034|ɴᴏᴀʜ

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É terça-feira, e estou na livraria como quase sempre. Não são nem duas da tarde, por isso o movimento ainda está consideravelmente baixo.
Agradeço mentalmente por isso. Assim, posso passar ao menos um pouco de tempo encostado em uma das estantes na segunda rampa, jogando conversa fora com Pepe, que me fala sobre os novos artistas que estão lançando álbuns esse mês, e alguns muitos bons que eu deveria ouvir. Ele disse que anotará as sugestões para mim e eu aceito, já ansioso.
Gosto de Pepe, de seu gosto musical e de sua paixão pela música, que é quase — se não igual — à minha. Assim como eu, ele também tem a tendência perigosa de deixar quase metade do salário na livraria, com diversos CDs e DVDs novos, e alguns poucos livros. Confesso que ele piorou muito quando começamos a conversar, mas não me sinto mal por isso.
Não é de todo um hábito ruim.
Caminhamos lentamente para a sessão de música, fingindo que estamos "procurando" por possíveis clientes, mas, na verdade, só queremos ter tempo para ouvir uns trinta segundos de uma música nova que ele disse que preciso conhecer.
Ele encontra o CD na prateleira, passa no leitor de código de barras e eu abaixo um pouco, me escondendo e apenas aproximando o fone de ouvido à orelha. É que assim fica mais fácil fugir, caso alguém apareça.
Na verdade, nós fazemos isso quase sempre, e os vendedores dessa sessão já nos acobertam há meses. Eles nos acham loucos e engraçados, e fico feliz por nenhum deles querer nosso emprego. Ou bastaria uma denúncia para possivelmente estarmos no olho da rua.
Uma música pop toca no player, e os cinco primeiros segundos já me conquistam. A música se chama Touch It e é do novo disco da Ariana Grande, que não para de tocar na loja desde que foi lançado.
A batida da música é muito boa e eu quase me perco nas harmonias vocais da cantora.

Pois toda vez que estou com você
Eu me fecho
E me lembro dos lugares onde você quer ir
Me leve até o fim
Não há ninguém que irá nos tocar.

Então, Sina aparece na minha frente, com um vestido listrado, um casaquinho e a pasta de lado. E me surpreende completamente.
Largo o fone numa tentativa desastrada, que faz mais barulho do que programado, e ela ri.
— Não precisa fingir que está trabalhando. Sou eu.
Dou um sorriso sem graça. Muito sem graça.
Hoje seus cabelos estão partidos ao lado da cabeça e caindo sobre o ombro de uma forma graciosa, como todas as curvinhas quase perfeitamente desenhadas que antes se perdiam no Black Power, e tento congelar aquela imagem no cérebro para desenhá-la em casa.
— Oi — respondo, finalmente, como se estivesse despertando de um torpor. — Não esperava você — confesso, e ela dá de ombros.
— Essa é a graça das surpresas.
Pepe sai de trás de uma prateleira, sorri ao vê-la e a abraça.
— Não conte para ninguém o que estávamos fazendo — ele pede, fazendo graça.
— Pode deixar, sou um túmulo — ela brinca e faz um sinal com as mãos como se fechasse a boca com um zíper imaginário.
Sorrio, ao mesmo tempo em que meu coração acelera.
Eu me aproximo dela e toca sua mão, de leve.
— Olha se não é... a minha namorada.
Falar isso pela primeira vez é estranhamente bom, mas posso sentir minhas bochechas corarem. Ela sorri também, aparentemente sem graça.
— E olhem se não é o meu namorado... Ouvindo música no trabalho — ela sussurra, e tenho a sensação de que eu poderia derreter completamente em seus braços.
— Não conte para sua mãe que faço esse tipo de coisa — peço, e ela me lança um sorriso conivente.
— Não ousaria.
Sorrio e me desvencilho de suas mãos com muita dificuldade, e me afasto um pouco.
— Ei! Vem cá!
Ela reclama, coloca um CD aleatório no som da loja e se aproxima de novo. Então, envolve minhas mãos com calma e meu coração acelera. É tão difícil respirar quando ela está tão perto e, ainda assim, eu não consigo me afastar. Deixo que ela apoie sua mão no meu ombro e, de repente, seu corpo parece um lugar inóspito — e belo — , mas minhas mãos não se sentem dignas de tocá-la.
Mesmo com um pouco de medo, descanso minha mão livre em sua cintura e ela sorri.
— Isso vai ser inédito, Noah — ela sussurra para mim.
Sorrio ao ver que ela está sorrindo também, animada.
Assusto quando ela aperta play no som da loja.
— Não acredito que vamos fazer isso — digo, olhando-a nos olhos.
Ela me encara ainda sorrindo.
— Posso ser demitido — insisto, deixando meu lado sensato transparecer. É tão difícil ser sensato quando ela me olha nos olhos...
— Sei que você não liga pra isso.
Então, ela deita a cabeça no meu ombro e tenho a certeza de que eu realmente não me importo nem um pouco em ser demitido, contanto que ela permaneça comigo.
Ela é a única capaz de fazer todas as minhas barreiras desabarem. Eu não tenho o menor controle. Nem quero ter.

Desculpa pelo sumiço 🥺🙏🏻Xoxo ✨

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Desculpa pelo sumiço 🥺🙏🏻
Xoxo

𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora