015|sɪɴᴀ

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Noah volta da livraria correndo e bufando, e me assusta por um instante. Os olhos dele estão fundos como se ele tivesse sem dormir já noite, mas ele estava bem minutos atrás...
Avisto um maço de cigarro na mão dele, junto com uma caixinha que contém um fone. Quase sorriu ao ver aquilo, mas sua aparência fantasmagórica me deixa preocupada.
Antes que eu possa perguntar, ele afirma que está bem. Seu cabelo castanho está ainda mais escuro, com as pontas molhadas como se estivesse lavado em uma pia ou algo parecido. Mesmo assim, sei que não é o caso.
Acho que não teria dado tempo.
Ele chega mais perto e me estende a mão que não segura nada: a que está com a tatuagem manchada. A tatuagem que eu manchei.
Toca sua mão sem entender está impressionantemente fria, como se ele estivesse segurando o gelo antes de me tocar. Então, ele me impulsiona para cima e me guia pelo Conjunto. Sigo atrás dele, preocupada, e, por algum motivo que não sei explicar, sinto que não devo fazer perguntas. Entramos em um elevador em um canto que eu nunca havia estado, ele aperta o botão e o elevador começa a subir.
Continuo observando-o em silêncio, e ele olha para cima, para o teto do elevador, fecha os olhos e os pressiona. Reconheço o gesto, é como se ele estivesse tentando espantar algo da mente. Ele não olha para mim e minha preocupação só aumenta.
A porta do elevador abre e uma claridade intensa nos inunda. Ele continua de olhos fechados por um instante, mas não o suficiente para as portas se fecharem novamente. Quase como se já soubesse, ele abre os olhos com a mão na direção certa para protegê-los contra a claridade e me toca de novo, desta vez, com um só dedo. Os outros estão ocupados carregando coisas.
Uma lufada de vento me acerta e o lugar é bonito: uma espécie de sacada, varanda ou sei lá, uma área privativa do Conjunto que eu não conhecia. Não sei se qualquer pessoa pode vir aqui. Aparentemente, não. A área, apesar de bem grande, está vazia e dá de frente para a Paulista, os prédios refletindo o sol à nossa frente. Noah segue em direção à mureta do lugar. Sem hesitar, vou atrás dele.
Antes que eu chegue, ele acende um cigarro e o leva a boca, dando uma tragada tão profunda que me pergunto como pulmão consegue abrigar tanto ar. Ele vira de costas contra a mureta e encosta nela, ficando de frente para mim. Depois do que parece uma eternidade, ele solta a fumaça lentamente.
Só então ele olha para mim, um olhar completamente indecifrável, mas, desconfortável. Sinto que devo falar agora, mas não sei o que dizer.
— Não sabia que você fumava.
Eu me sinto uma idiota. E essa era a coisa mais idiota a se perguntar.
— Desculpa — ele diz, olhando para mim, e em seus olhos vejo que o pedido é sincero. E mais: naqueles mesmos olhos claros eu enxergo dor, desespero, aflição, medo. Como cabe tudo isso dentro de uma só alma?
— Não precisa se desculpar. — não sei mais o que dizer.
— Você não fuma, certo? — ele pergunta e inala a fumaça de novo.
— Não... Sempre achei muito autodestrutivo. Sem querer julgar você, desculpe... Só não... Não para mim, entende?
— Entendo. Completamente.
Ele me lança um olhar e quase me sinto envergonhada. Ele coloca os olhos nos meus e é como se fosse capaz de ler todos os meus segredos.
Como isso pode ser possível?
— Sabe — ele começa — , eu também era contra fumar. E contra beber. Contra todas essas coisas que fazem mal. — ele faz aspas com os dedos no ar, enquanto o cigarro pende em seus lábios. — E, mesmo assim, muitas pessoas ao meu redor faziam isso. Eu não entendia por quê. Como você disse, é, de fato, autodestrutivo... — ele solta a fumaça devagar e ela sai quase como uma nuvem, lenta e para o alto. — Mas com o tempo... — ele continua contando, olhando para a nuvem que sai de sua boca. Estou quase hipnotizada. — ... eu aprendi que não adiantava tentar mudar as pessoas, ou seus vícios e manias. Minhas tentativas funcionavam como combustível às chamas, e todos nós nos queimávamos. E foi aí que eu descobri o porquê dos vícios. E encontrei um para mim.
Ele pausa e só então me olha. Ainda sinto as palavras dele saindo de sua boca e aterrizando em mim.
— É ridículo, eu sei... Mas quando se está na escuridão, você se apega qualquer coisa. A esperança é falha, mas ainda existe. — ele chuta uma pedrinha no chão. — Você se apega como se aquilo fosse uma saída, mas, na verdade, é só mais uma válvula pra te puxar mais para baixo.
E ele me encara de novo.
— Infelizmente, quando se descobre isso, é tarde demais.
Quero levantar e abraçá-lo, e só então me dou conta de que me sentei. Diante do que ele disse, eu pareço patética. E é insano notar como nossa conversa se desviou de Justin Bieber para isso. Mesmo assim sou grata a ele por estar me contando essas coisas. Seja lá qual for esse motivo. Quero dizer que eu o entendo, e que ficará tudo bem, entretanto, isso é raro demais. Sinto que não é disso que ele precisa. Mas não sei do que ele precisa.
Mesmo assim, levanto do chão e caminho três passos até ele. Para o seu lado e olha para a rua. Estamos muito próximos. Nem um palmo de distância, acho.
Sem pensar muito, deixo meus braços o embalarem e o puxou para mais perto, fazendo a distância entre nós desaparecer. É um abraço estranho, de lado, inicialmente ele não faz nada. Mais uma vez sinto cheiro dele, algo com o shampoo chique e agora, definitivamente, cigarro. Apoio meu rosto no ombro dele... O tecido da camisa é confortável, e o aliso quase sem me dar conta do que estou fazendo. Ainda assim, não paro.
Segundos depois, Noah atira a guimba do cigarro em um lixo de metal próximo de nós, acertando-o em cheio. Ainda estou abraçada a ele, os ventos acertando o meu rosto, então, ele deita a cabeça sobre a minha.
Ele é mais alto que eu, e continuar nessa posição logo se tornará um desconforto para ele. Mesmo assim, o tempo passa e ele não se move para longe, pelo contrário, ele toca os meus braços que o envolvem e, lentamente, passeia com os seus dedos por ali, como se quisesse me prender a ele.
Provavelmente, isso é a coisa mais estranha que já vivi como um — quase — completo estranho. No entanto, nada em mim quer se afastar.
As mãos dele já estão voltando a temperatura normal, mas seu coração ainda bate acelerado. Consigo senti-lo batendo como uma bateria agitada em seu peito, que está sob meu braço. Suspiro, e ele faz o mesmo.
— Desculpe — digo baixinho.
— Pelo quê? — ele sussurra de volta.
— Por não saber o que dizer... — e eu realmente não sei.
— Às vezes, Sina, a mais que uma pessoa pode fazer além de dizer alguma coisa. Você foi profissional nisso.
Algo em sua voz transparece que ele está sorrindo, e sorrio também, embora ele não possa me ver.
— Você não precisa descer? — pergunto depois de mais alguns minutos, por mais que queira ouvi-lo dizer não. Eu ficaria ali com ele por horas.
De repente, ele soltou um suspiro que eu nem havia percebido que ele estava prendendo.
— Preciso — ele fala baixo, como se não quisesse ouvir as próprias palavras. — Droga.
Então, ele desvencilha os braços dos meus e eu cedo, devagar, sentindo cada músculo do meu corpo rejeitar a ideia de me afastar dele.
— Aqui está seu fone. — ele me entrega a caixinha.
— Obrigada. Confesso que não estava muito preocupada com fone...
— Ah, é? — ele está com sorriso no rosto. E ele é tão mais bonito sorrindo do que com os olhos pedindo socorro... Por um instante, desejo que ele só sorria... mesmo sabendo que isso não depende de mim. Algumas coisas deveriam estar ao nosso alcance, algumas coisas como fazer as pessoas felizes. — Estava preocupada com o quê?
Sorrio de volta, mas não respondo a pergunta.
— Agora acabaram as desculpas para a gente se ver de novo.
— Acabaram... Mas, isso não significa que não vamos nos ver. Você me deve Amélie, lembra?
— Sim, se esse encontro tiver sido satisfatório para mim, não?
— E não foi? — seus olhos estão arregalados, fingindo surpresa.
— É... — finjo pensar. — Você tem Facebook? Eu posso pensar e te avisar por lá.
— Ahm... não tenho.
— Não tem? — olho para ele, verdadeiramente impressionada. — Quem não tem Facebook hoje em dia?
— Noah Urrea. Esse cara não tem Facebook.
— Este cara é um idiota. Ele deveria fazer um.
Ele faz uma careta engraçada.
— Ele nunca teve um bom motivo para criar um, mas... — ele busca de novo as minhas mãos e me gira, como em uma dança — talvez, para receber um sim, valha a pena esse idiota criar um Facebook. Vou sugerir.
— Faça isso. Digo, faça a sugestão.
Minha saia gira de uma forma bonita, como se tivesse vida própria.
— Farei. E, caso ele me escute... quem ele deve procurar lá?
— Um sim... Quer dizer, Sina. Sina Deinert.

{4/4}O último AAAAA 🥺👉🏻👈🏻Eu também vim avisar que saiu fic nova no meu perfil, então vai lá conferir! Aproveitando também deem uma olhada na minha outra fic It's you

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O último AAAAA 🥺👉🏻👈🏻
Eu também vim avisar que saiu fic nova no meu perfil, então vai lá conferir! Aproveitando também deem uma olhada na minha outra fic It's you.
Xoxo

𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora