Chego ao prédio dele dez minutos atrasada. Espero que ele já não esteja preocupado.
Dou um oi constrangido para o porteiro, vou até o elevador, aperto o número do andar dele. O elevador sobe, para e a porta se abre em seguida. Eu me olho no espelho no último segundo para conferir se está tudo ok e saio. Toco com a campainha.
Escuto risadas lá dentro, e meu coração acelera de ansiedade.
A porta abre e não é Noah que está atrás dela. É Sabi, com seus centímetros a menos e com uma expressão engraçada que não me permite evitar em dar um sorriso.
— Ei, Sabi.
— Ei, Sina! — ela se afasta e abre mais a porta para que eu passe. É diferente ver a casa iluminada pela luz do sol, e bem surpreendente, mesmo já tendo vindo aqui outras vezes. — Não se preocupe, não vou atrapalhar vocês. Só estou aqui para contar uma coisa para você.
Fico sem jeito quando ela sugere que atrapalharia. Então, Noah aparece no batente da cozinha com um potinho de sorvete e uma colher cheia que está indo em direção a sua boca. Ele olha para mim e não diz nada, só dá um sorriso fofo e abocanha o sorvete. Suas bochechas hoje estão curiosamente coradas, e acredito que seja algo que a Sabi tenha causado a ele. Fico feliz por ela conseguir deixá-lo assim, e espero aprender algo com ela.
— Si, tentei impedir que ela te contasse, mas, conhecendo a Sabi como conheço, sei que não tinha nada que eu pudesse fazer. Não pense que não estou constrangido também — ele avisa. — E, ah, tem sorvete para você aqui também.
Sorrio em agradecimento, e acho graça do "Si". Ele nunca havia me chamado por um apelido antes.
— Qual é a história? — pergunto, enquanto me escoro no sofá, de frente para os dois.
— Então... Eu fui com o Noahzinho aqui — e ela aponta para ele — fazer compras no supermercado mais cedo. E, depois, ele disse que me pagaria uma Starbucks, o que, claro, aceitei — agora ela já está com sorriso largo, e ele sorri também, mas timidamente. — Só que, o que seria uma linda tarde de quinta-feira, quase se transformou em um pesadelo.
Ela fica mais séria e me encara com seus olhos escuros, e eu me endireito, preocupada. Mesmo assim, Noah ainda sorri.
— Quando abrimos a porta daquele Starbucks envidraçado na paulista — percebo que é o mesmo que fomos, na primeira vez que nos vimos — , eu vi meu ex lá dentro, vindo em direção à saída, e, consequentemente, a nós. — ela olha de relance para o Noah. — E eu entrei em desespero. Ele estava com outra menina, e eu quis morrer. E foi aí que o Noahzito teve a ideia de fingir que era meu namorado... E me deu a mão, entrou no Starbucks como se não soubesse quem era o André, que nessa hora já estava passando por nós E que, segundo o Noah, ficou encarando ele, embasbacado!
Sorrio com a história e imagino o Noah tendo a ideia de salvar a pátria para a Sabi no último segundo do último tempo. Imagino também a cara do ex ao ver o Noah de mãos dadas com ela.
— É que, na verdade — ela retoma — eu só estou contando isso para dizer que...
— Sabi, não — Noah a repreende, visivelmente constrangida e pronto para atirar uma almofada nela, que termina de falar antes que ele a impeça.
— Pra dizer que ele daria um ótimo namorado — ela agora gargalha — , e bom filme para vocês!
— Sabi! — Noah grita, envergonhado, mas Sabi já está do lado de fora do apartamento fechando a porta.
Ele fica um minuto parado de costas para mim. Quando me encara, ainda está com um sorriso bobo, as bochechas vermelhas e o cabelo um pouco atrapalhado.
— Ahm... — ele parece calcular as palavras. — Ignore isso tudo que ela disse.
— Tudo bem — respondo, num sorriso.
— Sorvete? — ele oferece, indicando a cozinha.
— Adoraria.....
Pouco mais de duas horas depois, Ela termina e, apesar de Noah ter chorado algumas vezes, ele sorri agora.
— O filme é incrível — ele comenta, baixinho, e seus olhos ainda brilham com a luz do projetor.
— Eu te disse — brinco. — A fotografia é linda, né?
— Sim, e a trilha sonora, uau! — então, ele puxa o computador que está na mesinha ao lado da cama e digita algumas coisas. — Achei!
— Achou o quê? — eu me esgueiro sobre ele na cama para olhar. Há uma página aberta no computador com uma imagem igual a do filme, mas sei que é de um álbum.
— A trilha sonora. E ela será a minha em três, dois... — e aperta o enter. Vejo o download sendo feito na conta dele e, em menos de dois minutos, ele dá play. — Vamos ouvir... Essa daqui. Photography. Em homenagem a você que gosta da fotografia, ok?
— Ok.
Um segundo depois, ele aperta um botão, e o piano mais lindo que já ouvi ecoa por todo o quarto. Estou cercada pelo som, que não sai do computador, mas do sistema de som que fica espalhado pelo quarto e, aparentemente, funciona sem fios.
Deito a cabeça no peito dele, que respira tranquilo. Deixo que a música invada cada pedaço de mim, e sei que ele faz o mesmo. Por isso, não consigo me conter quando minha mão alcança a dele, macia, suave e do mesmo tamanho que a minha, e ambas se fecham juntas, com ternura.
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𝐀𝐒 𝐋𝐔𝐙𝐄𝐒 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 - 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓
Romance[CONCLUÍDA] Noah passou por uma fase terrível e seu coração ainda está despedaçado. Agora, ele decidiu viver um dia após o outro, tentando compreender as particularidades dessa cidade enorme que é São Paulo, onde ele vive, mas se sente sozinho. Poré...