Banho de loja-7

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Eu precisava digerir todas aquelas informações, era muita coisa para processar ao mesmo tempo e tudo o que eu precisava era respirar para enfim tomar a decisão se voltava para casa ou se ficava na fazenda e enfrentava tudo o que vinha pela frente. Parei em um bar e pedi um café com uma dose de conhaque, degustava enquanto fazia uma lista invisível colocando os pós e os contra, por ordem de prioridade.
Somente quando já tinha a resposta para todos os questionamentos foi que resolvi retornar a fazenda para dar a minha resposta a Douglas e sua família a minha decisão, Roger estava na sala em companhia de seu pai quando eu bati na porta e eles se viraram para mim:

_ Jordan... que bom que voltou.


A voz de Douglas estava um pouco ansiosa, notava-se pela alternância do seu timbre, já Roger se mantinha em silêncio apenas me olhando a espera que eu falasse algo:

_ A última coisa que eu quero é causar qualquer desconforto entre você e sua esposa.

Iniciei a fala e pausei, Douglas balançava a cabeça concordando com tudo o que eu dizia até ali.

_ Eu quero cumprir o último desejo da minha mãe, não por herdar o que ela me deixou, mas por ser o último desejo dela, minha mãe era a pessoa mais importante para mim, e por ela eu quero fazer isso dar certo, mas...

_ Mas?

_ Eu sei que não sou ninguém para impor regras a você Douglas... mas se eu ficar, eu preciso que me prometa algo.

_ Eu prometo.. o que for eu prometo meu filho.

_ Calma... eu ainda não disse o que quero.

_ Fale então filho.


_ Eu quero que não brigue com sua esposa por minha causa, mesmo que ela me fale coisas desagradável, se me prometer que se controlará em não brigar com ela eu ficarei, eu quero provar que não tenho medo de cara feia.

Meu olhar buscou Roger e esse sorriu, involuntariamente eu mordi o canto dos meus lábios, mas também sorri:

_ Eu aceito... mas também tenho um pedido a lhe fazer.

_ O que seria?

_ Eu adoraria ouvi-lo me chamar pela primeira vez de papai.

Meneei a cabeça e o respondi:

_ Sinto muito, ainda não posso, eu cresci acreditando que não tinha pai, não é de uma hora para outra que vou consegui te chamar assim, preciso que entenda, eu preciso de tempo para isso, mas olha eu não estou fechado para isso, mas ainda não estou pronto.

Roger tratou logo de mudar de assunto, o que fez com que o clima não ficasse pesado:

_ Então já que resolveu ficar, acredito que vá se comportar como um de nós, primeira providencia a se tomar é comprar umas roupas novas, afinal ir mexer com estrume com o seu coturno e suas roupas de couro não vai dar muito certo.

_ Você tem razão meu filho, precisamos refazer o guarda-roupa do Jordan, toma aqui um dinheiro e vai com ele, pode comprar o que ele quiser, compre algo para você também.

_ Não... não precisa.

_ Não me negue essa alegria meu filho, é o meu primeiro presente para você.

_ Tá certo, eu não vou negar.

_ Então vamos?

Assenti com a cabeça e segui para fora da casa, lá o rapaz parou de frente a uma caminhonete e perguntou:

_ Quer guiar, ou prefere que eu guie?


_ Talvez uma próxima vez, quando souber o caminho, hoje é a sua vez de me guiar.

Já estávamos na estrada quando ele soltou a frase:

_ Confiante você, gostei de ver.

_ Do que está falando?

_ Quero provar que não tenho medo de cara feia.

Ele deu risada, e eu ao contrário apaguei o sorriso que tinha nos lábios:

_ Sem graça.

A cidade era pequena e não demoramos para adentrar um portão que já se encontrava aberto, que dava para um pátio onde ele estacionou a caminhonete, ali tinha três ou quatro loja, o que deduzi ser o shopping deles, as lojas eram pequenas e ainda não tinha muitas variedades, Roger escolheu alguns look colocando na minha mão, verifiquei que ele havia escolhido duas blusa xadrez, estilo que nada tinha a ver comigo, mas não cheguei a reclamar:

_ Ali... ali tem um provador, se troque e me mostra.


_ Tá de brincadeira...?

Ele me olhou sério e balançou a cabeça:


_ Não!

Ergui a blusa xadrez com os dedos:

_ Acha mesmo que eu vou ficar bem nisso?

_ Acho.

Incrédulo eu esbocei um sorriso, fui ao provador que era separado apenas por uma cortina, e joguei todas as roupas em um sofá improvisado, olhei uma a uma as peças e escolhi colocar primeiramente uma regata branca com o macacão com suspensório preto, terminando o look com uma botina e um chapéu de couro, me senti fantasiado mas ao olhar-me no espelho o que vi me agradou, somente por isso aceitei aparecer diante de Roger.

Ele analisou a vestimenta e considerando o seu olhar vi que ele havia aprovado o resultado. Ele virou-se para a mulher que nos atendia e disse:

_ O que acha, aprova?


Boquiaberta a mulher olhou-me e respondeu:

_ Perfeito... quer dizer a roupa ficou perfeita.

_ Vamos levar, volte e vista as outras.

Não acredito que ele está me dando ordem, eu acabei rindo da situação, mas obedeci, voltando minutos depois paramentado com a blusa xadrez e a bermuda branca toda lisa e uma sandália de couro, sendo novamente aprovado por ambos, e por último coloquei uma calça jeans surrada com uma camiseta preta por baixo de uma blusa xadrez aberta e um óculos escuro.

Dessa vez vi o olhar de Roger fixo em mim, e foi a mulher que chamou a sua atenção:

_ Essa roupa deixou ele com um estilo moderno e bastante elegante.

_ Sim... bastante...

Virando-se para ela:

_ Vamos levar tudo.

No caminho de volta, o silêncio era predominante, toda a animosidade parecia ter fugido, foi assim até que chegamos a fazenda, e só então ele me disse:

_ É bom dormimos amanhã te acordarei a 06h para o seu primeiro dia como roceiro.

_ Ás 06h... tá de brincadeira. 

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora