Dessa vez foi eu que chutei a porta do estábulo, porque ele fazia isso, eu que queria gritar aos quatro cantos que o desejava tinha agora que pagar para esconder o que sentia, isso não era justo comigo, não era justo com ele, não era justo com ninguém:
_ Droga, por que somos obrigados a esconder o que sentimos se é algo tão bonito, tão puro.
_ Eu sei exatamente como se sente. Eu vou arranjar um jeito de ficar mais tempo com você, eu prometo.
_ Não promete aquilo que não pode cumprir, o nosso tempo é escasso e temos que aproveitar de cada segundo, você tem razão não vamos perder tempo brigando.
Ele segurou meu rosto com ambas as mãos e puxou-me para juntar nossos lábios, dessa vez não houve língua e nem foi um beijo demorado, ele apenas encostou os lábios sobre o meu e depois ficamos um tempo com as nossas testas encostadas em silêncio, depois de uns minutos ele quebrou o silêncio dizendo:
_ Vamos... precisamos avisar o meu pai sobre o Napoleão.
Roger caminhava na frente eu o seguia, rapidamente chegamos a casa onde Douglas estava sentado na poltrona de couro que ficava em frente ao aparelho televisor:
_ Pai... precisamos conversar.
_ O que foi Roger, algum problema, está tão sério?
_ Foi o Napoleão.
_ Aquele cavalo velho... o que houve?
_ Eu o sacrifiquei.
Antes que Douglas conseguisse dizer algo a voz de dona Brenda se precipitou:
_ O que houve Roger... o que te levou fazer o sacrifício?
_ Ele estava doente.
_ Doente... doente como Roger, nenhum cavalo adoece assim do nada, primeiro eles dão sinais.
_ Eu não reparei mãe.
_ Impossível Roger, eu te conheço e sei como é cuidadoso com os animais.
_ Eu simplesmente não reparei que ele comeu feno estragado.
Douglas levantou-se nesse instante olhando para Roger:
_ Como assim feno estragado?
_ Eu sinto muito pai.
Eu interrompi:
_ Não foi culpa dele, a culpa é minha Douglas.
_ Espera, me expliquem melhor como isso aconteceu.
_ Eu estava responsável de trocar o feno e não sei acho que não percebi que a dias não trocava a alimentação do Napoleão.
_ Foi apenas o Napoleão?
_ Sim pai.
_ Jordan eu sei que você errou, com a alimentação dos animais devemos ter muito cuidado e temos que ser rigorosos quanto a isso, mas entendo que a falta de experiência em fazer essa atividade foi predominante para que isso ocorresse, mas o erro foi meu, eu pedi ao Roger te deixar fazer serviços leves e não vigiar para que você não sentisse pressionado, o Napoleão era um cavalo velho não valia muito.
_ Eu posso ressarci você Douglas, podemos comprar o melhor cavalo, um outro manga-larga se desejar.
_ Jordan essa fazenda pertence a vocês dois, tudo o que tem nela pertence a vocês, você não precisa me ressarcir de nada, mas se quiser comprar um manga-larga para ampliar o patrimônio de vocês é uma decisão que considero sábia, mas não se preocupe tanto com o cavalo que morreu.
_ Sempre passando a mão na cabeça dele, não reclame quando ele colocar essa fazenda abaixo.
_ Chega mãe...
Tanto Douglas, como eu, nos surpreendemos a ouvir Roger repreender a sua mãe:
_ A responsabilidade de cuidar dos animais sempre foi minha, ainda que o Jordan tenha colocado o feno para os animais comerem, mesmo assim eu devia estar atento, se tem alguém que tem culpa aqui pelo que houve sou eu.
Dona Brenda olhava para Roger com uma expressão perturbadora, suas pálpebras estavam semicerradas e ela tremia seus lábios como se quisesse dizer algo, mas se controlava ao máximo para resistir. De repente ela ergueu o queixo altiva e virou-se e se foi deixando Douglas, Roger e eu ali, eu estava totalmente aturdido com o que havia acontecido.
Não sei se arrependido ou se apenas para falar com dona Brenda, Roger a seguiu, sem nem mesmo avisar que sairia, fiquei ainda mais alguns minutos com Douglas pedindo licença para ir para o quarto.
Quando fui chegando ao corredor que dava para os quartos eu escutei vozes, duas pessoas discutiam uma discussão ferrenha, imediatamente reconheci a voz masculina era Roger, e a voz feminina era sua mãe, dona Brenda:
_ Chega mãe, a senhora já está passando dos limites, esse ódio que tem por ele não tem o menor sentido.
_ Você acha que não tem sentido... não vê como seu pai o defende, ele pode errar que seu pai passa a mão na cabeça dele.
_ Ele não errou mãe e nós dois sabemos disso. Ele não tem culpa do amor que o papai sentia pela mãe dele.
_ Ele pode não ter culpa do que seu pai sentiu, mas tem culpa de fazê-lo lembrar dela todos os dias. É por isso que eu o odeio, o odeio com todas as minhas forças, e você tem que me ajudar a fazer ele ir embora para nunca mais voltar. Você me deve isso Roger, você me deve.
Nesse momento os passos de Douglas os alertaram e dona Brenda enxugou as lágrimas que tinha deixado escorrer por seu rosto. No entanto eu me escondi, eu não quis aparecer diante de Roger naquele momento e deixar que ele soubesse que eu havia escutado parte da sua conversa.
Dona Brenda entrou no quarto acompanhado de Douglas e Roger entrou no dele, e eu fiquei ali digerindo toda aquela conversa, que dona Brenda me odiava eu já tinha noção, só não imaginava o quanto ela odiava e ouvi-la dizer com sua própria boca, foi algo mais chocante do que eu imaginava que seria. Contudo ver Roger questionando o comportamento de sua mãe me dava a esperança de que um dia ele conseguiria se libertar de vez de toda a manipulação que ela lhe impunha.
Ouvir ela lhe dizer que Roger lhe devia algo e que ele deveria fazer algo para que eu fosse embora de vez era algo tão esdrúxulo que eu ficava horrorizado, eu precisava digerir bem tudo aquilo para entender o que de fato tudo aquilo significava.
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O amor acontece devagar
RomansaDiante dos desafios que a vida lhe impõe, há algumas surpreendentes, imagine você a descoberta de um pai que você supõe que estivesse morto aparecer em sua vida após vinte anos. Após a morte de sua mãe, Jordan descobre a existência de um pai durante...