032|ɴᴏᴀʜ

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Ficamos pouco mais de meia hora no Starbucks porque o Pepe precisa ir para casa e, querendo ou não, eu e Sina também. Então, ela me surpreende dizendo que quer vir aqui.
Claro que concordo, apesar de ela insistir na ideia de não demorar, que é só para uma coisa bem rápida e que não quer me atrapalhar. Por mim, ela pode ficar o tempo que quiser.
Quando entramos no apartamento, ela pergunta se eu posso levá-la até o quarto de música. Claro. Lá, ela tira o celular da bolsa e conecta um cabo de som ao celular dela.
Notando meu olhar confuso, ela explica:
— Não é nada demais. Só queria dançar uma música com você.
Dou um sorriso largo, e ela se aproxima, com o celular na mão.
— Na verdade, eu escutei essa música no filme a que assisti hoje, durante o trabalho.
Então, ela dá play.
A melodia é melancólica, mas bonita. Uma voz começa a cantar em inglês, enquanto traduzo mentalmente a letra, com minhas mãos na cintura da Sina, os braços dela subindo pelas minhas costas e suas mãos presas ao meu ombro.

Não me prometa muita coisa
Eu prefiro que você não o faça.
Uma promessa não significa muito para mim, não mais

Seja meu. Seja meu.

Toda a escuridão e toda a luz
No raiar do dia e da noite mais profunda

Seja meu.
Oh baby, me abrace mais apertado, eu não peço mais nada.

Acho que nunca estivemos de fato tão próximos. Agora, todos os centímetros do nosso corpo parece estar colados, e é a melhor sensação que eu já senti. Não quero que a música termine nunca, para que não precisamos nos soltar.

Isso é o bastante agora, isso é tudo o que preciso
Você não precisa falar, só me dê companhia.

Seja meu.
Oh baby, me abrace mais apertado, eu não peço mais nada.
Seja meu.

Quando a música acaba, um silêncio paira no quarto e no apartamento inteiro. Todo o som que parece nos rodear vem da avenida lá embaixo, e, depois de um tempo, nos afastamos.
Ela está com um sorriso no rosto; eu, com uma lágrima na bochecha, que ela seca com um toque suave e calmo. Eu sorrio também.
— Essa música é linda. Quem canta?
— Alice Boman. E a música se chama Be Mine, caso não tenha notado — ela brinca.
— Imaginei. Obrigada por me apresentá-la.
— Não precisa agradecer. Eu precisava dançá-la com você.
— Fico feliz por ter me escolhido — brinco.
— Nenhuma outra escolha seria tão perfeita.
Então, eu me inclino para beijá-la. Ela não se afasta.
Algum tempo depois, estou olhando nos olhos dela quando ela me encara e diz:
— Minha mãe quer conhecer você.
Sinto algo estranho no peito, como uma antecipação. Parece com a ansiedade, mas, não é exatamente a mesma coisa.
— Quer? — pergunto, como um idiota.
Ela faz que sim com a cabeça.
— Vou entender se você não quiser, ela só... Acha importante, eu acho.
— Tudo bem. Vou conhecer sua mãe.
— Sério?
Os olhos dela se iluminam, e fico feliz por ser a causa disso.
— Sério. Vou incluir na lista dos nossos passeios — brinco.
— Tudo bem. Quando quiser — ela diz, e damos o assunto por encerrado. Precisarei pensar sobre isso.
Em seguida, ela vai embora, me deixando ali com sua ausência e saudade. E só quando deito na cama, o pulso ainda acelerado, um sorriso no rosto e meu coração pulsando forte, é que consigo absorver tudo.

....

Finalmente, é quinta de novo.
Os dias se arrastaram como nunca, e, mesmo falando com Sina ao telefone ou pelo Facebook, senti falta da presença dela, dos abraços, do sorriso, dos beijos... Os trabalhos na faculdade começaram a apertar, assim, passamos a ter menos tempo para nos vermos. E, para piorar, ela me contou sobre como está puxando o máximo de coisas do estágio para fazer, mesmo que ela tenha que perder metade do seu tempo de almoço. Isso acabou impedindo que nós nos víssemos ocasionalmente na livraria.
Você sabe que não precisa fazer isso, né?
Perguntei, enquanto conversávamos no Facebook.
Sei, sim, mas quero. Assim, na quinta-feira podemos ficar até a hora da minha aula... Ou seja, mais tempo juntos!
E, assim, os dias foram passando e a saudade, aumentando.
Por isso, quando o despertador toca cedo na quinta, eu desligo de imediato. Já estou acordado há horas. Então, é fácil pular para fora da cama.
Antes de fazer qualquer coisa, vou até o quarto de música, escolho um CD na prateleira e coloco para tocar em alto e bom som, não importando que sejam oito e meia da manhã e que talvez ainda existam pessoas dormindo no prédio.
Bom dia, flor do dia. Já acordei.
Envio a mensagem para Sina. Claro que estou brincando, jamais seria meloso a esse ponto. Espero que ela perceba a brincadeira.
Não demora muito e ela responde com um:
Bom dia, sol da manhã. Já estou de pé. Na verdade, nem dormi.
Nem eu. E nem meus vizinhos dormirão a partir de agora.
Envio, junto com um áudio da música que está tocando e vários Emotions de um homenzinho dançando.
Enviar mensagens é um pouco mais divertido do que eu havia pensado.
Vou até a cozinha enquanto a música ecoa pelo corredor. Preparo um lanche rápido de café da manhã, que como em velocidade recorde. Em seguida, pego uma ecobag e começo a organizar biscoitos, sanduíches que preparei depois de voltar da livraria ontem, sucos em garrafas térmicas e algumas guloseimas.
Mando uma última mensagem:
Estou saindo daqui. Te encontro no MASP em 15 min? Não se esqueça de levar o forro e a cesta, hein?! Beijo.
Já estou chegando, você vai se atrasar.
Uma carinha mostra a língua.
Sorrio e vou ao quarto desligar o som. Em seguida, pego minha bolsa, a ecobag, as chaves do apartamento e, quando já estou de saída, vejo meu maço de cigarros caído atrás do sofá. Fico confuso por um instante, não faço ideia de como ele foi parar ali.
E, o mais curioso: nem imagino que dia que caiu ali. Por mais que eu tente, não consigo me lembrar da última vez que fumei.

𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora