VII. Ache o Rei

220 29 70
                                    

Esperneei sem apoio por um segundo antes de ser segurada no ar por Luke, que passou o braço ao redor da minha cintura firmemente enquanto eu agarrava seus ombros. Minhas pernas pareciam um acessório pesado, como um brinco de pedras pendendo do lóbulo de uma orelha.

— Você nunca será páreo para Drakon, Luke. Por mais que tente. Henry parece não ter sido aviso o bastante. Espero que não precisemos mandar outro — disse Oliver no ar, novamente com os pés perto da grama. Ele sorriu, mas não chegou aos olhos. — Diz para minha mãe que eu mandei um "oi". — Com isso, ele sumiu de vista por entre a sombra que os pinheiros proporcionavam na noite que chegava.

Assim que toquei os pés no chão tirei as mãos dos ombros largos de Luke. Olhei para o quarteto.

— A mãe dele? — perguntei sem fôlego.

Foi Jake quem respondeu, sem me olhar, fitando o único risco do que tinha restado do pôr-do-sol no horizonte.

— Stef.

»»※««

Eu estava no porão um dia, jogando cartas com o pessoal, quando Elena dissera:

— Julie, me passa a batatinhas? — Como ela e Steve me chamavam às vezes.

Keith, dono da casa, bebera um gole da sua cerveja e a colocara na mesa junto com as outras garrafas marrons que suavam.

— Que apelido mais estúpido para Juliet. Você só tirou uma letra — comentou ele na época, analisando o baralho.

— E o que é que você sugere, então, Cisco Ramon? — zombara ela.

O garoto olhou para mim de cima a baixo, parando na folha presa no meu cabelo e o rosto meio sujo de terra de mais cedo. Havia me esquecido totalmente.

— Você não mora na floresta? — perguntara como se acabasse de se lembrar do fato. Dei de ombros.

— É, moro sim.

— Jane — decidiu-se. — Como no Tarzan. — E lançara um olhar desafiador a Elena, mostrando que tinha arranjado um apelido melhor. Elena, no entanto, comeu uma batatinha sem pressa enquanto os outros ainda jogavam cartas despreocupadamente, apenas pulando nossa vez.

— Ah, meu caro, vejo que cometeu um equívoco — dissera ela solenemente como uma estudiosa condescendente. — Tarzan morava na selva, não Jane. Ela era a civilizada.

— Jane ao contrário, então — respondera Keith com uma risada. E o apelido pegou.

Agora, quer saber de onde veio a apelido Drakon?

Se ele era pai de Oliver, que era filho de Stef também, presumi que soubessem o nome do cara. E estava certa. Kieran Knowles. Então perguntei por que chamá-lo pelo apelido. Ou quem sabe poderiam ter dado um mais ridículo como Risadinha, por causa das iniciais KK. Mas aí descobri que ele tinha a fama de ter enfrentado um dragão. Então Kieran Knowles virou Drakon. Deixa outros apelidos no chinelo. (Eu só gostaria de enfatizar aqui que era um dragão. Fica cada vez melhor. Um dragão; a merda de um dragão. Estava rezando para que esses fossem só fruto de uma imaginação humana fértil e com tendências violentas.)

Fiquei querendo tocar nesse assunto com Stef, sem saber realmente se devia. Pensei também em tudo que minha tia me contara. Ela sabia de pelo menos parte da história; e isso é mais do que eu podia dizer. Mas não refletia sentada em nenhum sofá. Fazia isso assistindo à todas as aulas de combate que podia. Ter sido pega assim de surpresa por Oliver e tratada como um saco de carne e ossos indefeso havia me mostrado o quão longe de "independente" eu estava. Também quase me mudei para a biblioteca, aprendendo o que podia por conta própria: as plantas e animais exclusivos daquele lugar.

Os Últimos Descendentes - SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora