Achei que ele fosse soltar minha mão quando chegássemos à Casa, para que ninguém visse. Mas ele não o fez; na verdade, a apertou um pouco mais forte.
Anna saiu de dentro e veio até nós.
— Estávamos preocupados — começou, até ver nossas mãos. — Ai, finalmente — disse, animada. E me puxou para jantar, sem parar de falar sobre encontros duplos e bailes.
Tomei um banho quente e olhei para os lados antes de dar um beijo de boa noite em Luke, que sorriu. Eu mal conseguia segurar a sensação que ameaçava explodir toda vez que eu o fazia sorrir.
Distraída, trombei em alguém na quina do corredor em um dos andares de quartos. Era Tomás. Ele era baixinho com um cabelo castanho encaracolado e traços latinos, e me empurrou de volta fazendo "shhh" e voltando a fazer o que quer que fosse que ele estava fazendo antes de eu chegar.
Como eu era mais alta, espiei por cima da cabeça dele, como nos meus antigos tempos de ficar espiando pela escola.
— O que estamos observando? — sussurrei.
Não tinha quase nada para ver, ou ninguém. Celeste correndo atrás de um lumini, Allison falando com Odeya enquanto a última escrevia em um pedaço de papel.
Ele se virou pra mim, acho que notando pela primeira vez que eu ainda estava lá. Tomás fez uma cara de bravo e continuou espionado.
— É umas das meninas? — Cutuquei-o de brincadeira, provocando. Ele empurrou meus braços e me olhou sério.
— Eu nem gosto de garotas — disse, como se fosse óbvio.
Ele costumava ser sempre tão amigável; estranhei tanta exasperação, mas me rendi e peguei outro caminho para não atrapalhar sua espionagem. Um caminho que passava pela sala de Astronomia.
Eu já estava curiosa para ver, mas o que me fez entrar foram as vozes. Luke, Anna e Jake. Talvez meus tempos de espionagem não estivessem tão acabados assim.
O sistema solar parecia estar localizado naquele cômodo escuro salpicado de estrelas. Só magia podia fazer aquilo, fazer parecer tão real. Reconheci os planetas e as constelações. Meteoros se movendo pelo espaço.
— Poderia ser ela? — perguntou Jake. — Elena?
Apurei mais os ouvidos.
— Não — disse Anna. — No começo pensei também, mas ela tem um irmão.
— Droga, verdade — concordou Jake.
O que Steve tinha a ver com isso?
Não consegui ouvir direito a última coisa, pois Celeste estava vindo na minha direção, prestes a me revelar. Mas escutei a palavra "descendentes". De novo.
Fiz um sinal desesperado para Celeste de "xô". Esperava que ela me perdoasse por isso. Eu lhe daria mais biscoitos.
Eles pararam por um segundo, prestando atenção e voltaram a falar, só que mais baixo.
— Luke, sei que você é contra, mas nós votamos. Logan disse sim também — cochichou Annabell.
— Ela não é confiável — protestou Luke. Senti um gosto amargo na boca. Mesmo depois de tudo... nada tinha mudado.
— Mas a Vidente é a única que vai nos dizer quem são os dois últimos e como chegar até a Ilha da Sereia.
Luke soltou um ruído de insatisfação.
— Ela sempre cobra um preço e nem sempre fala a verdade.
— Nós vamos pagar esse preço. Que outra escolha a gente tem, sério? — disse Anna. — Não podemos mais dar um segundo sequer de vantagem a Drakon.
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Os Últimos Descendentes - Sangue
FantasyVocê acredita em magia? Juliet Thorne costumava não acreditar, mas ela não fazia ideia de que tudo que ela aceitava como realidade estava prestes a mudar. E que ela não teria outra escolha. Depois de sua melhor amiga ser levada por homens materia...