Para que lado o pêndulo pende mais?-14

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Quando conseguiu se livrar do meu pai, Jordan veio até mim, encostando seu ombro no meu, aquele simples toque me arrancou um suspiro que parecia que a tempo eu estava prendendo.

_ Enfim consigo chegar perto da única pessoa que queria estar próximo.

_ Meu pai tem orgulho de você, apresenta-lo aos amigos é a forma dele te dizer isso.

_ Eu sei, o Douglas é um homem legal e eu gosto dele, mas é difícil para mim vê-lo como pai ainda, talvez um dia eu consiga. Mas eu vi que enquanto eu me distraia em falar com os velhos fazendeiros da redondeza uma certa moça vestida de noiva caipira veio cortejar você.

_ É isso o que somos para você Jordan?

_ Isso... isso o que?

_ Caipiras... é isso o que pensa?

Me virei para ele o encarando, ele que não entendeu nada da hostilidade em minha voz:

_ O que deu em você?

_ Nada Jordan, desculpa, você não tem culpa, me desculpa.

_ Me dá um beijo como forma de desculpa.

_ Tá louco, tá todo mundo olhando para nós.

_ Eu estava brincando para ver se descontraia, não precisa se alterar.

Ele foi caminhando na frente, na direção de uma das barracas de salgados, até que foi brecado por Eloá. 
Eles conversaram por alguns segundos e eu percebia que ela literalmente se jogava em cima dele, era fácil decifrar pelas expressões em seu rosto que ele queria se livrar daquela conversa, porém, ela saiu puxando Jordan para o chão empoeirado onde outros casais arrastavam os pés, levou ambas as mãos dele em sua cintura colando seu corpo ao dele e circulou as mãos em torno do pescoço dele, movendo-se ao ritmo da música, de longe eu observava aquela cena, quando percebi estava com a unha cravada na palma da minha mão de tanto que apertava os punhos.
A noite de Jordan foi bem agitada, as garotas praticamente o disputava a tapas para saber qual seria a sua parceira de dança na próxima música, mal tive um minuto a sós com ele.
Em outras circunstâncias eu até iria livra-lo daquela saia justa a qual Eloá o havia colocado mas minha cabeça estava a mil, eu tinha que arranjar uma maneira de me livrar daquela incumbência, eu sabia que era loucura concordar com a atitude da minha mãe, mas se negasse eu colocaria Jordan diretamente na mão de Zulu e eu tinha medo do que Zulu e minha mãe era capaz de fazer.
Eu odiava estar naquela posição, onde qualquer partido que tomasse iria me magoar e magoar uma das pessoas a quem eu tanto me importava, amava minha mãe, mas também me importava muito com Jordan, de qualquer jeito eu perderia.

Quando enfim retornamos para casa, meu pai nos chamou dizendo que precisava conversar com nós dois, minha mãe foi direto para o quarto:

_ Eu pedi para conversar com os dois, por que vejo que vocês se tornaram grandes amigos e isso me alegra bastante, ver que os meus dois filhos se dão bem. Como sabem eu hoje fui ver um advogado para mudar o meu testamento, e passar essa fazenda para a mão de vocês dois, vocês são irmãos e vão ter que gerenciar essa fazenda em acordo.

_ Douglas nós não somos irmãos.

_ São sim Jordan... não são irmãos de sangue isso é, mas os dois são meus filhos, então são irmãos sim, eu sei que você ainda não me vê como pai, mas aos poucos tenho certeza de que o sangue falará mais alto e você vai quebrar essa barreira invisível que você criou.

_ Essa fazenda significa muito para o Roger.

_ E para você Jordan, ela não significa nada?

_ Douglas, eu não sou daqui... vim para cá por um último desejo da minha mãe.

Interrompi a resposta dele com a pergunta:

_ Então nada aqui te importa?... se fosse hoje, se já tivesse passado os cinco anos... iria embora, sem olhar para trás?


Eu me continha, mas minha vontade era gritar que eu estava ali, que estava gostando dele de verdade e isso não significava nada para ele, aquela noite que tivemos não havia significado nada?
Eu o olhava insistentemente esperando uma resposta:

_ Não tem nenhum ano que eu estou aqui, em cinco anos pode acontecer tanta coisa.

_ Não foi isso o que eu perguntei. Mas quer saber deixa para lá, acho que eu sei qual a resposta.

Jordan mordia compulsivamente o lábio, mas não foi capaz de desmentir ou tentar argumentar o que eu lhe perguntei. Somente quando meu pai foi para o quarto que ele se virou para mim dizendo:

_ O que exatamente foi isso?

_ Que pergunta ridícula essa Jordan, até parece que não sabe do que se trata.

_ Não estou dizendo apenas da conversa com o Douglas, essa noite inteira foi confusa, você me ignorou, me deixou ser arrastado pelo Douglas para ser apresentado a uns fazendeiros e ficou falando com a sua mãe e um outro rapaz, e quando cheguei perto fez uma cena esdrúxula e por fim me deixou ser arrastada para dançar sendo que eu não sabia e não queria me prestar a esse papel, e agora isso, quem está sendo ridículo aqui Roger?


_ Você tem razão, me perdoa. Me perdoa Jordan.

Ordenei por um minuto que meus pensamentos se acalmassem, e o abracei, estar em seus braços me tranquilizava, estava predisposto a viver tudo aquilo com Jordan até que o plano  que mãe elaborara fosse colocado em prática e findasse aquele sonho.

Aquela noite como várias outras nós dormimos juntos, e próximo ao amanhecer eu voltava para o meu quarto afim de que meus pais não descobrissem o que acontecia entre nós bem diante do teto deles. Eu as vezes me perguntava como seria a reação do meu pai quando esse segredo viesse a ser descoberto, já minha mãe nem gostava de imaginar o que seria capaz de dizer, por que fazer eu já sabia o que exatamente ela era capaz.

Agora era a hora de decidir, não podia ficar pra sempre em cima do muro, ou se decide para um lado ou para o outro, eu estava entre minha mãe e Jordan, e o desafio era saber para que lado o pêndulo pendia mais. 

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora