Os Últimos Descendentes - Sangue

X. Baile de desafios

Encarei o vestido que segurava em minha frente. Era de um rosa algodão doce com mangas rendadas em formato de rosas, justo no busto e solto a partir da cintura, a saia parecendo pétalas sobrepostas.

- E aí? - perguntou Annabell, já vestindo um roxo sem mangas até o joelho. A parte de baixo era bufante como uma bolota volumosa de tecido, imitando uma hortênsia.

- É lindo, obrigada. Mas gostaria de poder ir de calça - comentei.

- Nem pensar - cortou ela, com as mãos na cintura. - Já me chegou aqui toda suja e queimada uma hora antes do baile.

- Eu estava meio ocupada - expliquei de novo, num resmungo, e me encaminhei até o biombo de estilo japonês num canto do quarto. Depois que chegara num "estado deplorável", nas palavras de Annabell, ela me fizera ir direto para o banho e depois passar no seu quarto para pôr o vestido.

- É, é - disse ela, fazendo um movimento de dispensa com a mão em que uma pulseira de pérolas envolvia o pulso. - Louca apaixonada e tal, estou ciente. Sabe - acrescentou, reflexiva -, me surpreende o quão longe ela foi. Luke deve estar furioso com ela, isso sim, não apaixonado, depois do que ela fez.

Dei de ombros e fui para trás do biombo, onde tirei a calça e a camisa confortáveis. Tracei o contorno da marca misteriosa no meu lado esquerdo com o dedo, me perguntando se algum dia teria coragem de perguntar a alguém, talvez Stef, ou até mesmo Annabell, se sabia o que era ou que significava. Havia procurado no livro que estava lendo, mas chegara ao fim, passando até pela criação da Terra Infinita, e não houvera menção de nada parecido.

- E você? - perguntou Anna.

- Eu o quê? - perguntei, começando a passar o vestido rosa algodão-doce pela cabeça.

- Gosta de alguém, sei lá. Do outro lado da Barreira. Um humano bonitão esperando ansiosamente você voltar. Uma vez Logan me levou em um lugar que vocês chamam de cimane e vimos um filme, como um registro de mentira, e a história era algo assim.

- Cinema - corrigi-a, colocando a cabeça para fora e rindo. Voltei para dentro. - Não, não vivi nenhum desses romances. Na vida real as coisas não são assim tão grandiosas, suponho.

- Hum, que pena - comentou, suspirando. Dei de ombros mesmo que ela não pudesse ver e passei a mão na saia solta do vestido. Podia ver meu reflexo da parede de vidro que estava escura agora pela privacidade. Saí de trás da tela de madeira sanfonada e abri os braços incerta para que Anna me visse. Ela sorriu.

- Você está linda. - Ela segurou meu braço e me girou como uma bailarina numa caixinha de música. Meu cabelo solto girou comigo. - Odeya não teve tempo de fazer seu cabelo, mas, na verdade, acho que ficou lindo assim.

- Obrigada. Ela fez um ótimo trabalho em você.

Anna passou a mão no coque trançado no topo da sua cabeça de cabelos com luzes. Ela levantou um dedo como se lembrasse de alguma coisa no momento e foi até a cômoda pegar uma caixinha ornamentada, de onde tirou um par de brincos brilhantes de flor.

- Quer ver se gosta de alguma coisa? - ofereceu ela. Enquanto ela usava o espelho na penteadeira, fucei as joias sem compromisso. Uma pulseira de pedras azuis me chamou atenção; era tão bonita e de certa forma familiar, que mesmo não combinado com o vestido, segurei-a, ponderando se deveria usá-la.

De brincos cintilando nos lóbulos, Annabell voltou para a caixinha.

- Pode ficar.

- Não, claro que não - discordei balançando a cabeça. - Somente pegarei emprestada - esclareci.

- Que isso - disse ela, testando uma presilha de rosa no cabelo e me olhando para o veredicto. Fiz que não e disse que ficaria muito exagerado; ela concordou e deixou o acessório lá, indo de volta para a penteadeira e passando um batom vermelho. - Olha, a pulseira está guardada faz um tempo, aceite como um presente. Seria rude dizer não - advertiu ela e abriu uma gaveta, revirando o conteúdo.