Fico minutos tentando decidir o que escrever para a Sina, mas nada parece certo. Por isso, apago e digito frases similares inúmeras vezes, até que, quando estou chegando a um resultado satisfatório, a bateria do meu notebook acaba.
Caralho. Preciso falar com ela!
Começo a procurar pelo carregador quando alguém bate na porta. Deve ser minha mãe. Ignoro.
Ela bate de novo, insistente.
— O que é?
— É a Sabi, idiota. Veste uma cueca e abre isso aí.
Sorrio e abro a porta... Sabi está parada na porta com uma blusa preta de Lana Del Rey (que eu roubaria, caso servisse em mim), um shorts jeans desfiado e uma meia calça preta. E também tem um creeper, um tênis com o solado alto que apresentei a ela. Como a Sabi é baixinha e não gosto de saltos, é um paliativo que funciona quando quer se sentir maior.
— Precisamos sair — ela anuncia.
— Bom dia para você também. Preciso trabalhar em... — me esgueiro na porta para ver o relógio na parede da sala — menos de duas horas.
— Vai dar tempo... E você precisa consertar seu celular. Vamos.
— Noah, meu filho... E o almoço? — minha mãe grita da cozinha. Eu a ignoro, revirando os olhos.
Sabi me cutuca porque, apesar de tudo, acha que preciso fingir que nada aconteceu e que devo perdoar a minha mãe. Bom, para mim, isso soa como uma piada.
Abro o guarda roupa e tiro uma camisa do Cícero que comprei no último show que fui dele. A Sabi estava comigo e me convenceu a comprar. "Tem um balão! Você ama balões!" Não era um balão comum: esses eu odiava. Era um daqueles que voa, com fogo, pessoas e tudo.
Tiro a camisa preta que estou usando e substituo pela outra preta cuja única diferença para a primeira é a estampa de um balão. Hoje, por algum motivo, quero roupas novas.
Viro para porta e a Sabi não está lá. Escuto conversas vindas da cozinha já sei que minha mãe a pegou para bater papo. Coitada.
Olh ao redor do quarto, pego a bolsa, a carteira, cigarros, o remédio, chaves e... o celular. Jogo tudo dentro da bolsa exceto o remédio, que jogo na boca e engulo seco, só para não ter que ir até a cozinha pegar água e dar de cara com a minha mãe.
Ajeito o cabelo no espelho do corredor e, no fim, ele não melhora nada. Dou de ombros. Ao menos tentei.
Sigo pelo corredor e abro a porta quando estou lá fora, aperto o botão do elevador e grito a Sabi, que vem com minha mãe atrás. Reviro os olhos sem que elas notem. As duas conversam como se fossem quase melhores amigas. Como as mulheres conseguem fazer isso?
O elevador chega e entro nele sem esperar pela Sabi. Por milagre, minha mãe não saia ao hall do elevador, mas, mesmo assim, me grita da porta.
— Beijos, Noah... vá com Deus, e até mais tarde.
Fecho a porta do elevador assim que Sabi entra, e ela responde por mim.
— Fica com Deus também, Wendy!
Aperto o botão do térreo e o elevador e desce.....
— Você podia ser um pouco mais educado — Sabi comenta quando chegamos à rua.
— Se quiser ficar com ela para você, à vontade. Só não aceito devolução — brinco.
— Noah, deixa de ser cabeça dura? Ela é sua mãe! Já falei isso! Ela está arrependida, quer reatar os laços com você, porra... O que você tem a perder? — odeio quando ela insiste nesse assunto.
— Sabi, por favor... Já falamos sobre isso. Podemos ir para o próximo tópico, por favor?
— Podemos. Eu tô puta com aquele André.
— O quê? Por quê? O que ele te fez dessa vez?
— Estávamos conversando ontem por telefone — ela destaca as palavras mudando a entonação, como se o fato de estarem se falando numa ligação fosse um acontecimento raro e excepcional — quando ele me disse que está namorando, na verdade. E tipo, a gente se fala há semanas! Ele me chamou para sair! Eu sou louca, Noah? Me diz, eu sou louca?
Dá vontade de rir pela maneira como ela fala, mas sei que a situação não é nada engraçada.
— Não, Sabi... Você não é louca. Ele é que é um babaca. Babaca total.
— Isso, babaca total! Argh, que raiva — ela bufa.
— Mas, e aí, o que você fez?
— Como você sabe que sou uma pessoa muito madura... Eu basicamente mandei todos os xingamentos "intelectuais" — e ela faz as aspas no ar — em que eu consegui pensar. Depois, mandei ele ir à merda. E deletei ele do Facebook.
— Espera, como assim você mandou ele ir à merda? E Facebook? Vocês não estavam se falando pelo telefone?
— Sim, mas aí, quando ele me contou da namorada, eu desliguei na cara dele. E bem, é por isso que estamos indo juntos consertar seu celular. Por que, basicamente, preciso consertar o meu também.
Paro no meio da calçada e a encaro. Ela me olha, impaciente.
— Anda logo, Noah!
— O que é que você fez com o seu celular? — pergunto devagar, com medo da resposta. Geralmente, eu faria esse percurso de bicicleta, mas o pneu empenou quando atropelei a Sina e ainda não mandei consertar... Então, lembro e emendo a pergunta. — Falando em celular e Facebook, como faço para responder alguém no Facebook pelo meu celular?
Agora é ela quem para, me encarar e ri.
— Noah, antes de mais nada... Por que é que você decidiu fazer um perfil no Facebook?
— Não, senhora. Eu fiz a pergunta primeiro. O que aconteceu com seu celular?
— Joguei na parede, sem querer. E você, por que o Facebook?
— Por que chamei a Sina para sair, e ela disse que me confirmaria no Facebook.
Ela ri alto.
— Que bonitinhooooooooooo! Você é tããããão na dela! O que ela fez com você, hein? Nunca te vi caidinho assim antes por ninguém!
Reviro os olhos, mas não consigo deixar de sorrir.
— Cala a boca, Sabi. Não estou caidinho — minto. Seja lá qual for o significado de caidinho, sim, estou muito na Sina.
— Pois você pode me contar cada segundo de tudo o que vem acontecendo entre vocês. Começando agora.....
Então, nem uma hora depois, é Pepe quem me interroga.
— Hmmmmmmmmm, Sina né?
Reviro os olhos.
— Vai trabalhar.
— Estou trabalhando. Coleta de dados.
— Você não é pago para isso — retruco.
— Qual é... Não tem nenhuma cliente interessada em saber o preço de Crepúsculo no momento.
— Ou de Cinquenta Tons — respondo, dando um sorriso.
— Ou dos livros de colorir.
— Isso — concordo, por fim.
— Então, anda, me conta.
— Meu Deus, Pepe! O que você quer?
Finjo estar irritado, mas, na verdade, estou até rindo. Essa situação é muito embaraçosa. Dois dias atrás, ninguém me fazia perguntas, ninguém me cedia o horário de almoço, ninguém me procurava na livraria, ninguém sequer olhava para mim para pedir uma informação. E, agora, cá estou eu, no centro das atenções sem ter escolha ou fuga.
— Como ela é? Como vocês se conheceram? E o que está rolando entre vocês, no geral?
— Ela é ótima. Bem divertida e inteligente, e faz cinema...
— E te paga Starbucks — lembra.
— Sim. E me tira da livraria.
— No meu horário de almoço — ele rebate.
— Bem lembrado. E bom, eu a conheci atropelando ela. — então, começo a rir.
— O quê? — ele parece genuinamente assustado.
— Obviamente, foi um acidente... Ali na frente, na Paulista. Eu estava de bicicleta, então, não machucamos muito. — dou de ombros. Encosto em uma estante do segundo piso e fico olhando para o vão a nossa frente e o dinossauro de madeira, de lado para o Pepe.
— Caralho, Noah... — finalmente, alguém que me chama usando a acentuação certa. — Você o único cara que conheço que consegue atropelar uma gata daquela e ainda ganhar Starbucks depois — ele comenta, me fazendo rir de novo.
— Pois é. — dou de ombros. — E somos amigos agora, acho.
Ele não responde, então, olho no rosto dele, que parece perplexo com algo do outro lado da livraria. Acompanho seu olhar e a vejo. Ela está com um vestido preto com rendas que termina um pouco antes do joelho, e um turbante também preto sobre o cabelo. Sina poderia facilmente conversar moda, ou a moda deveria cursá-la? Tudo que ela usa é, tipo, uau.
Olho de volta para Pepe, que está quase com água na boca, e sorrio. Dou uma cotovelada no braço dele de brincadeira, então, ele ri também.
— Ela não é sua presa — lembro, brincando.
— Acho melhor você ir lá atropelá-la com sua bicicletinha — ele retruca, me fazendo rir. — Aproveita que... — ele olha no relógio — seu horário de almoço começa em 12 minutos. Bem, como será que ela descobriu isso?
Arregalo os olhos diante da informação, estou prestes a perguntar "o que você disse a ela?" quando ele dá um grito teatral na minha frente e sai dançando e assobiando para o outro lado da livraria.
Sorrio e espero que ela me encontre.
Ela tem 11 minutos para isso.Querem maratona? Se sim, com quantos capítulos?
Xoxo ✨
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𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓
Romance[CONCLUÍDA] Noah passou por uma fase terrível e seu coração ainda está despedaçado. Agora, ele decidiu viver um dia após o outro, tentando compreender as particularidades dessa cidade enorme que é São Paulo, onde ele vive, mas se sente sozinho. Poré...