Sou louca. E a cada segundo que passa tenho mais certeza disso.
Enquanto corro pela Paulista até o estágio, meu coração palpita. Estou atrasada, e a adrenalina ainda corre nas minhas veias me dando mais gás para ir mais rápido. Fico rindo sozinha só de lembrar, e algumas pessoas olham para mim enquanto passo, apressada, até que chego ao prédio onde precisava estar dez minutos atrás.
Ainda assim, atrasaria mais cem vezes para dançar com o Noah dentro da livraria, enquanto os vendedores olhavam para nós com sorrisos no rosto, e Pepe ainda filmava tudo. Por fora, eu sei que parecia tranquila e segura, mas, por dentro, havia uma escola de samba inteira tocando os tambores no meu coração.....
Mais tarde, naquele mesmo dia, chego em casa exausta e minha mãe está me esperando na sala. Congelo só em vê-la.
— Oi — falo baixo.
— Oi — ela responde, seca. — Sina, não pense que eu não notei que você tem me evitado.
— Que isso, mãe... É coisa da sua cabeça — minto, e meu coração bate forte no peito. É horrível ter que agir como uma fugitiva, mesmo quando você não fez nada de errado. Odeio mentir e também nunca fui fã de fugir de problemas, mas, nesse momento, tudo o que quero é minha cama.
— Que seja. De hoje não passa. A papelada está aqui e a gente vai ver isso agora, você querendo ou não.....
As horas passam, e continuo fazendo as mesmas coisas: acordo, metrô, estágio, cafés, faculdade, metrô, casa, cama e, então, finalmente, o sol renasce e é quinta de novo. Dia de mais um filme, mais um passeio, mais tempo a sós com o Noahzinho.
Por isso, acorda de bom humor. Não quero pensar em trabalho nem em estudos, só quero pensar nele. Consegui mais uma folga por, mais uma vez, quase me matar de trabalhar puxando edições e outras tarefas afim de adiantá-las, o que me deixa ainda mais feliz, por mais que tenha me causado muitas dores de cabeça e estresse.
Hoje, consigo mandar a primeira mensagem:
Rá, ganhei! Acordei primeiro! Dorminhocoooo.
Mas, ele responde quase de imediato.
Já estou acordado, estava esperando você.
Respondo, curiosa:
Assim não tem graça, poxa. Aonde vamos hoje?
E o celular logo apita de novo.
Surpresa! Mas são dois lugares, e ambos envolvem comida, então... Não coma nada ainda!
Tudo bem.
Digito de volta. Mas não conto o quanto estou ansiosa. Ele deve saber, afinal.....
Chegou ao prédio dele pontualmente, e ele já está na porta me esperando, com um sorriso.
Hoje, particularmente, ele está lindo. Está usando uma calça preta com a barra um pouco dobrada, deixando um trecho da canela à mostra. Um sapato azul escuro que reconheço como um creeper por ter o solado mais alto que os sapatos comuns. E um suéter listrado, vermelho, branco e preto.
No rosto, o cabelo lindo de sempre, e um Ray-ban modelo clubemaster, preto e dourado. É como se ele tivesse acabado de sair dos anos 1970, e gosto disso.
Dou um abraço nele e um beijo rápido nos lábios. Percebo que ele também está deixando um bigode fofo crescer ali, e acho graça.
— E então? Para onde vamos?
— Espero que você esteja com fome. E que goste de mortadela — ele responde, misterioso.
— Ah, não! — junto as peças. — O mercado municipal?
Ele sorri.
— Bingo! Mas não conte para ninguém — ele brinca. — Você já foi lá?
— Sim — falo. — Meu pai é fã das bebida de lá, costumávamos ir quando eu era pequena. Mas, de uns anos para cá, nunca mais voltei.
— Eu também — ele responde com o semblante um pouco triste. — Também ia com meu pai, e ele também gostava das bebidas.
— Talvez a gente se conhece desde sempre. Só que, naquela época, você não andava de bicicleta. Daí...
Ele abre um sorriso e nem termino a frase, sabendo que ele entendeu. Ele me abraça mais apertado, e entramos num táxi.....
O Mercado continua igual desde a última vez que estive aqui: bonito do lado de fora, com seu prédio histórico e seus numerosos vitrais. Ao passarmos por sua entrada, somos imediatamente envolvidos por uma diversidade de cheiros: das frutas, verduras e de outros alimentos, além das flores e artesanatos.
Os vitrais são mais visíveis aqui dentro, e ver a arquitetura do lugar, com suas suntuosas pilastras de colunas de suspensão até o teto com filetes de vidro para iluminar durante o dia é quase de tirar o fôlego. Nas lojas, inúmeros potes com iguarias, temperos e outros produtos se combinam em uma enorme variedade de cores, e é bonito de ver. Agora, enquanto subimos até o restaurante para onde Noah me guia, reparo no lugar como jamais fiz.
É possível se sentir fora de São Paulo, ou em uma viagem no tempo, se você puder mentalizar isso. É lindo e diferente.
— Lá — ele diz. — Aquele foi um dos primeiros restaurantes a funcionar no mercado, e era onde meu pai sempre me trazia. Especialmente aos domingos.
O lugar parece tranquilo e o cheiro de mortadela e camarão está em toda parte. Como ainda não é a hora do almoço, poucas pessoas estão sentadas nas muitas mesas, e caminhamos até um dos lugares vazios.
Um garçom surge quase imediatamente.
— Bom dia... — e estende o cardápio, que Noah me entrega.
— Já sei o que vou pedir — ele diz. — Quero o tradicional sanduíche com mortadela, e uma Coca-Cola, por favor.
Olho para ele e sorrio, a luz deixando-o ainda mais bonito, e sei que ele nem se dá conta disso.
— Vou querer o mesmo, então.
— Tem certeza? — Noah questiona. — Aqui também tem um pastel de camarão delicioso.
— Isso mesmo — o garçom intervém.
— Não, tenho certeza. O mesmo pedido para mim.
O garçom anota em um bloquinho e sai, deixando-nos a sós.
— Não gosto muito de camarão — comento.
— Sério? Eu não tenho o costume de comer sempre, mas, no pastel daqui fica realmente delicioso.
— Um dia, quem sabe...
— Tudo bem... Agora... Coca-Cola? Sério? — ele dá um sorriso.
— Pergunto o mesmo para você.
— É para me lembrar da infância — ele responde, saudoso. — Era o que eu sempre pedia. E você?
— Não me lembro mais do que eu pedia — confesso.
— Não... O porquê da Coca. Só para me acompanhar?
— Também... E porque acho que, com ela, o sanduíche vai descer melhor. É grande demais. — ele dá uma gargalhada. — Não tenho tanta prática quanto você, aparentemente.
— Sina, quando o sanduíche chegar e você der a primeira mordida, vai poder comer só aquilo para o resto da vida. Você vai ver que estou certo — ele aperta minha mão com carinho.
Sinto que poderia ficar aqui, com ele, comendo sanduíche de mortadela e sentindo a mão dele na minha. Isso, sim, para o resto da vida.....
Ainda estamos rindo de uma piada que ele lembrou, quando o celular dele toca, e ele me pede um segundo para atender.
— Oi, Sabi...
Ele levanta e se afasta, e o vejo ao longe sorrindo enquanto fala com a Sabi. Só então me dou conta de que não sei nada sobre eles. Não sei quando se conheceram, como se tornaram tão amigos. Não sinto ciúme dela. Na verdade, fico até bem feliz em saber que ela cuida tão bem dele desde que se conhecem. Mas sinto que essa é uma parte importante da vida e da história dele, e me pergunto se tenho direito de me intrometer.
— Era a Sabi... Ela disse que está indo para a Liberdade, e perguntou se não queremos ir lá...
— Tudo bem — respondo sem muita certeza. — O que vão fazer lá?
— Vamos — ele corrige, me incluindo no passeio. — Chupar um Melona. Você já experimentou?
— Não... O que é isso?
— Você vai saber em breve — ele diz num sorriso. Então, dividimos a conta e saímos do Mercado, indo em direção ao bairro da Liberdade, que está mais perto dali do que eu pensava.Demorei, mas postei!
Xoxo ✨
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𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓
Lãng mạn[CONCLUÍDA] Noah passou por uma fase terrível e seu coração ainda está despedaçado. Agora, ele decidiu viver um dia após o outro, tentando compreender as particularidades dessa cidade enorme que é São Paulo, onde ele vive, mas se sente sozinho. Poré...