta caminhando na frente, eu o sigo, mas durante todo o trajeto ele permanece em silêncio, isso me angustia e antes que eu consiga reclamar ele se vira para mim e me pergunta:

_ Vai ajudar a sua mãe?

_ O que?

_ Eu ouvi a conversa de vocês dois...

_ Você ouviu?

Sinto como se tivesse levado um soco no pé do estômago:

_ Jordan eu posso explicar... Eu jamais faria algo contra você, jamais arrumaria uma serpente venenosa.

_ Espera!

Ele me encarava endurecido:

_ Serpente... o que tem a ver a conversa com a sua mãe com serpente...

Fechei os meus olhos por um segundo, quando voltei a olhá-lo, ele ainda me encarava:

_ O que exatamente você ouviu?

_ Que ela me odeia por ter a certeza de que o Douglas lembra da minha mãe e que ela pediu a sua ajuda...

De repente ele pareceu entender tudo e balançando a cabeça como se não estivesse acreditando disse:

_ Claro... a serpente.... você tem algo a ver com aquilo Roger?

Retrocedi diante da forma como ele me encarava, e balancei a cabeça afirmando:

_ Eu posso explicar...

_ Estou ouvindo.

Com a voz falha comecei a dizer esforçando-me para não deixar as lágrimas atrapalharem o meu relato:

_ Logo que você chegou aqui, minha mãe se incomodou com a sua presença, ela queria de todas as formas encontrar uma maneira de fazer você partir, ir embora, longe do meu pai, acho que eu não preciso dizer que ela te vê como uma ameaça, então ela me procurou dizendo que você era da cidade grande e com certeza não saberia diferenciar uma cobra venenosa da não venenosa, ela achou que te assustando você iria embora, eu me neguei, eu disse que não iria fazer isso, disse para ela esquecer tudo isso. Acredite em mim Jordan, eu estou falando a verdade.

_ Continue...

_ Na festa da quadrilha, porém, ela encontrou o Zulu por lá e fez uma proposta a ele, disse que não se importava se fosse uma serpente peçonhenta ou não, conhecendo a cabeça psicopata que o Zulu tem, ele não se importaria em encontrar a mais venenosa possível, eu não podia deixar, então eu me ofereci para eu mesmo procurar uma serpente que eu sabia que não lhe causaria danos.

_ Então por isso todo aquele papo... agora entendo tudo, e o que mais sua mãe e você fizeram para tentar me manter longe?

_ O dinheiro que sumiu do meu pai, foi a minha mãe que pegou para colocar nas suas coisas, ela queria que meu pai te acusasse de ladrão, por que ela imaginava que ele dizendo isso você não ficaria mais na fazenda, mas meu pai nunca disse nada.

Lentamente ele movia a cabeça:

_ Acredito que o relógio do Douglas também tenha sido ela?

_ Sim.

_ E você sabia de tudo?

_ Eu não iria permitir que fosse acusado sendo inocente, eu repreendi ela Jordan... mas entenda eu não podia denunciá-la.

Fiz um gesto de aproximação mais Jordan levantou ambas as mãos, o que me fez parar:

_ Eu sinto muito, sinto ter te magoado Jordan, ela é a minha mãe... se eu a denunciasse para o meu pai, era capaz até dele a colocar para fora, eu não podia.

Ele ainda permanecia em silêncio:

_ Ela é a minha mãe.

_ E eu era o homem com quem você dormia.

_ Você diz no passado, isso o que quer dizer?

Jordan inclinou a cabeça para o céu, e eu o observava, ele mordia o canto de seus lábios:

_ Não sei... não sei.

_ Jordan não faz isso com a gente, por favor me olha.

Ele atendeu ao meu pedido:

_ Eu errei... eu deveria ter feito ela parar, mas eu prometo que não vai mais acontecer, eu prometo, mas não me deixe, eu estou te implorando.

O rosto severo de Jordan foi aos poucos tomando uma expressão mais branda:

_ Eu preciso pensar... preciso ver o que faço da minha vida daqui para frente, entenda Roger eu estou confuso com tudo isso.

_ Eu te amo, se vale alguma coisa eu dizer isso eu te amo Jordan. Por favor me perdoa.

_ Me ama... você sabe o quanto essas palavras foram esperada por mim, o quanto desejei escutá-las, e agora... agora eu não sei o que pensar, não sei como agir, desculpa eu preciso refletir em tudo isso, hoje eu não vou tratar dos animais com você tudo bem?

_ Eu não imaginei que a primeira vez que eu dissesse essas palavras para você, a reação fosse ser assim.

_ Nem eu Roger, nem eu.

Ele se aproximou erguendo a mão até o meu rosto fazendo um carinho, mas logo se afastou indo na direção oposta a da fazenda.

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora