V. Combate

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Pisquei várias vezes sem palavras.

Eles estavam surpresos em me ver. Não sabiam o quanto eu ouvira, se estava xeretando ou só de passagem.

Sabia que Luke não me daria o benefício da dúvida, e sabia que não podia mentir descaradamente.

— O que está fazendo? — ele perguntou desconfiado.

— Estava... eh... estava indo para o quarto — expliquei aos tropeços. Não estava ajudando a mim mesma ali. Por que eu tinha que gaguejar? Não que ele fosse facilitar pra mim, mesmo que sua vida dependesse disso.

— Tudo bem — disse Annabell querendo evitar confrontos. — O pessoal já está indo jantar, por que você não...

— Não — interrompeu-a Luke e se virou para me encarar. — Você estava ouvindo, não é? Não teve tempo de se esconder.

Eu poderia ser mais óbvia?

— Não foi minha intenção — falei em tom duro, odiando não ter seguido caminho. Aquela conversa me dera mais perguntas que respostas, afinal.

— Ah, mas foi, não é? — discordou Luke. — Poderia ter dado meia-volta, se anunciado, mas decidiu que tudo bem matar o nariz onde não foi chamada.

Annabell assistia hesitante. Não adiantava interferir, e ela sabia. Éramos como fogo grego, queimando até mesmo na água.

— E então, por que está no corredor bisbilhotando o que não é da sua conta?!

Fiz menção de responder, mesmo sem saber o que iria dizer, mas não tive tempo.

— Não — ele interrompeu a si mesmo. — Melhor: por que está aqui, pra começo de conversa? — estourou Luke. — Na Casa. Na Terra Infinita. Complicando mais o que já nunca foi simples...

— Você me trouxe aqui, não se lembra?! — gritei com o dedo no peito dele. — Você me deu aquela droga de Bênção — acusei. — Ou assim eu ouvi.

Luke olhou para a minha mão que estava encostando nele. Abaixei-a, deixando o braço pender ao lado do corpo.

— Não estou mais feliz do que você por eu estar aqui — lembrei-o. — Caso você não tenha notado — acrescentei. — Minha amiga sumiu e não fez nada para ser levada por aqueles... aqueles homens-sombra, a não ser tentar me ajudar. — Soltei o ar e olhei para o lado, cansada de repente.

Luke se calou. Voltei a olhar na direção deles, estranhando o silêncio. A dupla trocou olhares significativos, a testa franzida em outra conversa da qual eu não fazia parte apesar de estar bem ali, apesar de ser sobre algo que eu havia dito.

— O quê? Por que estão se olhando assim? O que isso significa? — indaguei com as sobrancelhas levantadas. Nenhuma resposta, só silêncio reflexivo. — Ótimo. — Joguei as mãos para o alto. — Não faço ideia, Luke. Não faço ideia do porquê estou aqui — disse em resposta à sua pergunta anterior e saí.

Fui virando os corredores pisando forte, até esbarrar num garoto esguio, que me segurou pelo pulso antes que eu tombasse.

— Opa! — exclamou Jake com uma risada curta que pareceu uma tosse.

— Juliet? Estávamos indo procurar vocês para o jantar. Por acaso viu o Luke e a Bell? — perguntou Logan com inocência.

Jake me soltou. Minha mão mais uma vez pendia ao lado do corpo, balançando a capa azul solta com as mangas largas.

— Por que você não me deu a Bênção? — perguntei irritada para Jake. — Ou a Annabell. Qualquer um, menos ele — ofeguei.

— Epa, epa. Do que você está falando?

Os Últimos Descendentes - SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora