Fica...-6

629 32 4
                                    

Antes de sair ele apontou uma prateleira com alguns itens de higiene pessoal. Sozinho ali eu dei uma rápida olhada no lugar, era bem rústico, tinha alguns produtos, como escova de dentes, shampoo, coisas assim, não tinha loção pós barba, cremes para pele, nada sofisticado, segurei espantado a bucha de sabugo de milho na mão perguntando a mim mesmo:

_ O que é isso?

Coloquei de volta no lugar, olhei de um lado a outro para ver se tinha alguém por ali, eu estava mesmo sozinho, então comecei a tirar minha jaqueta de couro, puxei o ar ao respirar e senti o odor que vinha do meu coturno que tive que recolocar no pé, de fato eu precisava de um bom banho.


Como Roger lhe ensinou ele bombeou a bomba três vezes para saber se saia água mesmo, ou se o rapaz apenas havia lhe pregado uma peça, e não é que daquela gerigonça saía água mesmo, tomou o banho mais rápido que se lembrou de ter tomado em seus vinte anos.

Ao seu retorno a casa, chego bem a tempo de escutar a mulher dizer:

_ Douglas eu não aceito isso.

_ Não tem o que se discutir, ele ficará você querendo ou não.

_ Você acha isso certo Douglas, aceitar o filho de outra mulher dentro da minha casa?

_ Ele é meu filho Brenda... e a Rebeca não é nenhuma ameaça a você.

Resolvo não me intrometer no assunto deles, e acabo sentando na cadeira de balanço e fecho os olhos, por essa razão não percebo a aproximação do rapaz só me dando conta quando ele já está ao meu lado sentado na outra cadeira:


_ Fazia meses que eles não brigavam.

_ Vocês são ótimos quando se tratam de boas-vindas.

_ Acredite, eu peguei leve, mas minha mãe não será tão generosa com você quanto eu fui.

_ Se a comitiva de entrada veio como um vulcão, acredito que o enredo virá com fogo e trovoada.

Pela primeira vez o rapaz me olhou com um pouco de simpatia, e pude perceber o quanto ele era bonito, seus olhos complementava o casamento perfeito com o ornamento do resto de seu rosto.

_ Vamos... o almoço já está pronto.

O clima não podia está mais pesado, a mulher silenciosa mexia em seu prato sem levar o talher nenhuma vez a boca, já Douglas ao contrário embora silencioso ocupava sua boca seguida vezes com a alimentação, o único que me olhava era Roger que moderadamente esvaziava seu prato, e eu que já não estava com fome, se tivesse teria perdido totalmente o apetite.

Já no final do almoço foi que a mulher ergueu o olhar, e sem nenhuma cerimônia disse:

_ Você pretende ficar aqui durante muito tempo, para poder ganhar a herança que sua mãe lhe deixou, meu marido e meu filho já explicou, mas eu não sei e não vou engolir sapo, sua presença aqui me incomoda.

Douglas bateu com a palma da mão forte sobre a mesa:

_ Brenda... para com isso.

_ Não!

_ Você tem que entender que essa fazenda também pertence a ele, ele é o meu filho tem direitos sobre esse lugar tanto quando o Roger.

_ E quem garante que ele seja seu filho mesmo, fizeram algum exame comprovando?

_ Senhora... eu sei que a situação é complicada, eu sinto que a senhora me veja como intruso na sua casa, e juro eu entendo, é desconfortável para mim também, mas não permitirei que ofenda a minha mãe, eu tenho certeza de ser filho do seu marido por que minha mãe não mentia para mim.


_ Segundo o que eu soube ela mentiu ao dizer que o Douglas havia morrido.

Me levantei da mesa no mesmo instante, olhei para Douglas dizendo:

_ Isso não vale a pena... eu agradeço as horas em que passei aqui, mas eu não preciso disso, estou voltando para minha casa.

_ Você não vai a lugar algum filho.

_ Você não manda em mim. Por favor só diga onde está as minhas coisas?

Peguei as minhas coisas e já estava saindo quando Roger me chamou:

_ Jordan... Jordan espera.

_ O que você quer?

_ Por favor não vai... vamos conversar, deixa eu te explicar tudo o que aconteceu.

_ Aconteceu que a educação aqui é bem rústica, mas a culpa é minha por querer cumprir o último desejo da minha mãe.


_ Meu pai é tudo para mim... por favor me escute.

A maneira como o rapaz me pedia fez com que eu parasse os passos e o olhava:

_ Tá... mas garanto não vai me convencer.

Sentamos ali mesmo na grama e ele começou a dizer:

_ Meu pai guarda até hoje uma fotografia da sua mãe na carteira dele, minha mãe sabe... ela nunca confrontou ele com medo do que ele lhe diria, mas ela sabe que meu pai amou a sua, por isso você é uma afronta para ela entende. Eu não sei o motivo que fez com que meu pai se casasse com a minha mãe e não com a sua, mas ele sempre teve o desejo de ter um filho, porém minha mãe nunca segurou nenhuma gravidez, todas as vezes que engravidou ela teve abortos espontâneos então os dois resolveram me adotar, ele sempre me tratou como um filho verdadeiro, me ensinou tudo o que eu sei, eu sei que minha mãe me ama da maneira dela, mas os anos a tornara uma mulher amargurada, e eles brigam por qualquer motivo, a trégua de alguns meses estava firmada mas aí você chegou e foi o estopim para mais uma infindável batalha entre os dois.

_ Mais um motivo para que eu ir.

_ Você não entendeu nada... o meu pai sempre desejou um filho.

_ Ele tem você.

_ Eu não tenho o sangue dele... sou filho mas não legítimo, você é... eu vi o brilho no olhar dele assim que você revelou ser filho dele, e se não bastasse isso, você é filho da mulher que ele tanto amou, você não percebeu quando você disse que ela havia morrido como ele ficou?

Ele pausou a fala por um instante, deitando-se sobre a grama apoiando a cabeça com a mão:

_ Fica... ele te quer aqui.

_ Mas e a sua mãe?

_ Tem medo de cara feia, achei que os cabra da cidade grande fosse mais corajosos.

Ele se levantou e já foi caminhando de volta para casa, e eu o olhava incrédulo com o que acabara de ouvir.

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora