Capítulo 4

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Anne

Me sentei na poltrona do escritório do papai, logo atrás entra minha mãe que parece tremer com a situação que até agora eu não entendo.
Papai desabotoa o último botão do terno e senta em sua cadeira, após respirar fundo, comeca:

- Anne, é... querida... Muito antes de você nascer realizamos um acordo que...

- Espera... - Mamãe o interrompe. - Foi você quem realizou o acordo. Eu nunca fui de acordo com isso.

- Acordo? Espera, do que vocês estão falando?

Digo exasperada.
Os dois me olham quietos, sem dizer absolutamente nada, o que me irrita ainda mais.

- Chega!

Levanto da droga da poltrona.

- Quando eu cheguei estava tudo bem, então de repente os dois ficaram estranhos. O que está acontecendo? Ou você falam, ou eu volto para Nova Iorque - digo sabendo que a última opção não existe.

- Você está de casamento marcado, Anne - mamãe diz levantando e ficando de costas para mim, como se sentisse vergonha, ou algo do tipo.

- Que? Como assim? Eu, eu ouvi direito ou estou ouvindo coisas?

Franzo a testa.

- Anne, há alguns anos, antes de você nascer, eu e Richard Jones fizemos um acordo no qual eu cederia sua mão ao filho deles. E assim, com o casamento dos dois, as nossas famílias manteriam a paz, não teríamos brigas e a empresa continuaria sendo de ambas partes.

Não consigo dizer absolutamente nada, apenas encaro meu pai sentindo lágrimas se formarem em meus olhos e minhas mãos começam a ficar trêmulas.

- O casamento acontece quando ambos fizessem 20 anos e os dois já completaram. Susan e Karolyne já marcaram a data do casamento de vocês e...

- Para! Para! Pelo amor de Deus! Eu, eu não estou escutando tudo isso, só pode ser brincadeira. Cadê? Cadê as câmeras? - Começo a procurar por câmaras por todo escritório, mas no fundo sei que não é uma brincadeira. Não...

- Não é brincadeira, Anne!

- Mãe?

Olho para minha mãe e ela está chorando, encostada na janela olhando para fora, como se tivesse tentando fugir da situação, ela limpa suas lágrimas e me olha, em seu olhar percebo o pedido de desculpas e então me dou conta de que realmente, não é uma brincadeira, é verdade.

- Você não pensou em mim em nenhum momento? Nos meus planos, no que eu queria para minha vida?

- Anne, a nossa empresa é a sua vida. Ela será sua um dia e preciso que você nos ajude...

- Casando com um homem que não conheço? Que bela ajuda, papai. Eu não quero casar com ele, não quero e não vou me casar com um homem que eu não sei qual é o rosto, as manias, a forma de tratar uma pessoa. Eu não vou me casar com um desconhecido.

- Anne, você sabe o quão importante é a empresa para nossa família. O quão é importante para o seu avô, você tem consciência disso, se você não casar com o Jones, perdemos a empresa, Anne, perdemos tudo! Filha, pensa bem.

- Não coloque meu avô nisso. Ele ama sim a empresa, mas ele ama a familia acima de qualquer coisa, diferente do senhor.

Ele fica em silêncio, apenas me encarando e vejo algumas lágrimas abandonar seus olhos.
Olho para mamãe mais uma vez e seu rosto está afundado em suas mãos, respiro fundo.
Fiz planos para a minha vida, eu fiz tantos e tantos planos para minha vida que não consigo acreditar que meus pais, os meus pais decidiram acabar com eles assim, como em um passe de mágica.

- Eu preciso sair daqui!

Saio do escritório caminhando em passos rápidos e quando escuto a voz do meu pai vindo atrás, corro até a garagem e salto para dentro do carro, ignorando Tomás, ligo o carro e dou partida.
Sinto algumas lágrimas abandonar meus olhos sem qualquer cerimônia, sinto como se eu tivesse sido traída, traída por meus pais.
Meu Deus, que sensação extremamente horrível.
Estaciono o carro em uma das vagas e salto para fora, subo as escadas correndo e logo chego a recepção.

- Oi, boa tarde, eu vim visitar o Sr. Eduardo.

- Quem você é?

- Eu sou neta dele. Anne Collin.

- Tudo bem, só um momento.

Balanço a cabeça assentindo e sento em uma das cadeiras da recepção, limpo minhas lágrimas e respiro fundo.
Meu avô tem Alzheimer em estágio dois, meu pai decidiu colocar ele em uma casa de repouso há 2 anos.
Ele ainda lembra de algumas coisas, com um pouco de dificuldade, mas lembra, e eu amo meu avô demais e só de pensar que um dia ele pode esquecer quem eu sou, meu coração despedaça.

- Anne, venha, seu avô está esperando.

Levanto e acompanho uma enfermeira da casa de repouso, logo entramos na sala de jogos e em seguida, entramos no jardim. Imediatamente fito meu avô sentado em um dos bancos, um senhorzinho, com cabelos grizalhos, a pele rugadinha e com a boina vermelha que minha avó deu a ele.

- Esses dias ele está esquecendo das coisas com mais facilidade.

- Ele está tomando os remédios?

- Sim! Estamos dando todos os remédios. Mas o Alzheimer está avançando...

- Eu vou ficar com ele... Licença!

Sorrio agradecendo a ela e saio de perto caminhando em direção ao meu avô, logo ele me fita e abre um sorriso largo, também sorrio e logo estou perto dele.

- É minha netinha linda?

- Sou eu, vovô!

Imediatamente me sento ao seu lado e o abraço, sinto as mãos de meu avô acariciar meu cabelo e beijar minha testa, sorrio deixando algumas lágrimas abandonar meus olhos.
Quando nos afastamos, vovô limpa minhas lágrimas com seu polegar e sorri mais uma vez.

- Agora diz ao seu avô, por que as lágrimas?

- Saudade, vovô! Apenas saudade do senhor.

- Uai, eu estou aqui, minha neta! Não é mais necessário lágrimas, entendeu?

- Está bem, vovô!

Dou uma gargalhada baixa e limpo todas as lágrimas.

- Quando você volta para o Brasil? Eu já disse ao seu pai que eu não quero que você fique lá em Nova Iorque por muito tempo, você só tem 15 anos.

- Não, vovô, eu tenho 20 anos agora... Eu cheguei de Nova Iorque ontem e agora é pra ficar.

- Ah! 20 anos... - ele balança a cabeça assentindo. - 20 anos... E me diz uma coisa, seu pai está cuidando bem da minha empresa?

Engulo em seco.

- Está... Está sim... Ele está cuidando muito bem, vovô!

- Sabe, eu lutei muito para crescer com essa empresa. Eu amo cada cantinho da Collin Jones. Sua avó, Anne, ela adorava cada canto também. Foi ela a arquiteta quem cuidou de cada detalhe do prédio.

Sorrio.

- Ed está cuidando bem? Vem cá - me aproximo mais dele, esperando um segredo. - Diz ao Ed que a familia Jones precisa ser controlada. Eles não são flor que se cheire desde a época do avó do Richard. Ele não vai deixar eles sozinhos na minha empresa em?

- Pode - minha voz embarga - Pode deixar, vovô!

- Eu amo minha empresa - ele diz encostando na cadeira e fechando os olhos. - Minha Collin Jones.

- Ah, vovô... - sussurro.

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Até a próxima

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