É realmente engraçado ver como as pessoas conseguem ser curiosas, mas, ao mesmo tempo, não se importar de verdade.
Enquanto eu caminhava com a Sina ao meu lado e empurrava a bicicleta que estava com pneu empenado, as pessoas viravam a cabeça pra tentar conferir o manco como sangue seco no braço direito e sua "acompanhante" um pouco ralada. Mesmo assim, a cena não é impressionante o bastante, porque elas logo se viravam para frente continuava andando, atarefadas.
Chegamos à esquina onde ficava o meu segundo Starbucks favorito da cidade sem precisar caminhar muito. Abri a porta para ela logo após prender a bicicleta ao lado de fora. Sina entrou no lugar sem cruzar os olhos com os meus.
— O banheiro fica ali — apontei com a cabeça enquanto terminava de fechar a porta de vidro. O interior do local estava refrigerado e agradeço mentalmente por isso. O dia estava bastante quente para uma primavera.
— Você não vai se limpar? — ela perguntou, enquanto eu ia em direção ao balcão.
— Não precisa se preocupar comigo — respondi estampando um sorriso. — Estou bem — menti.
— Ok. Já volto.
Vi ela se afastar e suspirei, virando para o balcão. Um atendente me olhava entediado.
— Eu vou querer dois Frappuccinos, por favor... Que dizer, um Frappuccino grande e um Chocolate Clássico, por favor.
— Mais alguma coisa?
Encarei o balcão por um momento e ponderei. Pensei na Sina toda ralada por minha causa, e percebi que ela merecia mais que somente um simples Frappuccino.
Torci para que ela gostasse de croissants também.
Enquanto pagava o moço que me encarava com preguiça, eu me lembrei da minha mãe, que, provavelmente, já estava em um táxi indo para minha casa — e que me esperaria sozinha lá por um bom tempo. Ela nunca se importou em me deixar sozinho, então, porque eu me importaria?
Avisei ao atendente que iria ao banheiro e que retornaria logo para pegar o pedido. Caminhei apenas alguns passos entrei no pequeno e claro banheiro, colocando-me de mim de frente para o espelho. Tirei cuidadosamente o plástico filme que envolvia a tatuagem — e bastante sangue seco — e senti um ardor. Abaixei o braço dentro da pia e deixei que água lavasse toda aquela vermelhidão e o ardor aumentou consideravelmente. Soltei um gemido baixo, mesmo que não tivesse mais ninguém ali pra ouvir. Torci por um instante para que a Sina estivesse tendo mais forte que eu. Só que esse era um pensamento idiota certo? Eu nem a conhecia. Mas, não conhecê-la não me isentava da culpa de tê-la machucado. Ela parecia bastante legal. Ou sabia atuar muito bem.
Olhei para o meu braço e soltei um suspiro decepcionado. Meu coração, ou melhor, o coração que eu havia desenhado e que Seu Olavo havia tatuado em mim tão cuidadosamente, estava um pouco borrado em uma das ondas que bordavam seu contorno.
Merda. Estraguei uma tatuagem em menos de 15 minutos depois de colocá-la na pele.
Senti vontade de fumar, mais aquilo me pareceu estranhamente estúpido. Pela primeira vez, senti que inalar toda aquela fumaça tóxica não resolveria meus problemas.
Sequei com cuidado o meu braço ferido, torcendo para que ele não infeccionasse. O borrão não estava tão ruim assim... Poderia passar despercebido, ou eu poderia colori-lo mais tarde, para disfarçar um pouco mais.
Tentei ajeitar o cabelo no espelho do banheiro e saí de lá sem sucesso. Voltei ao caixa e o rapaz que havia me atendido pareceu ainda mais entediado com a situação.
— Meu pedido está pronto? — perguntei, após ponderar por um instante se eu deveria mesmo incomodá-lo.
— Está. E a moça já está com ele — ele respondeu vagarosamente. Olhei para trás e vi Sina sorrindo na última mesa, no canto mais isolado do lugar que estava quase vazio, apesar de estarmos no meio da semana e só um pouco depois do horário em que as pessoas saíam do trabalho.
Fui caminhando na direção dela, que me olhava com um sorriso escancarado enquanto bebia seu Frappuccino. Sentei no banco em frente a ela.
— Está se sentindo melhor? — ela apareceu pensar por um instante.
— Quem não se sente melhor com Frappuccino?
Sorri.
— Você está certa. — dei de ombros e peguei meu chocolate. Beberiquei o líquido quente e quase cremoso. — Espero que goste mais de croissants que eu.
— Adoro — ela respondeu sem pensar, abocanhando um. Eu ri da franqueza dela, e mordi um pedaço do meu croissant também que estava bem gostoso, embora me lembrasse mais da minha mãe do que eu gostaria.
Um silêncio quase embaraçoso surgiu entre nós. Eu tentava disfarçar bebendo pequenos goles do chocolate, e ela me encarava com os lábios cheios de farelos do croissant. Um pensamento urgente me ocorreu: como ela era linda e o jeito como parecia saber disso.
— Bom, realmente odeio esse tipo de conversa, mas... o que você faz da vida?
— Você odeia esse tipo de pergunta e ainda assim a faz? Que tipo de pessoa é você? — ela fingiu estar ofendida e eu sorri de novo. Aquela garota era diferente.
— Sou do tipo de pessoa que não quer deixar um silêncio constrangedor num segundo encontro — brinquei. — Muito menos depois de ter atropelado você.
Ela só deu de ombros.
— Sou estudante de cinema. E esse ainda é o primeiro encontro.
Senti meu rosto esquentar.
— Ahnm... conte- me mais sobre isso — pedi, sem saber mais o que falar.
— Sobre nosso primeiro encontro ou sobre meus estudos?
— A faculdade — falei ainda mais envergonhado, mas sorrindo para mostrar certa casualidade. Algo nela mexia comigo.
— Ah, sim — ela pareceu se divertir com a minha confusão. — Bom, estou no quarto período e adoro. Sempre amei cinema, por causa dos meus pais... Então, acabo me sentindo em casa mesmo não estando.
Sorri para ela, e desejei amar alguma coisa por causa dos meus pais também... Mas tudo aqui eles me remetiam era destruição.
— E sobre você? O que eu deveria saber?
— bom... Não sei — confessei. — Não acho que eu seja muito interessante. — dei de ombros.
— Também não tenho como saber se você não me contar — ela argumentou, minha analisando. — Que tal se começarmos com algumas perguntas aleatórias?
— Perguntas aleatórias? De que tipo?
— Nada muito difícil. — um sorriso charmoso apareceu no seu rosto. — Me conta o que você canta no banho... E qual mousse você prefere: maracujá ou chocolate?Vou tentar escrever mais um cap hoje, e se eu conseguir posto de madrugada
Xoxo ✨
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𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓
Romance[CONCLUÍDA] Noah passou por uma fase terrível e seu coração ainda está despedaçado. Agora, ele decidiu viver um dia após o outro, tentando compreender as particularidades dessa cidade enorme que é São Paulo, onde ele vive, mas se sente sozinho. Poré...