As primeiras impressões-4

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Não me lembro de experimentar uma sensação mais ruim do que a que estava sentindo, quando ali naquele hospital recebi a pior notícia que poderia receber, o meu espírito se transformava em um terrível desalento, minha mãe, minha querida mãezinha, ela partira, tento ser forte, mas o lamento da minha alma grita mais forte e choro, choro feito uma criança que precisa de colo. Minha mãe era tudo para mim, e um terrível acidente a tirou de mim.

Eu quis me isolar, quis fugir para ninguém me encontrar, mas todos se reunirão em volta de mim, gostariam de saber como eu estava... como poderia estar se acabo de perde-la?

Sinto-me fragilizado, pela primeira vez sinto o chão se abrir diante de mim e a sensação que tenho é que ele quer me engolir, mas a todo instante sinto-me amparado por Bryan e dois empregados muito chegados, até mesmo um tio mas afastado vem alastrar palavras de confortos.


A cerimônia fúnebre, foi bem íntima, apenas os conhecidos mais chegados estavam ali, Bryan foi quem conduziu algumas palavras:

_ Quem teve oportunidade de conhecer a Rebeca, conheceu a bondade, a confiança, e a transparência, por que era isso o que a Rebeca era, amiga... leal... linda por dentro e por fora. Mas de todos os bens que ela teve, de todos os bens que ela conquistou durante sua vida, o que eu tenho plena certeza que era o bem maior está aqui no nosso meio, e se estamos aqui por motivo que a amamos, devemos cuidar desse bem maior que ela deixou que é o seu filho adorado Jordan. Filho você não está sozinho, eu sei que cada pessoa que está aqui na despedida de sua mãe, vai te apoiar por onde estiver por amor que tínhamos a ela que agora transferimos para você.

Não tinha quem não chorasse com as palavras de Bryan, eu o abracei forte. Mas esse nem foi o momento mais difícil, difícil foi enfrentar o silêncio do depois quando voltei para casa e não a encontrei, não voltaria a encontra-la, não a veria ela nunca mais.

Três meses depois era o dia marcado para a leitura do seu testamento e foi nesse dia em que descobri que tinha um pai, e que a última vontade de minha mãe era que eu o conhecesse, confesso que dentro de mim há uma mistura de alegria e medo, alegria por toda a expectativa de saber como ele é, e como será a sua reação quando souber da minha existência, mas ao tempo tenho medo de como ele me receberá, de como será essa aproximação, eu não sei nada a seu respeito, imagino que será um choque para ele saber de mim, assim como foi um choque para mim saber dele.

A minha despedida com Bryan foi cheia de emoção, eu estava indo cumprir a última vontade de minha mãe. Jantei em sua companhia aquela que seria a minha última noite na cidade, no dia seguinte eu estaria já na fazenda, não sabia o que me esperava por lá até que adentrei aqueles portões da fazenda "A terra Prometida".


Fui invadindo sem pedir permissão, olhando de um lado a outro para ver se avistava alguém, mas o lugar estava deserto, de repente senti que pisei em algo, eu não acreditava naquilo, eu havia pisado em um punhado de estrume, fechei os meus olhos evitando olhar para a bota coturno que tinha nos pés e agora estava impregnada com aquele odor nada agradável:

 _ Tá de brincadeira... eu não acredito nisso.

E para piorar a situação me aparece um roceiro com uma carabina de pressão apontada para mim:

_ Quem é você?

O rapaz me olhava com uma expressão dura, ainda apontando o rifle na minha direção:

_ Está perdido, a estrada está do outro lado, essa é uma propriedade privada e você não pediu autorização para invadi-la.

_ Calma aí amigo.

_ Eu não sou seu amigo, você invadiu a minha propriedade e é melhor que fale o que quer rapidamente antes que eu resolva tirá-lo a bala.


Jordan quase explodiu de rir, onde ele havia amarrado o boi dele, pensou em sua mãe e respirou fundo:

_ Eu estou procurando uma pessoa, Douglas... Douglas Teixeira, você o conhece?

_ O que você quer com ele, o que quer com o meu pai?

_ Seu pai?

_ É surdo ou o que... eu perguntei o que quer com Douglas Teixeira, por qual motivo o procura?

_ É um assunto particular...

Ele analisava por alguns minutos, depois acabou abaixando o rifle dizendo:

_ Vem... vem comigo te levarei até o meu pai.

_ Então ele é mesmo o seu pai?

_ Sim.

A resposta monossílaba não deixava espaço para uma conversa, segui o rapaz em silêncio até que chegamos a porta de entrada:

_ Tire os sapatos, minha mãe não vai gostar nenhum pouco se levar esse cheiro lá para dentro.

Notei que ele tinha um sorriso de triunfo no rosto ao dizer as palavras, mas de fato o coturno que eu usava estava inutilizável:

_ Caramba que estrago. Meu coturno novinho e agora tenho que jogar fora.

_ É bosta moço... saí com água...

_ Mas o cheiro ficou impregnado.

_ Ah claro o riquinho,  jamais usará uma botina com cheiro de estrume. Da próxima vez olhe para o chão ao invadir uma propriedade.

_ Você está enganado ao meu respeito.... eu não...

Ele nem terminou a frase, a chegada de uma mulher interrompeu-os, o jovem se aproximou dela, dando um beijo em seu rosto:

_ Bom dia mãe, esse rapaz está aqui para ver o papai.

A mulher me olhou de cima a baixo sem dizer uma palavra, depois virou-se para o outro e respondeu:

_ Seu pai está no escritório, leve-o até ele.

Mais uma vez o segui por um corredor, ele parou em frente a uma das portas, batendo levemente sobre ela, de lá de dentro se ouviu uma voz forte:

_ Entra!

O rapaz abriu a porta sorrindo ao homem:

_ Pai... tem um rapaz querendo te vê.

_ Que rapaz meu filho?

O jovem me deu passagem e eu adiantei os meus passos:

_ Você não me conhece ainda... mas eu sou seu filho.

Ambos os homens me olharam e trocaram um olhar em seguida em silêncio:

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora