VI. Donzela em apuros

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Pela primeira vez desde que chegara, chovia. Não só uma garoinha — uma tempestade.

Começara no dia em que Luke e eu brigamos e continuou por toda a semana.

As gotas batiam com força nas paredes de vidro da sala de Stef enquanto mais uma vez eu questionava sobre os planos para achar quem procurávamos.

— Quem eram os homens-sombras? — impacientei-me, batendo as mãos espalmadas na mesa polida de Stef. Nada caiu, só tremeu. E ela me olhou calmamente.

— Tudo bem — disse ela. Encarei-a fixamente, pronta para mais um round de gritos unilaterais.

— Sempre a mesma...

— Vou te contar — cortou-me.

— ... história — terminei mais baixo e olhei para Stef sentada atrás de sua mesa, me indicando o assento lado de onde eu estava parada. — Vai?

Stef balançou a cabeça e esperou que eu me sentasse. Não consegui evitar bater o pé de leve no chão.

— O que eles querem comigo? — questionei.

— Tem uma pessoa. Um feiticeiro. — Ela checou se eu estava acompanhando. — Que quer o controle total sobre a magia. O homens-sombra trabalham pra ele.

— E o que isso tem a ver comigo?

Stef encarou os próprios dedos entrelaçados e a taça quase vazia sobre a mesa.

— Estamos descobrindo ainda — disse ela. — Mas sua mãe entrou no caminho dele.

— Preciso que me conte a história toda, não pequenas informações que não me ajudam a compreender o cenário geral.

— Saberá o que precisa quando chegar a hora.

— Não é o bastante.

— Vai ter que ser por enquanto.

Saí da sala dela com fumaça saindo dos ouvidos. Reparei nos alunos em suas capas indo almoçar. Segui um grupo, caminhando mais afastada e sentei-me na mesa de sempre, com a diferença de que Luke não estava. Começara a fazer as refeições com Allison, Tomás, que era um garoto latino baixinho, e Gwen, uma garota alta e loira. A cadeira vazia costumava pertencer a Henry, dissera-me Jake na primeira vez que Luke se sentou ali depois da nossa briga. Melhor pra mim.

Mais uma vez, as aulas da tarde seriam Encantamentos e Fórmulas Mágicas, então comi meu frango e me levantei para me retirar.

— Não vai participar das próximas aulas? — perguntou Jake.

Balancei a cabeça e subi as escadas para o quarto com o intuito de trocar o pijama da escola pela minha roupa e ir direção à floresta para procurar novas trilhas e ignorar plantas mágicas que podiam ou não ser venenosas, mas eu preferia não arriscar.

Celeste estava na minha cama, as flores a destacando do branco dos lençóis. Assim que coloquei a camiseta de manga comprida sobre o corpo, alguém bateu na porta. Fui lá abri-la antes de colocar a bússola no bolso. Jake olhou para ela por um segundo antes de voltar a me olhar.

— Quase não assiste mais à nenhuma aula além de combate — comentou ele. — Está mesmo tudo bem?

Me virei para olhá-lo, jogando os braços para o alto.

— Não preciso ver vocês fazendo coisas voarem, aprender sobre plantas ou encantamentos. Nada disso é útil para mim. Sem ofensa. Agora, me defender... isso eu poderia precisar.

— Nós estamos aqui pra isso. Vamos proteger você. E vamos fazer o mesmo por sua amiga assim que a encontrarmos. Além disso, uma aulinha do professor Leaf teria sido útil — acrescentou.

Os Últimos Descendentes - SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora