Flagra-20

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Perceber o quanto era difícil para Roger decepcionar Douglas e dona Brenda me dava uma ideia do quanto seria demorado o processo até ele ter a coragem para assumir a nossa história, ele estava agitado, andando de um lado a outro, resmungando de algo quase que inaudível que se eu não tivesse bem atento poderia não escutá-lo:

_ É minha culpa, como vou dizer isso ao meu pai?

Vendo ele se torturando daquela maneira foi me agoniando e eu o segurei pelos ombros fazendo ele parar:

_ Roger... olha pra mim, você não teve nenhuma culpa, para de se culpar por algo que não fez.

_ E quem fez Jordan?... o Napoleão está morto, sacrificado por uma negligencia minha, se eu tivesse verificado tudo. Ao invés de ter ido ao rio com você eu deveria ter verificado se estava tudo bem com os animais.

_ Então a culpa é minha, não sua, foi eu que te arrastei para o rio.

_ Não seja bobo Jordan, eu que sou responsável por esses animais.

_ Não entendo o porquê, afinal essa fazenda é tão minha como sua, não foi isso o que o Douglas disse, então eu sou tão responsável por isso quanto você.

_ O que está em questão não é quem é o responsável aqui, esse cavalo já estava velho, era um animal doméstico, não tem tanta valia, a questão é que eu tinha que cuidar melhor da alimentação e não ficar me distraindo por aí.

_ O que você está querendo dizer com isso?

_ Que não posso mais me distrair, hora de trabalho é hora de trabalho Jordan, eu não posso me descuidar.

_ Sem rio?

_ Sim... Sem rio... mas ainda temos o seu quarto a noite.

_ Nosso tempo já é tão curto.

Ele me beijava quando ouvimos um som de batidas de palmas, olhamos imediatamente na direção para olhar quem havia nos descobertos, Roger se separou de mim no mesmo instante se afastando, o pavor estampado em seu rosto por ter sido flagrado naquele momento.

Eu tentava me lembrar de onde havia visto aquele rapaz e puxando pela memória eu recordei, sim era ele, era o mesmo rapaz que no dia da quadrilha conversava com dona Brenda e Roger:

_ Que lindo casal.

_ Zulu... o que faz por aqui?

Entre assustado e irritado Roger lhe perguntava:


_ Ando fazendo uns servicinhos para sua mãe, mas fui surpreendido com essa cena linda de vocês. Juro fiquei comovido a ver e ouvir gestos e palavras tão reveladoras.

_ O que você quer para se manter de bico calado?

Nesse momento meu olhar procurou o de Roger que ainda olhava diretamente na direção do outro:

_ Fala logo quanto quer para esquecer tudo o que viu e ouviu aqui.

_ Relaxa Roger... precisamos negociar com calma, eu te procuro não se preocupa, agora curte aí mais um pouco com o rapaz, ou só terão tempo no quarto dele.

Ele saiu rindo, e Roger chutou a porta da cocheira com tudo:

_ Hoje nada está certo...

_ O que significa isso, você vai pagar para esse cara não contar que nos viu aqui juntos, não precisa ser assim?

_ Você quer que eu faça o que?

_ Vamos sentar com o Douglas e sua mãe e dizer o que sentimos um pelo outro.

_ Você não entende Jordan... eu não posso.

_ Não pode ou não quer?

_ Não posso, eu quero muito, mas não posso, eu não sei como o meu pai vai ver nós dois juntos, mas a minha mãe jamais vai aceitar, eu não posso decepcioná-la, você teve a sua mãe Jordan, você mesmo disse que ela era a pessoa mais importante para você, eu não tive mãe, fui abandonado assim que nasci, a mãe que eu conheço é a Brenda, ela me deu amor, me deu um lar, me deu um pai, me deu uma família, eu não posso simplesmente esquecer tudo isso de uma hora para outra.

_ Eu não quero que esqueça, nem quero dividir a família que ela te deu, eu quero somar.

_ Minha mãe jamais aceitará, ela te ver como alguém...

_ Como alguém?

_ Ela te vê como uma ameaça, como alguém que ela quer bem longe. Ela te odeia Jordan.

_ Mas o que eu fiz para que ela me odeie tanto?

_ Você é filho da Rebeca Alexsander, meu pai sempre amou a sua mãe e minha mãe sabe que ele se casou com ela forçado, você lembra quando eu falei que muitos casamentos por aqui acontece por causa de negócio, então meus avós paternos fizeram um acordo com os pais da minha mãe, foi assim que eles se casaram.

_ Você está dizendo que o Douglas deixou a minha mãe para se casar com a sua mãe por que os pais deles obrigaram?

_ Exatamente, mas meu pai nunca esqueceu a Rebeca, minha mãe achou que uma gravidez mudaria a situação, ela engravidou mas a criança não vingou, então ela tentou durante quatro vezes mais, porém, nenhuma criança vingava em seu ventre, até que por sugestão do meu pai eles resolveram adotar uma criança. Essa criança sou eu Jordan.

_ Você não entende que a nossa história toda poderia ser diferente se o Douglas se rebelasse e vivesse o amor que ele sentia por minha mãe?

_ É muito fácil julgar o certo e o errado Jordan quando não se está na pele do outro, o meu pai, não sabemos o que levou o meu pai decidir se casar com a minha mãe, eu não sei a pressão que ele teve que passar, mas no meu caso eu não quero magoar nenhum dos dois, eu devo tudo a eles, tudo o que eu sei, tudo o que eu sou eu devo a minha mãe e a meu pai.

_ E para não magoa-los vai viver para sempre na clandestinidade, se escondendo, escondendo seus sentimentos?

_ Se for preciso sim, se a pessoa que tiver comigo gosta de verdade de mim vai me entender.

_ Você quer que eu aceite ficar para sempre te esperando no quarto com a porta encostada, enquanto você espera seus pais dormir?

_ No momento é isso Jordan, e agora tenho que ver o que o Zulu vai querer para manter a boca calada.

_ Quanto a isso não se preocupa, o que ele pedir eu pago. Eu pago para ele esconder que quero ficar com você.

_ Não faz assim... essa pressão não vai nos ajudar.

_ Desculpa se quero estar com você.

_ Acha que eu também não quero Jordan, acha que eu me envolvi com você por capricho ou algo assim, que bom seria se fosse isso, eu não me sentiria tão mal nesse momento, nós acabamos de ser pego por não conseguir controlar essa necessidade que tenho de estar com você. Por favor, hoje tudo deu errado, não vamos brigar, eu preciso de você. 

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora