Pisquei várias vezes sem palavras.
Eles estavam surpresos em me ver. Não sabiam o quanto eu ouvira, se estava xeretando ou só de passagem.
Sabia que Luke não me daria o benefício da dúvida, e sabia que não podia mentir descaradamente.
— O que está fazendo? — ele perguntou desconfiado.
— Estava... eh... estava indo para o quarto — expliquei aos tropeços. Não estava ajudando a mim mesma ali. Por que eu tinha que gaguejar? Não que ele fosse facilitar pra mim, mesmo que sua vida dependesse disso.
— Tudo bem — disse Annabell querendo evitar confrontos. — O pessoal já está indo jantar, por que você não...
— Não — interrompeu-a Luke e se virou para me encarar. — Você estava ouvindo, não é? Não teve tempo de se esconder.
Eu poderia ser mais óbvia?
— Não foi minha intenção — falei em tom duro, odiando não ter seguido caminho. Aquela conversa me dera mais perguntas que respostas, afinal.
— Ah, mas foi, não é? — discordou Luke. — Poderia ter dado meia-volta, se anunciado, mas decidiu que tudo bem matar o nariz onde não foi chamada.
Annabell assistia hesitante. Não adiantava interferir, e ela sabia. Éramos como fogo grego, queimando até mesmo na água.
— E então, por que está no corredor bisbilhotando o que não é da sua conta?!
Fiz menção de responder, mesmo sem saber o que iria dizer, mas não tive tempo.
— Não — ele interrompeu a si mesmo. — Melhor: por que está aqui, pra começo de conversa? — estourou Luke. — Na Casa. Na Terra Infinita. Complicando mais o que já nunca foi simples...
— Você me trouxe aqui, não se lembra?! — gritei com o dedo no peito dele. — Você me deu aquela droga de Bênção — acusei. — Ou assim eu ouvi.
Luke olhou para a minha mão que estava encostando nele. Abaixei-a, deixando o braço pender ao lado do corpo.
— Não estou mais feliz do que você por eu estar aqui — lembrei-o. — Caso você não tenha notado — acrescentei. — Minha amiga sumiu e não fez nada para ser levada por aqueles... aqueles homens-sombra, a não ser tentar me ajudar. — Soltei o ar e olhei para o lado, cansada de repente.
Luke se calou. Voltei a olhar na direção deles, estranhando o silêncio. A dupla trocou olhares significativos, a testa franzida em outra conversa da qual eu não fazia parte apesar de estar bem ali, apesar de ser sobre algo que eu havia dito.
— O quê? Por que estão se olhando assim? O que isso significa? — indaguei com as sobrancelhas levantadas. Nenhuma resposta, só silêncio reflexivo. — Ótimo. — Joguei as mãos para o alto. — Não faço ideia, Luke. Não faço ideia do porquê estou aqui — disse em resposta à sua pergunta anterior e saí.
Fui virando os corredores pisando forte, até esbarrar num garoto esguio, que me segurou pelo pulso antes que eu tombasse.
— Opa! — exclamou Jake com uma risada curta que pareceu uma tosse.
— Juliet? Estávamos indo procurar vocês para o jantar. Por acaso viu o Luke e a Bell? — perguntou Logan com inocência.
Jake me soltou. Minha mão mais uma vez pendia ao lado do corpo, balançando a capa azul solta com as mangas largas.
— Por que você não me deu a Bênção? — perguntei irritada para Jake. — Ou a Annabell. Qualquer um, menos ele — ofeguei.
— Epa, epa. Do que você está falando?
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Os Últimos Descendentes - Sangue
FantasyVocê acredita em magia? Juliet Thorne costumava não acreditar, mas ela não fazia ideia de que tudo que ela aceitava como realidade estava prestes a mudar. E que ela não teria outra escolha. Depois de sua melhor amiga ser levada por homens materia...