XVI. Meias-irmãs

188 26 31
                                    

Arrumei sacos de dormir que eu guardava na esperança de minha tia me deixar acampar — o que acontecera apenas uma vez — num quarto vazio que não era bem de hóspedes por que nós nunca tínhamos, bem, hóspedes.

Já havia uma cama, então coloquei apenas dois dos sacos para dois dos garotos; eu dividiria a minha com Annabell. Jake e Logan disputavam pelo colchão enquanto eu ajeitava o segundo saco.

Depois da revelação de Luke, eu tinha duas perguntas: O que diabos é uma cidade flutuante? E se ele já havia contado aos outros. No livro que eu lera sobre a Terra Infinita eu só me lembrava vagamente sobre uma divisão por províncias. Foi então que percebi que nunca tinha visto um mapa desse lugar, pois descobri que estávamos na Província dos Arvoredos, e que Amos se encontrava ali nos limites, só que numa cidade voadora. "Mais essa agora", foi minha reação.

E sobre a minha segunda dúvida, eu iria contar para a Anna e ele para os meninos, antes de dormir, para que, quando voltássemos, pudéssemos parar de andar em círculos e trabalhar em algo concreto.

Terminando de estender um edredom florido, olhei pela janela. E vi Steven, indo para a floresta. Será que sempre fazia isso, na esperança de encontrar a irmã? Precisava falar com ele. Quando eu saí, Logan e Jake ainda se empurravam e jogavam jo-ken-po competindo pela cama.

Esbarrei em Luke em frente a escada, em minha pressa, e quase o derrubei.

— Está tentando me matar? Já deixou claro que me odeia — falou com sarcasmo. Revirei os olhos e continuei descendo, desviando dele. — Ei, onde você vai?

E ele começou a me seguir, os passos pesados soando altos nos degraus de madeira. Cheguei lá fora a tempo de alcançar Steve, que parou e olhou para trás ao som da minha porta se abrindo. Ele não parecia conseguir se decidir entre arregalar os olhos e franzir a testa. Caminhamos um na direção do outro e nos encontramos no meio.

— Julie, não entendo, eu... — Steven olhou para os lados, talvez checando se tinha mais alguém comigo. Não qualquer pessoa. Elena.

— Ainda não a encontrei — admiti, cortando-o. — Mas acabamos de descobrir algo importante — acrescentei e olhei para trás. Luke ficara a alguns passos da porta.

— Eu... — Então ele me abraçou, e eu o abracei. Eu havia sentido sua falta. Muito. Ao me soltar, ele perguntou: — E quem é aquele? — Nós dois olhamos para trás, dessa vez.

— Luke — respondi simplesmente.

— Não o nome dele — esclareceu Steve. — Quem é ele pra você?

Hesitei.

Reparei na caixinha no bolso do jeans do irmão de Elena.

— O que é isso? — Puxei o pacotinho azul. Um baralho.

— Nada — falou ele rápido demais, recuperando-o das minhas mãos. — É só uma coisa que venho tentando. Mágica.

Se ele ao menos soubesse. Steve pegou as cartas e passou-as rapidamente de uma mão a outra. Pediu-me para escolher uma, depois fez seu truque.

— É essa a sua carta? — Ele mostrou um dez de ouros.

— Sim, senhor. — Bati algumas palminhas pra ele, que sorriu, olhando pra baixo.

— Sei que é besteira.

— Não é! — discordei, segurando seu ombro. Ele contemplou meus dedos que o apertavam. Abracei-o de novo. — Vá pra casa Steve. Eu vou trazer ela de volta, tá bem? Confia em mim.

Ele balançou a cabeça e deu meia volta, andando a passos largos. Apertei os olhos com o indicador e o polegar. Tinha de ser mais rápida.

— Caramba, o garoto está caidinho por você.

Os Últimos Descendentes - SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora