Luke caiu de joelhos e gritou. Foi o único jeito que encontrou de extravasar um pouco da dor. Sentiu como se seu coração tivesse sido rasgado em pedaços e deixado sangrando dentro dele, enchendo seus pulmões de sangue, porque não podia respirar, não podia respirar. Tudo doía como se tivessem ateado fogo ao seu corpo vivo e ele pudesse experienciar a sensação de cada nervo queimando. Seu grito pareceu partir aquela montanha ao meio.
Elena não tinha força nas pernas. Juliet viera, como Elena sabia que viria. Sua garganta queimava de tanto chorar. Achou que se fechasse os olhos com força o suficiente acordaria do pior pesadelo que já tivera. Se agarrou ao corpo do irmão e procurou qualquer conforto ao perceber que nunca iria acordar, pois não estava sonhando. Queria morrer também. Os dois a haviam deixado e ela não sabia viver com esse vazio que ficou no lugar que costumava ficar o futuro que ela imaginara com duas das pessoas que ela mais amava no mundo.
Annabell ficou imóvel. Lágrimas silenciosas não paravam de rolar por suas bochechas. A amiga que ela nem sabia que sentia falta até encontrar e que agora tinha sido arrancada de seus braços. Juliet era uma parte essencial de si, assim como Logan, Jake, Luke e Henry, e não por alguma ligação estranha proveniente daquela marca em seu lado esquerdo.
Logan não suportava olhar para o corpo sem vida. A primeira pessoa em muito tempo que o entendera em um nível que ninguém mais tinha alcançado. Se viu pensando na primeira vez em que ela o fez rir e quando ele a fizera rir, ou no primeiro conselho que Juliet havia lhe oferecido. Sua pergunta, as últimas palavras que eles trocaram, uma piada de mau gosto agora: O que você vai fazer depois que salvar a Elena? Era muita pressão, então ele tentara a tranquilizar. Bom, você não tem que decidir agora.
Jake não parou de puxar as correntes mesmo quando Juliet já não respirava, o corpo imóvel, os olhos congelados na mesma expressão para sempre. Não ia aceitar. Juliet era a garota mais teimosa que ele conhecia. Cabeça quente e gentil, leal e desconfiada. Não, não era assim que ia acabar para ela, ele tinha certeza, sentia nos ossos.
Stef sabia que falhara com Rose. Mas também sabia que era a escolha certa. Por um bem maior que ia além da sua vontade, exatamente como dissera à menina, assim como a própria Juliet fizera. Se desculpou com as duas em uma prece e sentiu o quanto estava exausta. Será que a perdoariam? Será que poderiam ver que não tinha outra escolha, por mais difícil que essa fosse?
Enquanto todos esses pensamentos passavam pelas cabeças dos presentes, Kieran contemplava o cenário. A garota estava morta. Ela estragara tudo. Em seu acesso de raiva se virou para Bethan.
— Como não previu isso? — gritou, saliva voando com as palavras. A Vidente deu um passo para trás, assustada. E devia. Kieran não gastou uma grama de energia para esmagar seus órgãos até se liquefazerem dentro de seu corpo. A areia da ampulheta em seu pescoço, que já descia com velocidade alarmante, terminou seu caminho, derrubando o último grão.
Passara vinte anos planejando. Desde que tivera acesso a todo aquele poder. Queria mais, sentia a urgência corroer sua carne. Ninguém ousara lhe ajudar a curar-se, então decidiu que se curaria sozinho, só precisava descobrir um jeito. Sabia que já tinha ouvido falar sobre reivindicar a magia criada pelos Primeiros. Foi fácil tirar a informação de Stef, tão ingênua que lhe dava dó. O filho era um constante lembrete dessa fraqueza, nascido daquela mulher fraca. Precisou de um tempo até encontrar a Ilha e forjar a primeira lâmina vulcânica, que seria usada no ritual. Mais alguns anos reunindo seus homens com promessas de poder e uma pequena amostra dele. Passou todos esses anos em agonia, mas tinha valido a pena. Ia decidir quem merecia ter a honra de ser chamado de feiticeiro. Não seria mais fraco, como fora chamado tantas vezes por outros, pelos seus próprios pais. Quão doce fora o momento em que a caça aos Últimos Descendentes dera os primeiros frutos. Estava tão perto. Viu tudo isso desmoronar diante de seus olhos, roubado por uma jovenzinha nojenta que se achava nobre, superior a ele. O maior Extraordinário dos Extraordinários.
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Os Últimos Descendentes - Sangue
FantasyVocê acredita em magia? Juliet Thorne costumava não acreditar, mas ela não fazia ideia de que tudo que ela aceitava como realidade estava prestes a mudar. E que ela não teria outra escolha. Depois de sua melhor amiga ser levada por homens materia...