012|ɴᴏᴀʜ

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Estou escorado em uma das milhares de prateleiras da livraria. Trabalho aqui há pouco mais de um ano e ainda me impressiono com o tamanho. São três andares meio verticais, com uma decoração de madeira e uma espécie de ossada de dinossauro gigante pendurada no meio dela.
Também adoro o piso xadrez em tecido. Uma vez, disse a Sabi que eu colocaria um tapete daquele na minha casa se eu pudesse. Obviamente, ela me ridicularizou, porque essa era a Sabi: alguém que não podia concordar ou discordar de nada sem antes tirar sarro de mim. Mesmo assim, gosto dela.
E é claro que, ao invés de estar, de fato, trabalhando, estou pensando em como eu e a Sabi nos conhecemos. Acho que foi uma festa uns três anos atrais... Era no quintal da casa de um ex-amigo da escola com quem hoje não tenho mais contato, e por algum motivo ela estava lá. Acho que ela devia ter quinze anos, e eu tinha exatos dezoito... O fato é que ela estava bebendo feito uma louca isso chamou minha atenção, porque, além de ser baixinha, era óbvio para todo mundo ali que ela não tinha idade para estar fazendo aquilo.
Ninguém se importou muito, nem eu, no início. Só continuei ali com meu pequeno grupo de amigos e observando-a casualmente. Ela parecia completamente segura e cheia de si... Por mais que não aparentasse ser maior de idade, a sua atitude compensava facilmente. Ela era realmente uma ótima atriz.
Pouco tempo depois, ela saiu da rodinha de pessoas que dançavam qualquer coisa aqui eu não estava prestando muita atenção e se sentou sozinha (acho que uma garrafa de bebida alcoólica não conta como acompanhante) debaixo de uma árvore do outro lado do quintal. Ali, seu semblante parecia sombrio e frio, solitário e amargurado... Algo muito diferente da máscara que ela parecia usar antes, enquanto rodopiava ao som da música pop.
Sem pensar muito, fui até lá, lentamente, com medo de expulsá-lá... Como se ela fosse frágil e amedrontada. Sentei ao seu lado e ela apareceu nem dar a mínima. Continue ali por um momento, enquanto ela fitava o vazio, e me perguntei se ela estava bêbada a ponto de não se dar conta da minha presença ali. Então, ela levou a mão até a garrafa, na intenção de levá-la a boca, o que eu impedi, chamando sua atenção.
— O quê? Eu sou completamente maior de idade... E essa garrafa é totalmente minha.
Comecei a rir, e ela só me encarou, confusa, levando a garrafa a boca e bebendo grandes goles.
— É óbvio que você não é maior de idade... Onde foi que você aprendeu a beber assim? — perguntei, inutilmente.
— Não interessa, Noah. Me deixa beber.
Olhei para ela completamente incrédula. Como aquela menina sabia quem eu era?
— O quê? — eu estava confuso.
— O que o quê? Me deixa beber um gole — ela repetiu, completamente aleatória.
— Deixo, mas... Como você sabe meu nome?
— Todo mundos aqui sabe seu nome. E talvez eu tenha perguntado para o dono da festa, que, por sinal, é meu melhor amigo, por que eu te achei super gato e eu queria totalmente te pegar.
Gargalhei e ela me olhou, séria... Eu estava quase envergonhado, mas, continuei rindo.
— Qual é o problema, Noah?
Ouvi-la chamar meu nome com a voz arrastada era hilário, fora as revelações que ela nem se dá conta de ter feito.
— Nada, não é nenhum problema. Como você e o Charles se conheceram? — perguntei, sabendo que ela não o conhecia. Apesar de Charles ser um dos meus melhores amigos, ele não era de fato amigo de ninguém. Era um cara popular, mais que não dava a mínima para as meninas a não ser que estivessem se beijando. Um babaca, eu sei... Quase todos são babacas no ensino médio. De qualquer forma, eu sabia que eles não eram melhores amigos.
— Não sei... — ela respondeu simplesmente. — Fui até ele mais cedo e me apresentei... Depois, perguntei quem você era quando vi você ali. — ela apontou na direção de onde eu estava antes. — Foi assim que eu conheci o Charles. E ele é o dono da festa — falou.
— Então, vocês não são melhores amigos... — provoquei.
— Não — ela respondeu, decidida. — Não o conheço.
Algo na sinceridade embriagada daquela menina me agradou, e continuamos conversando a noite toda. Depois, descobri o nome dela, como ela havia ido parar ali e como ela, mesmo bêbada, era igualmente divertida. Eu costumava odiar pessoas bêbadas, mas, Sabina acabou se tornando alguém que eu amaria independente de seu estado físico ou mental. Ambos eram adoráveis.
Por ela ser bem mais nova (entre outros tantos motivos incluindo o fato dela estar bêbada), não ficamos na festa e, com passar do tempo, fomos nos conhecendo melhor e percebendo que não, não ficaríamos. Tive sorte, pois calhamos de nos tornar de fato melhores amigos, e não há ninguém que eu escolheria para dividir tudo se não ela.
E alguém que não é a Sabi cutuca meu ombro.

....

— Cara, tem uma cliente aí... Gata. Querendo falar com você.
— O quê? Quem? É mais velha? — pergunto para o Pepe, que também é vendedor aqui na livraria. Um dos poucos com quem converso.
— Velha? Quê? Não, cara... Deve ter uns 20 anos. É gata.
Respiro aliviado. Não é minha mãe. Por mais bonita que, de fato, seja, ela não parece mais ter 20 anos... Apesar de também não aparentar ser tão mais velha que isso.
Quando vou ao andar térreo da Livraria, meu coração pula uma batida quando a vejo. É a Sina.
Ela está realmente muito gata: o cabelo loiro — que hoje está num black power muito bem construído —, um laço ao redor de tudo para enfeitar um pouco mais, uma camiseta roxa bonita e uma saia comprida que vai até o pé. Com muitas flores.
Ela sorri um pouco nervosa e eu faço o mesmo. Vejo também que a dois copos de Starbucks em sua mão que me fazem corar e sorrir mais ao mesmo tempo. Reconheço de cara que um é o Frappuccino, e o outro é um chocolate.
— Faltou o croissant — comento quando estou mais próximo dela. Por algum motivo, sei que Pepe está pouco atrás de nós, observando.
— Quem disse que isso é pra você? — ela pergunta com sorriso provocante. É difícil não encarar o rosto dela.
— Rei Noah — leio o copo. — Rei...? — repito, sem entender.
— Sim. De Madagascar. Esse é seu mesmo... E essa sou eu — ela mostra o Frappuccino. —: Mork. Do mesmo desenho.
Olho para ela completamente confuso, mas, ainda com um sorriso fácil nos lábios.
— Ah, é uma história aí... Você está ocupado? Quer dizer, claro que está — ela fala depressa. — Eu só pensei se, é... Poderíamos tomar um café ou algo assim?!
Olha rapidamente no relógio e vejo que ainda estou longe do meu horário de almoço. Então, eu me preparo para dar de ombros quando o Pepe me chama.
— Noah. — ele acena com a cabeça para Sina. — Estou no meu horário de almoço, mas... não estou com a menor fome. Você não quer ir no meu lugar?
Ele tem um sorriso sacana no rosto e me pergunto o porque de ele estar fazendo isso. Ao ver Sina ansiosa por uma resposta, não tenho como dizer não.
— Quero. — e pego o copo de chocolate onde está escrito "Rei Noah".
Ela ainda precisa me explicar essa história.

 Ela ainda precisa me explicar essa história

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Xoxo

𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora