Cidade/ fazenda-15

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Acordei disposto, depois de ter passado a noite com Roger, havíamos discutido por besteira, mas tudo havia se resolvido na cama, e era ótimo aquela sensação de reconciliação. A cada dia que passava eu me ligava mais a ele, e por ele eu até cogitaria permanecer para sempre naquela fazenda, eu tinha plena consciência de que aquele lugar era o lugar que ele amava e se eu desejava ter ele na minha vida por tempo indefinido tinha que pensar na possibilidade de permanecer ali para sempre. Minha vida toda estava na cidade, meus amigos, a faculdade que tive que trancar, as casas que minha mãe havia me deixado, o apartamento, os carros e claro minha moto, mas tudo isso ficava em segundo plano porque minha prioridade naquele momento era Roger, ele significava mais para mim do que tudo aquilo que me prendia a cidade grande.

_ Bom dia.

Disse a todos logo ao amanhecer na mesa do café, mas o meu amplo sorriso estava dirigido a ele, e Roger bem sabia disso pois me oferecia um sorriso da mesma maneira, mas foi Douglas que me dirigiu a palavra primeiro:

_ Bom dia meu filho, estou gostando de ver, tem acordado sozinho para trabalhar em pleno domingo, eu tenho observado como vai e quando chega e tem sempre um sorriso no rosto, eu confesso que eu me surpreendo com isso, afinal você chegou aqui todo urbanizado e agora está parecendo até um de nós.

_ Ele nunca será um de nós Douglas, não se iluda com isso, ele está aqui apenas por ganância, pelo que a mãe dele lhe deixou.

_ A senhora está muito enganada, eu nunca vim aqui por causa do que minha mãe me deixou e sim para cumprir seu último desejo, não por dinheiro mais por respeito, carinho e amor que eu dedicava a ela, minha mãe sempre foi uma mulher admirável que além de mãe era a minha melhor amiga, por ela eu faria qualquer sacrifício, mas se quer saber senhora... eu confesso que nunca pensei em vir morar em uma fazenda, pois gosto da urbanização, mas hoje eu digo que tenho grande interesse por aqui.

_ Eu fico muito feliz em saber disso meu filho, fico imensamente feliz em saber que se interessa pela fazenda que já é sua.

Roger não abriu a boca, mas me olhava, porém, era um olhar indecifrável, só quando terminou o seu café foi que ele disse:

_ Estou indo na frente, te encontro no curral.

Vi quando ele lançou um olhar para sua mãe, ele nem esperou pelo meu protesto e saiu apressando seus passos, estranhei aquela atitude, porém forcei um sorriso a Douglas.
Fui encontra-lo depois que terminei o café, contudo ele me esperava no meio do caminho, e sem dizer uma única palavra ele segurou em minha mão me conduzindo ao rio, ali nos banhamos nus, nos amamos, e depois ele me disse:

_ Jordan... eu preciso falar com você... você sabe que aqui é uma fazenda não sabe, aqui não é cidade, então os perigos aqui não são iguais os de lá, na cidade os perigos são assaltos, drogas, poluição e essas coisas que aqui na fazenda não corremos perigo, aqui os perigos são os animais peçonhentos, serpentes, escorpião, doença de animais, coisas assim, eu nunca deixaria um desses perigos te atacar Jordan, lembre-se sempre disso, nunca ouviu bem.

_ Eu não entendo por que está falando disso Roger?

_ É que... não é nada em especial Jordan, apenas quero que lembre que eu nunca faria algo para te prejudicar.

_ Eu sei.. Roger você está tremendo, o que está acontecendo, dividi comigo o que está te preocupando?

_ Não é nada, acontece que eu ouvi um papo que nas fazenda vizinhas está tendo umas manifestações... um boato de um animal que eles ainda não sabem o que é que tem matado os animais, e eu estou com medo, eu saberia me defender mas e você?

_ Você está se oferecendo para ser o meu herói?

_ Não brinca com isso Jordan, o assunto é sério. A picada de um escorpião venenoso mata, uma cobra venenosa também, mas olha existe serpente que são grande mas não são venenosa, como a caninana, ela tem a fama de ser brava mas não é, ao contrário ela é mansa e foge sempre que avistada, ela tem a cor amarelada com algumas manchas pretas, primeira coisa que deve fazer se encontrar uma serpente é manter a calma, deixar que ela se vá, não tentar enxotar, uma cobra por mais que não seja venenosa nunca se deve mexer com ela. Não fica com medo, eu estou sempre por perto para te proteger.

_ Viu só... está se oferecendo para ser o meu herói.

Roger me beijou, era um beijo cheio de entrega, um beijo que parecia dizer mais do que as palavras conseguiria expressar.
Voltamos para o curral e trabalhamos, alimentamos os animais, colocamos água para eles beber, depois fomos ao estábulo e cuidamos dos cavalos, ele até tentou me ensinar a galopar com ele, a rotina foi como todos os dias de trabalho, e retornamos a casa na hora do almoço, no dia seguinte a mesma coisa, quando foi na quinta-feira dona Brenda avisou:

_ Hoje o Roger não vai com você trabalhar, ele e eu iremos a casa de uns amigos e você terá que fazer todo o trabalho sozinho, tem algum problema Jordan?

_ Não senhora, eu acho que dou conta.

_ Não se preocupe com isso Brenda, hoje eu irei trabalhar com o meu filho, faz tempo que não faço o trabalho duro e é uma oportunidade de ficar mais tempo com ele.

A voz de Douglas soou atrás dela, e sua expressão no mesmo instante se fechou, já Roger exibiu um sorriso ao pai. Como todos os dias eu fazia fui alimentar os animais e quando peguei o feno verde, avistei ela, ela se rastejava bem próximo de onde se encontrava o feno, era uma serpente grande de uns dois metros aproximadamente, imediatamente a conversa com Roger me veio a mente e procurei manter-me calmo embora era difícil ao ver uma cobra tão grande pela primeira vez, eu nunca tinha estado perto de uma antes e agora estava frente a frente a uma, vi quando Douglas levantou ambas as mãos fazendo sinal para que eu me mantivesse calmo e em um movimento muito rápido segurou a cabeça da réptil e seu rabo, deixei escapar um suspiro que até então estava prendendo:

_ Fica calmo, essa serpente vez ou outra aparece por aqui, mas ela não é venenosa, lógico qualquer serpente tem seu perigo, e pode trazer sintomas desagradáveis, mas essa não é venenosa, mas não entendo como ela veio parar aqui nessa época do ano, justamente a caninana é uma serpente solitária ela não costuma fazer ninho por isso é estranho que esteja por essa área. Mas ainda bem que eu estava por aqui com você meu filho, se não conseguisse manter a calma poderia tê-la assustado e fatalmente ela teria te picado. Normalmente um animal ataca quando se sente ameaçado.


_ É... ainda bem que estava por aqui Douglas, eu nunca havia visto uma cobra tão perto assim.

_ Ela precisa voltar para o habitat dela.

_ Você não vai matar?

_ Não... ela não causa risco a ninguém... como disse ela não é venenosa.

Quando nos reencontramos com Roger e sua mãe e Douglas contou a eles o que tinha acontecido percebi que Roger mal conseguia me olhar, enquanto eu o encarava, era estranho uma serpente ter aparecido fora do tempo e justamente a mesma que ele havia me descrito, ainda assim aquilo não me pareceu tão suspeito como a reação de Roger ante aquela informação que Douglas lhe dava.


O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora