XXIV. Segredo rasgado

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Logan e eu ficamos imóveis enquanto o animal majestoso nos avaliava. Se voltássemos para dentro seria pior, ficaríamos encurralados. Não que nossa situação fosse muito melhor, paralisados na frente da porta. Era melhor pedirmos licença, procurar uma pá e cavar os buracos em que nossos corpos descansariam, por fim.

Onde estavam os outros?

O grifo andou de um lado para o outro e, por um breve momento, achei que fosse nos ignorar, como se só estivesse de passagem. Vi quando ele hesitou, meus olhos grudaram nos dele.

Demos um passo instintivo para trás e ele abriu as asas enormes, ameaçadoras.

Não aguentei, meus joelhos cederam e achei que fosse atingir o chão, mas uma mão agarrou meu braço com rapidez pela lateral, me segurando pela cintura e correndo comigo como se eu não pesasse nada. Alguém com cheiro de primavera, mar e algo cítrico. Abracei Luke com força. Atrás de mim, Jake e Logan corriam até um dos túneis, com o grifo no encalço.

- Anna achou uma saída. Você não vai gostar muito - disse ele, olhando para baixo para ver meu rosto.

Eu entendi o que ele queria dizer quando Jake usou o impulso da corrida para tirar os pés do chão, levando Logan para o alto. Uma saída por cima. Estávamos fundo, então não deveria ser uma voada rápida. Fechei os olhos e segurei com mais força quando senti que o nosso apoio tinha sumido. Mas, estranhamente, não senti medo, apesar do loop que meu estômago deu. Eu estava segura. Então abri os olhos e olhei para Luke, que já me observava, o qual sorriu pra mim, surpreso.

O vento denunciou que estávamos perto, tal como a luz do entardecer. Preparei-me para o impacto de estar do lado de fora. Meus cabelos voaram e inspirei o ar como se meus pulmões não soubessem a sensação de respirar há dias. Nossos pés tocaram o solo quando descemos. Achei que fosse vomitar quando apoiei as mãos nos joelhos e Luke tocou a base da minha coluna, mas foi só um alarme falso por causa de alguma reação natural do meu corpo.

- Vocês... - começou Annabell.

Bati no lugar na roupa onde o que fôramos buscar estava.

- Bom - disse ela simplesmente, e se deixou cair na grama fofa daquele morro em que nos encontrávamos.

Logan esticou a mão para ela.

- Vamos, nossa missão ainda não acabou. Temos mais uma coisa pra roubar.

Annabell grunhiu, mas aceitou a mão.

- Hoje à noite - disse Luke. - E vamos à Vidente no fim do dia de amanhã.

Jake franziu o cenho enquanto voltávamos a andar. Desejei que teletransporte fosse uma de suas habilidades. Esperava que para voltar pudéssemos pular aquele túnel com espinhos. Falando nisso... Reparei que meus braços não doíam mais, as feridas tinham sumido. Luke e sua Arte da Cura.

- Por que não ao amanhecer? - indagou Jake.

Luke balançou a cabeça.

- Se perdermos outro dia inteiro de aulas podem suspeitar.

- Passamos desse ponto - interveio Anna. - Assim que a Vidente nos disser como chegar à Ilha, nós vamos. Quase consigo sentir aquela colônia horrorosa que o Henry adora.

Ela estava certa. E ele sabia, por isso não discutiu.

Pegamos um caminho menos dolorido, apesar de levemente mais longo, na volta. O sol já se escondia no horizonte, levando a luz do dia consigo e dando lugar à lua e as estrelas quando finalmente conseguimos pisar no piso de madeira da Casa dos Pinheiros. A sala com pufes estava quase vazia, o cheiro de comida do jantar ainda pairando no ar.

Os Últimos Descendentes - SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora