A surpresa arruinada-16

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O principal assunto da noite foi de fato o aparecimento daquela serpente fora de época, Douglas estava deveras incomodado, entretanto Roger nada dizia, se manteve calado o tempo todo, oras olhava para a mãe, que também estava monossílaba. Me peguei mordendo o canto dos lábios duas ou três vezes durante a conversa. De um certo modo eu temia o que se passava na minha mente, lógico que aquilo havia sido coincidência, não tinha como Roger prever que aquilo aconteceria, somente se ele conseguisse prever o futuro que ele saberia que exatamente uma cobra como ele descrevera apareceria por ali, isso era de fato ridículo. Tratei logo de tirar aqueles pensamentos da cabeça, quando enfim consegui ficar a sós com Roger ele perguntou preocupado:

_ Você está bem?

_ Estou, nada aconteceu. Não se preocupe.

_ Eu juro eu não me perdoaria se algo tivesse acontecido.

Roger definitivamente parecia esgotado, por essa razão tratei logo de traze-lo aos meus braços o apertando sobre seu corpo que tremia em um choro compulsivo, não ousei dizer uma palavra até que ele se acalmasse. Mesmo que não houvesse palavras com aquele silencio eu queria demonstrar que estava ali, seguro em parte por causa dele que me explicou como proceder diante daquela situação, talvez se ele não tivesse de certo modo me alertado e explicado eu tivesse me apavorado e aí sim aquela serpente ter atacado, apenas quando ele voltou ao seu estado normal foi que eu quebrei aquele silêncio:

_ Em partes eu devo tudo isso a você...

_ O quê!

Ele emitiu um tanto assustado o que me fez rir:

_ É eu devo ter saído bem dessa história devido a nossa conversa de dias atrás, eu lembrei que você disse as características da cobra caninana e eu confesso que me assustei com o tamanho dela, mas lembrei que você disse que ela não era venenosa.

Como um apelo mudo ele simplesmente calou minha voz com um beijo.

Com o passar dos dias aquele episódio acabou sendo ignorado, e totalmente esquecido, afinal nenhuma outra cobra apareceu por ali, então o assunto foi deixando de ser importante. Havia sido apenas um acidente aparecer uma cobra por ali, coisas da natureza que não tinha explicação.
Mas passadas alguns meses algo estranho aconteceu, Douglas reclamou de um dinheiro que havia sumido de sua carteira, semanas depois um novo desaparecimento trouxe à tona uma nova discussão, Douglas havia notado que alguém havia mexido em suas coisas e pego um relógio que era de seu pai, segundo ele o relógio não tinha valor rentável, mas tinha grande valor sentimental:

_ Brenda alguém diferente entrou aqui em casa?

_ O que você está insinuando Douglas que eu trago alguém de fora para nossa casa?


_ Não é nada disso mulher, deixa de ser louca, mas é impossível que esse relógio tenha desaparecido do cofre assim.

_ Até por que só tem nós quatro aqui né Douglas, e nunca sumiu nada daqui, você tem certeza de que procurou direito esse relógio?

_ Claro que sim, eu sempre deixo no mesmo lugar, assim que abro o cofre já o avisto, mas ele não está lá.

_ Então alguém pegou, mas quem se só você tem a senha desse cofre?

_ Isso tá estranho, uma hora ou outra eu descubro quem anda fazendo isso.

Brenda não era o tipo de mulher que me acusava de ser o autor desses furtos que estava acontecendo por ali, mas ela insinuava, jogava com as palavras, e embora Douglas nunca me dissesse nada, embora ele nunca me acusasse, eu me sentia incomodado com aquilo, me sentia vigiado por Brenda e a única pessoa que me acalmava era Roger, ele procurava desanuviar as tensões que pairava no ar.
Muitas vezes irritado com aquela situação eu ficava olhando para fora da janela e ele se achegava por trás encostando seu corpo ao meu e beijava minha nuca, aquilo não apenas fazia com que eu esquecesse todo o resto como também me fazia experimentar sensações jamais sentida, sim pois cada toque dele, cada beijo, cada carícia me causava uma sensação nova.
Não tínhamos lugar certo para nos entregarmos, sempre que tínhamos vontade, fosse no rio, fosse na baía, fosse onde fosse nos amávamos sem reserva, e ali no meu quarto quando ele vinha furtivo era ainda mais gostoso.

Contudo eu percebia uma discrepância entre Roger e sua mãe, já havia pegado eles em uma divergência duas ou três vezes, e quando questionado ele nunca dizia o motivo, porém, sempre ficava chateado, coisa que eu odiava ver. Aos poucos as coisas foram se acalmando, não houve mas sumiço de nada, era um ano de calmaria.

Um ano... já se passou, um ano que estamos juntos e que a cada dia gosto mais dele, já sinto o cheiro do seu perfume mesmo que ele esteja distante, já consigo distingui-lo, um ano que me arrepio com seus beijos em minha nuca, ou que me delicio quando ele tateia o meu corpo com toques bem suaves.
Eu estava feliz, ainda que não ouvisse mais o ronco das motos, as buzinas dos carros, eu estava feliz pelo simples fato de que estava ao seu lado, Roger havia realmente conseguido me fazer gostar daquele lugar que outrora eu o consideraria pitoresco.

Nem mesmo dona Brenda conseguia tirar o meu animo, como completaríamos um ano juntos resolvi lhe fazer uma surpresa, era algo simples pois também não podíamos fazer algo grande que levantaria suspeitas, mas eu desejava comemorar aquele momento, então decidi por um piquenique. Pedi a Douglas a caminhonete emprestada e fui a pequena cidade onde comprei algumas guloseimas, uma cesta, uma toalha, garrafa térmica entre outras coisinhas, fui até o rio e arrumei tudo bonitinho, agora tudo o que tinha que fazer era buscar Roger para passarmos algumas horas ali só nós dois curtindo aquela data, fui procura-lo no curral, mas não o encontrei, fui no estábulo mas ele também não estava nas cocheiras, retornei para casa afim de saber se ele estava por ali e o encontrei de conversa com Sandrinha a noiva caipira, dona Brenda estava de sorrisos com a garota. Ela estava ali atrás de Roger para juntos saírem, mordi o canto dos meus lábios quando dona Brenda incentivava o filho a acompanha-la e mesmo sabendo que ele não estava a fim de ir, dona Brenda exercia grande poder de persuasão sobre ele.

_ Ele vai sim Sandrinha, o Roger vive para o trabalho, ele precisa se distrair um pouco também, e o Jordan pode se ocupar dos animais, não pode Jordan?

_ Não mãe... dois trabalhando, fazemos mais rápido. Eu não posso ir Sandrinha sinto muito.

_ Pode.. pode sim, você precisa sair um pouco filho, já está na hora de arrumar uma namorada, casar-se, me dar netos, como vai fazer tudo isso enfurnado nessa fazenda?

_ Ah vamos Roger, eu me sentiria tão feliz ao seu lado, vai por favor diga que vai comigo?

Ela se agarrava no braço dele, e ele com um olhar de suplica quase implorava:

_ Tá... vem com a gente Jordan... você também precisa se distrair.

_ Tenho certeza de que o Jordan ficará desconfortável segurando vela meu filho, e além do mais ele acabou de chegar da cidade, não é Jordan?

_ É... eu acabei de chegar, vai lá, se distraia.

Sandrinha saiu puxando Roger pelo braço, ele ainda olhava para trás e eu o olhava ser levado por aquela menina, todo o meu plano para o dia havia sido arruinado. 

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora