026|ɴᴏᴀʜ

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— Tem mais uma coisa — pego na sua mão. Fico feliz em ter deixado o melhor para o final. Levo Sina até o quarto de música, abro a porta, acendo a luz e vejo os olhos dela se ascenderem junto. E não é a primeira vez que isso acontece.
— O que vamos dançar hoje? — ela pergunta, o que me deixa feliz. Adorei dançar com ela ontem, e faria isso por horas e dias se eu pudesse.
— Não planejei nada — confesso — , mas, podemos escolher. — aponto algumas das muitas prateleiras abarrotadas de CDs e discos de vinil por ali. E há outras pela casa.
— Tudo bem — ela se senta na minha poltrona vermelha.
É a primeira pessoa além de mim a fazer isso. Nem mesmo Sabi já havia sentado ali. Não porque eu não deixasse, só que... nunca aconteceu. Sina parece sempre tão confiante e segura... Gosto disso nela. Não consigo ter metade dessa autoconfiança, mas gostaria. Acho bonito como ela entra em qualquer lugar com a cabeça erguida. E como se ela soubesse do poder que tem, da beleza que carrega. Não que ela se acha melhor que alguém, mas claramente não se acha pior. E isso é legal.
Além do mais, aonde ela vai tem alguém olhando para ela. Não sei se pelo estilo, pelo cabelo que está cada dia de uma maneira diferente, as roupas que parecem sempre feitas para ela ou, sei lá. Ela é sempre chamativa, sem ser escandalosa. É só... estonteante.
Sempre quis usar essa palavra, mas nunca achei um lugar onde ela se enquadrasse tão bem.
— Bom — retomo o foco, seu presente está aqui.
Então, corro até a sala e tiro a sacola da Livraria de dentro da bolsa. Quando volto, ela me observa, ansiosa.
Entrego a sacola e ela tira o pacote com cuidado. Apesar de estar embrulhado, dá para saber que é um CD.
Sina me encara, e suponho que esteja feliz. Apesar de ela não sorrir, seus olhos brilham.
Então, ela abre a embalagem de presente com cuidado e tira o CD lá de dentro. É a trilha sonora de O Grande Gatsby, que comprei hoje mais cedo na Livraria. Só não imaginava entregar tão rápido.
Ela sorri, mostrando todos os dentes bem alinhados, levantando num impulso e me dá um abraço. Na verdade, o abraço mais apertado que já recebi. E ele funciona, é como se ela colasse tudo o que há de quebrado em mim. Em um só abraço, sinto como se tudo estivesse finalmente voltando para um lugar que eu nem sabia que existia.
— Noahzitito, não acredito!
— Noahzitito? — pergunto. Esse é novo também. — Agora sou Noahzitito?
— Sim, Noahzitito. — ela continua sorrindo. — Noahzito é pequeno demais para um apelido. Acho que usarei os dois... Obrigadaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! — e os "as" continuam por mais um tempo. Ela está tão próxima que seus cabelos cobrem meu rosto e, então, consigo sentir o cheiro doce deles. Algo naquele perfume acelera meu coração, e tenho medo de que ela sinta como ele bate quase ensandecido perto dela.
Ela se afasta e solto um ar que eu nem tinha percebido que estava prendendo há tanto tempo.
— Como eu te disse aquele dia — gentilmente, pego a caixa do CD das mãos dela, abro, tiro o disco de lá e ligo o som — , eu realmente me apaixonei por essa trilha sonora... E tem uma música em especial que eu gostaria de ouvir com você.

Soltem a música

Coloco o disco no aparelho e avanço até a música específica. "Into The Past" começa a tocar, com seus sussurros e batidas. Então, sento no chão e deixo que ela volte à cadeira onde estava. Enquanto a música toca, permaneço sentado no chão, apenas absorvendo a letra, as batidas e os arranjos.
Os arranjos de violino ecoam pelo quarto e pela casa quando a letra diz "I'll follow you" ("Eu vou seguir você"). Um arrepio corre pelo meu corpo e penso em tudo o que aquela música significa para mim. E como quero que Sina saiba inglês o suficiente para entender a letra.

Eu posso ver a luz
Mas na escuridão
Eu vou seguir você!

A música termina, e Sina parece diferente, mas não consigo decifrar como. A próxima faixa começa e eu paro, tiro o CD, guardo na embalagem e devolvo para ela.
— Obrigada de novo. A música é linda... Realmente amei os violinos e tudo mais. Não precisava, sabe. — ela indica a caixa do CD.
— Não precisa agradecer. Você já deve ter notado o quanto música significa para mim, e sei o quanto filmes significam para você. Você me apresentou aquele filme com aquelas músicas, então... Nada mais justo — pisco para ela.
Saio do quarto de música e vou até a sala. Eu me sento no sofá que quase nunca é usado, a não ser pela Sabi, e ela faz o mesmo.
— Você já precisa ir embora, né? Quer comer ou beber alguma coisa?
— É... Não exatamente.
— Não quer comer ou beber ou não quer ir embora?
— Acho que não preciso ir embora agora — ela responde num sorriso.
Sorrio também.
— Então... Quer fazer alguma coisa?
Ela pensa por um momento, e, depois, começa a revirar a própria bolsa.
— Talvez possamos antecipar isso — e tira o DVD da bolsa.
Amor e Outras Drogas.
Sorrio de novo, e peço que ela espere um pouco.
Vou até a cozinha enquanto ela continua na sala. Estou remexendo em algumas panelas e vasilhas quando Sina aparece no batente da porta.
— O que você está fazendo?
Sorrio para ela e aponto o pacote de milho de pipoca sobre a pia.
— Vamos ser tradicionais hoje, ok? — coloco uma colher de manteiga na panela, enquanto acendo o fogo.
— Você sabe fazer pipoca de panela? — ela pergunta, surpresa.
— Sra. Sina — brinco — , sei fazer muitas coisas de comer. Fui obrigado a aprender, esqueceu?
Ela parece arrependida por ter feito a pergunta.
— Sim, desculpe... Não quis tocar no assunto e...
— Relaxa — interrompo. — Está tudo bem.
Ambos ficamos calados por um momento. Então, quando a manteiga derrete, coloco o milho na panela e tampo, esperando os estudos.
Quando começam, ela puxa o ar e começa:
— Noahzitito, como você está?
A pergunta me surpreende; não sei o porquê.
— Estou bem... E você?
— Eu também estou bem. — ela dá um sorriso triste que contraria o que diz. — Estou perguntando por que... Você me contou todas aquelas coisas aquele dia, mas eu não entendo...
— O que você não entende?
Eu me aproximo dela e puxo um banco da mesa da cozinha para que ela se sente. Eu faço o mesmo.
— Tudo... você... ainda tem depressão?
— Tenho... Mas tomo remédio. Sabe... Ter depressão é quando você não consegue se importar com nada... Nada te motiva, nada te move. Ansiedade é quando você se importa demais. Ter os dois é, bem, um inferno.
— É que... eu não entendo. É tão injusto. Você não deveria ter passado por tudo aquilo. E, eu pesquisei um pouco a respeito, a coisa é séria. A síndrome do pânico e tudo mais... Você vai ao médico mesmo, certo?
— Sim, eu vou. Só preciso marcar a consulta.
— Você faz terapia ou algo assim?
— Não... Eu fazia, mas parei.
— Por quê? Desculpa, acho que estou sendo invasiva demais. É só que... estou preocupada com você.
Por mais que esteja mesmo sendo invasiva e, sinceramente, esse era uma barreira que só a Sabi havia ultrapassado antes, por algum motivo deixo que ela a ultrapasse também. Sinto que preciso falar, ou vou me sufocar com meus próprios sentimentos.
— Por que eu sentia que elas não entendiam. Passei por vários, e todos ficavam lá, escutando eu dizer o que estava sentindo, as mesmas coisas todas as vezes. Hoje estou mal, agora estou pior. Não tenho fome, não tenho energia. O remédio não está funcionando. Sim, eu tentei fazer um diário, mas não ajudou em nada. Não consigo mais desenhar, não consigo mais focar nos livros, não consigo mais caminhar. Só quero ficar deitado, só quero morrer, não gosto de mim, não gosto de você, não gosto de ninguém. Estou afogando em algo que não sei o que é, e não consigo nadar para a superfície, não consigo escapar. Quero chorar, mas não consigo, estou seco. Estou ansioso, mas nem sei pelo quê. Não consigo dormir, não consigo parar de pensar, não consigo fazer nada de bom. Não consigo me ver no espelho. Alguns fazem umas anotações intermináveis em caderninhos e, no final, me diziam que eu ficaria bem. Bem. Uma baboseira danada. Eu estava perdendo meu dinheiro e tempo em algo que não funcionaria. Todos diziam que eu melhoraria... Já tem anos que me dizem isso e ainda estou esse caco. Sinceramente, você é o mais perto do bem que já cheguei.
Quando termino, estou ofegando, e só então percebo o cheiro de algo começando a se queimar. As pipocas já pararam de estourar na panela. Os olhos de Sina estão marejados, e minha bochecha está molhada.
Céus, o que eu fiz?
Levanto correndo e vou até a panela, desligo o fogo e jogo as pipocas na bacia. Felizmente, poucas queimaram. Ao menos isso.
Coloco sal na pipoca, ainda tentando recobrar a respiração, e sinto que Sina me observa mesmo sem que eu olhe para ela. Continuo agitando a bacia para que o sal cubra todas as pipocas. A pipoca já está no ponto, mas não consigo olhar para trás, não consigo olhar para a Sina. Não consigo olhar para trás e ver as palavras invisíveis que eu deixei escapar. Como foi que eu deixei tudo isso escapar?
Balanço a bacia até o momento que sinto as mãos da Sina no meu ombro, suaves e macias.
— Acho que todas as pipocas já estão com sal — ela disse baixinho, num sussurro. Então, suas mãos descem devagar pelos meus braços e sinto os meus olhos pensando se fechando, enquanto expiro. A bacia toca a pia e eu a solto, deixando os braços caírem enquanto Sina fecha os dela ao redor de mim como em um abraço. Sinto seu rosto escorar no meu ombro, e minhas pernas ficam bambas.
Seus polegares fazem desenhos suaves em mim, e relaxo como nunca relaxei antes. É a sensação de paz mais estranha, mais confortável e mais necessária que já senti. É como se eu estivesse boiando em uma água fresca, azul, cristalina... E o sol não fosse forte demais, a luz não fosse clara demais, como se o tempo não passasse, e a dor não existisse. É melhor do que qualquer remédio que já tomei.
Sina continua do mesmo jeito, como se não tivesse mais nada para fazer, como se não houvesse amanhã e a vida dependesse daquilo. Então, abro os olhos e a claridade da luz da cozinha me invade, me trazendo de volta a realidade.
— Sina, obrigado. — tento virar para ela enquanto ela ainda me abraça. — Isso foi ótimo, e...
Meus lábios são tomados por outros lábios, que impedem que eu termine a frase.
Sinto o beijo da Sina, suas mãos tocando meu pescoço e uma eletricidade correndo por cada veia, cada terminação e cada centímetro do meu ser.
A presença dela inunda tudo e, com um só beijo, ela reativa uma esperança em mim. Quero ser melhor. Quero melhorar, e ser bom o suficiente para mim. E, depois, para ela.
Ela me completa, e sinto que preciso fazer o mesmo por ela.
E ela continua me beijando.

{5/8}Surtando estou AAAAAAAAAAA 🤧💕E aí gostaram do primeiro beijo deles? A partir de agora só vem tiro, então já preparem os coletes

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Surtando estou AAAAAAAAAAA 🤧💕
E aí gostaram do primeiro beijo deles? A partir de agora só vem tiro, então já preparem os coletes.
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Xoxo

𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora