VIII. Corações e estrelas

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— Não acredito que você e Luke não estão se falando de novo — comentou Anna na biblioteca, onde estávamos eu, ela e Logan.

Eu descobrira que o sol sumindo atrás da montanha no relógio engraçado de Jake significava que o sol se pôs. Então Jake havia nos encontrado antes do pôr-do-sol, o que significava que, tecnicamente, Luke tinha perdido e Jake ganhara.

— É tudo culpa sua — gritara ele pra mim, na caverna.

— Como poderia possivelmente ter sido culpa minha? — gritei de volta.

— Deixe-me ver — disse ele com raiva, levantando a mão para contar nos dedos. — Fazer a gente perder tempo com o unicórnio, depois seguir um cheiro estranho até papoulas e quase não saímos vivos! Se não fosse isso nem estaríamos na chuva quando ela começou, nos obrigando a ficar nessa caverna. — Uma veia saltava do pescoço dele.

— Nossa — Jake entrou na discussão, olhando para Luke. — Passaram por tudo isso? Por que não simplesmente cancelou o jogo? — Luke se virara lentamente para olhar para Jake após essas palavras.

— Bem, ele não está falando com Jake também — respondi para Annabell, abrindo na página em que parara no livro sobre a história da Terra Infinita, isto é, a primeira página depois do sumário. — E, além do mais, não é como se ficássemos trocando fofocas antes disso, de qualquer forma.

Anna revirou os olhos.

— Vamos para a aula de combate — falou para mim e deu um beijo de despedida em Logan antes de sair da biblioteca. A sra. Brooks quase banira Logan depois que viu o que ele fizera com o livro dela. Levei meu próprio livro fechado sob o braço, me perguntando se, nesse ritmo, algum dia terminaria de lê-lo.

O professor Leaf havia liberado mais cedo depois do teste que eu não fizera, e Annabell, boa como era na matéria, ainda tinha tido bastante tempo para passar com Logan e eu, ignorando Levitação.

Fomos para a aula de combate, onde tomei a decisão de trocar de roupa dessa vez. A professora Diana Slaughter me encarou surpresa e quem sabe um pouco divertida, mas não disse nada, continuando a aula sobre espadas.

— Eu... eu posso participar dessa vez? — pedi enquanto ela distribuía as armas. Mais uma vez, ela me olhou dos pés à cabeça.

— Pensei que nunca fosse pedir. Mas prenda esse cabelo — respondeu, me dando uma lâmina e me fazendo sorrir. Ela se virou para o outro lado da sala. — Luke, faça dupla com ela — instruiu quando eu estava na metade da minha trança, e meu sorriso se desmanchou. — Não faço favoritismo, mas você é o meu melhor combatente e a garota está bem atrasada só olhando esse tempo todo.

Nos encaramos.

— Movam-se — disse apressada com severidade. — Não estou nem aí para quaisquer problemas pessoais que possa haver entre os dois, ou qualquer aluno. — A professora passou os olhos por todos. — Aqui, nessa sala, estão sob minha autoridade para aprender a se defender se algum dia necessário. Agora, estou dizendo para fazer dupla com a Thorne, Hemingway. Preciso dizer uma terceira vez? — Ela nos olhou por sobre as sobrancelhas. Na mesma hora nos aproximamos com a espada na mão. — Super! — Diana viu os outros parados assistindo à cena. — Vocês são surdos ou quê? — As duplas se reuniram. — Isso, na verdade, foi importante. Na vida, não combatemos por afinidade. Fazemos por necessidade, lembrem-se.

Meio a contragosto, Luke e eu nos posicionamos um na frente do outro com as espadas em riste. Minha mão não demorou a ficar trêmula com o peso, e eu evitei fazer contato visual com, segundo a professora, o melhor combatente da sala. Sabia que parecia estúpida segurando a lâmina sem fazer ideia do que estava fazendo.

Os Últimos Descendentes - SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora