007|sɪɴᴀ

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— Gostei de você — assumo para o Noah, sentindo o vento fresco da noite paulistana me acertar quando ele abre a porta do Starbucks.
— Eu também gostei de você — ele assente, me olhando com aqueles grandes olhos claros com olheiras em volta. Penso no quão pouco ele dorme, e no tanto de coisas que o deixa acordado. Um pensamento estranho sobre alguém que eu acabei de conhecer.
— Nunca pensei que eu fosse quase gostar de ser atropelada — brinco, e ele enfia as mãos nos bolsos, provavelmente ainda se sentindo culpado pelo atropelamento.
— Bom, sobre isso... — ele faz uma pausa. — Desculpa. Sei que você já disse que não tenho culpa, mas, ainda assim...
— Relaxa. Está tudo bem, mesmo.
— Então, tá bem.
— Certo.
Um silêncio bizarro se instala entre nós à medida que o vento fica cada vez mais refrescante e a noite, cada vez mais escura. Os carros buzinavam cada vez mais no trânsito atrás de nós, encaro o Noah sem saber muito o que fazer. Ele não parece saber mais do que eu.
— Então... acho que é isso — digo, por fim.
— É... — ele concorda, sem olhar para mim.
— Bom... então, eu... acho que já vou — é o que eu digo, por mais que eu não queira ir a lugar algum.
— Espera — ele intervém e eu agradeço mentalmente. Algo nele contém o magnetismo quase sobre-humano, que não deixa eu me afastar dele, por mais que ele represente o mistério pra mim. — A gente vai embora assim?
Então, ele coça a nuca e me lança um olhar meio sem graça. Imagino que ele também não queira ir a lugar algum. Entretanto, por um motivo que desconheço, as palavras resolveram escapar de nós, e parecemos dois ridículos numa das esquinas da avenida paulista. Dois ridículos que nem sabem se expressar.
— Seu fone — ele diz, de repente. — Tenho um sobrando lá em casa que não uso. Por favor, fica com ele.
Penso por um instante se o que ele está dizendo é verdade. Sendo ou não, quero vê-lo de novo, então...
— Sim. Fico.
— Então, tá. Onde te encontro para entregar? — ele pergunta. Sinto como se isso fosse um convite para algo mais. Nos outros encontros convencionais, os cara só pedem meu telefone. Ele não se importa com meu número, ele quer certeza, não há possibilidade. Sinto arrepio diferente e sorrio.
Talvez ele só não queira meu número por ter tido o telefone destruído mais cedo.
— Bom... Onde eu posso te encontrar? — devolvo a pergunta.
— Aqui, na paulista — ele responde e dá de ombros. Eu sorrio. A Paulista é enorme, e é quase uma piada ele dizer que posso encontrá-lo aqui, onde milhares de pessoas passam por dia.
— Algum local mais específico, senhor Noah?
— Livraria cultura, Conjunto Nacional — ele diz apontando para um dos sentidos da avenida. — No meu trabalho. E quando não estou trabalhando, vou lá também. Estou sempre lá, resumindo. O dia que você quiser, procure por mim. Estarei esperando.
— Livraria cultura, então — confirmo, dando alguns passos lentos para trás. Talvez isso facilite a ir embora. — Esteja esperando — digo em voz alta e me viro, caminhando na direção do metrô. Estarei esperando também.

 Estarei esperando também

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Xoxo

𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora