XIX. Quem avisa amigo é

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Flexionei os joelhos quando minhas botas tocaram no chão, sendo seguida por Anna, Logan e Jake.

Olhei ao redor, deixando que meus olhos captassem a imagem diante deles. Não era tão diferente da cidade da qual acabáramos de sair, mas tinham plantas por toda a parte: árvores e flores e grama. Pássaros voavam tão perto que tínhamos que abaixar a cabeça de vez em quando, e as pessoas faziam isso de forma natural.

Mais para frente, no meio de uma praça, uma cachoeira caía, indo até lá embaixo por um buraco que perfurava a terra como se tivesse sido feito por uma britadeira gigante.

Apesar da altura o ar não era rarefeito; na verdade, era limpo e fresco, como a sensação de quando você acaba de escovar os dentes. Também não era demasiadamente frio, embora as folhas das árvores dançassem em um ritmo lento.

Luke tirou o mapa dobrado do bolso de trás e o abriu a sua frente, ainda que o papel ficasse se movendo, o que ocasionou mais uma luta divertida de assistir.

— Pra onde agora? — questionou Jake, sempre atento ao céu.

Estiquei a mão e deixei que uma nuvem a atravessasse, que nem vapor gelado. Um arrepio me percorreu.

— É o que estou tentando descobrir — respondeu Luke, já irritado, e estalou os dedos, fazendo o mapa parar de voar loucamente.

Sem aviso, ele começou a andar com os olhos grudados no X. Nos adiantamos logo atrás, embora Annabell quisesse parar a cada loja para olhar algo pela vitrine.

O sol estava no pico, parecendo maior que o habitual, quando Luke estacou no lugar. Parei bruscamente, o que fez com que Anna derrapasse me empurrando, com Jake em seguida. Apenas Logan não teve problema em frear.

Estávamos parados em frente a um grande salgueiro, seus galhos e folhas se derramando como cortinas verdes de contas.

Luke juntou as sobrancelhas e olhou para todas as direções.

— Não pode ser isso — disse ele, juntando as sobrancelhas louras.

— Me dê isso — respondeu Logan, tomando o mapa. — Estamos indo na direção errada! — constatou.

Jake tirou dele e virou-o, mostrando que ele estava vendo do lado contrário.

— Ah.

— Não — interferiu Luke. — É aqui. O X está exatamente aqui. — Ele bateu o indicador violentamente no ponto, amassando o mapa de papel.

— Ele pode ter fugido — sugeriu Annabell, meio incerta.

Luke correu os dedos pelo cabelo, sem disfarçar a frustração.

— Isso não está acontecendo — afirmou, fechando os olhos com força.

Não sabia se já tinha o visto tão vulnerável, tão humano.

Mas concordava com ele, independente disso. Estávamos deixando passar alguma coisa. Não acreditava que Stef nos enganaria sobre isso.

Olhei ao redor, escaneando a paisagem. Algumas casas se pareciam com cogumelos gigantes, como nos desenhos; me senti como uma fadinha no mundo dos humanos.

Jake soltou um suspiro.

— Mais alguém começando a ficar com fome? — indagou, esticando o braço para se apoiar no salgueiro, mas, ao invés do tronco, fez isso nas folhagens, o que não foi uma ideia muito boa, visto que a próxima coisa que aconteceu foi sua queda. — Ah! — gritou, tentando segurar em alguma coisa, mas se perdendo além dos galhos.

Os Últimos Descendentes - SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora