031|sɪɴᴀ

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Cheguei em casa e havia uma única luz acesa: a do meu quarto.
Achei aquilo estranho. Fui até lá e encontrei minha mãe deitada na minha cama, numa posição que não aparentava ser muito confortável. Tirei a bolsa em silêncio, troquei de roupa, tomei um copo d'água na cozinha e voltei. Ela continuava do mesmo jeito, então, toquei-a lentamente, e ela despertou num susto que me assustou também.
— Mãe! — falo baixo para não acordar meu pai, que certamente está no quarto ao lado.
— Ah, oi Sina — ela diz, sonolenta, e se senta na cama. — Preciso mesmo falar com você.
— O que houve? — pergunto, apreensiva.
— É sobre o seu namorado, Noan. Quero conhecer esse menino.
Ela é direta e categórica, o que me faz rir.
— Ele não é meu namorado, mãe — corrijo. — E a pronúncia correta é Noah. A grafia também.
Ela me olha confusa e dá de ombros.
— Que seja. Noah. Quero conhecer esse menino. E a senhora pare de chegar tão tarde em casa, mocinha. Você não é mais criança, mas São Paulo não é uma cidade tão tranquila para você ficar zanzando por aí as... — ela para de falar e olha para o relógio sobre a escrivaninha — três e vinte da manhã! Ave Maria! Já para cama. — ela dá um tapinha de brincadeira na minha bunda e levanta com dificuldade da cama.
Não posso evitar um sorriso, me deito no colchão que agora está quente no lugar onde ela estava deitada.
Minha mãe já está de saída e com a mão no interruptor para apagar a luz, quando a chamo.
— Mãe...
Ela encara, esperando.
— Ele não é meu namorado, mas... quero que vocês o conheçam mesmo. Vou tentar marcar alguma coisa, ok?
Ela me olha, surpresa. Acho que não esperava que eu fosse concordar.
— Ele é um cara legal. — dou de ombros. — Você vai gostar dele.
Ela esboça um quase sorriso e apaga a luz, saindo do quarto, um segundo antes de fechar a porta, a escuto dizer:
— Bom sonhos filha, durma bem. E, ah, seu pai foi lá na agência hoje, a papelada saiu. Amanhã a gente lê com calma.
Então, ela sai e fecha a porta, deixando-me no escuro e com os pensamentos a mil. A última frase dela me faz rolar na cama a noite inteira, e era a única coisa de que eu não precisava.

....

Seria mentira dizer que acordei algumas horas depois, porque, na realidade, nem dormi. Mesmo assim, fiquei no quarto o máximo possível para evitar falar com meus pais. Quando percebi que estava no limite do atraso, saí do quarto e gritei um bom dia apressado, correndo para o banheiro.
Tomei meu banho de sempre, arrumei o cabelo, vesti a roupa e me maquiei um pouco. Saí e voltei rapidamente para o quarto. Peguei as coisas de que precisava, jogando tudo na bolsa, e saí.
Minha mãe me olhou da cozinha no instante que eu cheguei na sala.
— Mãe, desculpa... Acordei atrasada e preciso correr. Como alguma coisa na rua mesmo, ok? Não precisa se preocupar! Um beijo.
Por um segundo, noto que ela me olha sem entender nada. E fica óbvio que estou fugindo dela.
Eu me sinto mal por isso, mas, no momento, aquela papelada é algo que não posso, não quero e não consigo encarar.

....

As ruas estão abarrotadas como sempre e, depois, o metrô.
Desço na estação MASP-Trianon, passo pelo local onde vi Noah pela primeira vez e meu coração aperta.
Mesmo assim, tento ignorar o pensamento e continuo seguindo. Depois, chego ao prédio do estágio, cumprimento o porteiro, aperto o 13 no elevador e subo.
Cada segundo que passo pensando, sinto como se eu fosse ficar louca. Felizmente, hoje tem muito trabalho.

....

Estou quase atrasada para a aula quando saio do estágio. Hoje, editei mais coisas do que deveria, mas fico feliz. Todos aqueles cortes e edições deixaram minha cabeça anestesiada por algumas horas, e ganhei até um elogio do chefe pelo trabalho bem feito.
Em qualquer outro dia, eu ficaria feliz, mas, hoje, me sinto sufocada.
Diferente do trabalho, as horas na faculdade são quase uma tortura.
Parecem levar o dobro de tempo, e as matérias teóricas e expositivas pioram essa sensação. Cada minuto parece demorar cinco, e eu só quero que o último professor diga logo que estamos dispensados.
Quando, finalmente, as aulas terminam, voo para fora da sala como se minha vida dependesse disso. Agora, consigo pensar em sorrir. Então, uma ideia surge.

....

De novo, estou quase correndo pela paulista, quando avisto Noah saindo do Conjunto e indo para casa.
— Noahzito — grito, e ele olha para trás. Quando me vê, abre um sorriso e para. Corro até ele.
— O que você está fazendo aqui? — ouço sua voz abafada no meu abraço perguntar.
— Saí da aula mais cedo, quis te ver um pouquinho. Fiz mal?
— Não, claro que não — ele continua sorrindo. — Você nunca faz mal em vir me ver — sua mão desse pelo meu braço e encontra a minha mão. Nossos dedos se enroscam. — Como foi o seu dia?
— Chato — falo. — E o seu?
Então, Pepe aparece perto de nós.
— Olá, Sina. — ele vem com um sorriso e os braços abertos para me abraçar. — Quanto tempo, hein?
— Alguns dias. Como está a vida?
Noah olha dele para mim com um sorriso.
— Bem, você sabe... Trabalhando, trabalhando, aturando esse rapaz aí falando de você o dia todo...
O rosto de Noah cora, e eu acho graça.
— Ele também fala de você o tempo todo — brinco, e Noah sorri.
— É o que eu mais faço. Você sabe do meu amor por você, Pepe. Não precisa ter ciúme.
Nós caímos na gargalhada ali mesmo, no meio do passeio, às dez e pouco da noite.
— Então, meninos... Um café, alguém? — pergunto, e Pepe responde:
— Soube que há um Starbucks ali embaixo — ele indica a Augusta.
— É um dos meus favoritos. — é Noah quem fala agora.
— O que estamos esperando? Vamos? — Pepe toma a frente, e o seguimos, sorrindo e conversando. Esqueci de todos os meus possíveis problemas, e Noah volta a ser meu porto seguro, apesar de sua tatuagem ser um oceano.
Nunca vou compreender como um coração turbulento pode ser o cais de alguém, mas não ligo.
Ele é o meu e me sinto segura, feliz e completa com ele.
Esses três motivos me fariam navegar em qualquer tempestade.

 Esses três motivos me fariam navegar em qualquer tempestade

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O que será que são todas aquelas papeladas?
Xoxo

𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora