Capítulo 2 (Angel)

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Depois que mamãe e tio Rob saíram, fui até a cozinha, peguei minha tigela de sopa de legumes da geladeira com o toque de pimenta que somente Maria sabia dar, e coloquei no micro-ondas. Eu estava completamente tranquila, as coisas vinham melhorando conforme o tempo passava. O ditado "Dê tempo ao tempo" realmente servia para tudo, e no meu caso, se encaixava perfeitamente. Cada dia apesar da dor no meu peito, eu compreendia que tudo que havia acontecido era por algum motivo, só não tinha descoberto qual motivo. No fundo acredito que todos têm um destino, e talvez numa parte da minha vida, no meu destino, estava escrito que eu teria que passar por tudo aquilo. E conhecer Jason tinha sido a melhor parte. A carta que ele me deu, bem... Tem sido um dos motivos de eu estar bem. De ainda existir uma centelha de esperança brilhando dentro de mim. A leio sempre que sinto que vou desabar, e ali encontro forças ao perceber que quando tudo terminar, talvez ele apareça.

Peguei uma tigela com pão que estava em cima da bancada, e virei-me para colocar no prato que estava na cuba da pia, porém, parei. Notei uma sombra no quintal da casa. Pela janela da cozinha conseguia ver perfeitamente a sombra de uma pessoa atrás de uma árvore no quintal. Abri mais a cortina para ver melhor. Então quase morri do coração quando a sombra se moveu. Moveu-se tão rapidamente que parecia que nem estava ali. Por um momento minhas esperanças ressurgiram como uma fênix das cinzas. "Seria possível a sombra ser de Jason?"

Acho que realmente eu só estava me enganando, tentando me fazer acreditar que estava bem. Jason ainda está infiltrado em mim. Na minha alma. No fundo do meu coração.

O som do micro-ondas me tirou do transe, e me fez desgrudar a cara do vidro da janela que eu praticamente estava tentando atravessar, como se eu fosse uma alma de outro mundo. Recostei-me na bancada, enquanto meu coração batia rapidamente e minhas mãos suavam.

— Era Jason, só podia ser ele! — Falei para mim mesma.

Sem pensar duas vezes, saí em disparada pela porta da frente, abrindo-a com toda a força. Parei no fim da varanda e gritei o mais alto que pude.

— JASON!!!

Meu coração batia alucinado no peito e minhas pernas tremiam. Apoie-me no batente da varanda, sentindo cada parte do meu ser quebrar. É difícil tentar juntar todos os caquinhos quando se está completamente quebrada. Quando eu achava que havia feito algum progresso e o Super Bonder tinha começado a secar, vinha à dor, e me despedaçava novamente. 

— Eu sei que é você. Por favor, fale comigo? — Olhei ao redor procurando um movimento, uma sombra, uma luz, mas não tinha sinal de ninguém. — Por favor, seja você! — Suspirei desolada.

Eu realmente era uma idiotia.

"Idiota".

— Ele não vem Angel, nunca mais ele virá! — Falei afirmando para mim mesma tentando sufocar um soluço na minha garganta.

Eu só rezava para que esse sumiço dele não significasse que estivesse morto. Lembro-me dos tiros no seu peito. "O que aquele líquido verde pode ter feito a ele?" Eu mantinha esperança de que ele estava apenas longe, pois o preferia longe e vivo, a ter a certeza de que ele estivesse morto.

Sentei-me nas escadas e baixei a cabeça até os joelhos e então, chorei. Chorei tudo o que estava tentando engolir. No começo eu chorava muito, mas com o passar dos dias fui engolindo o choro e mantendo tudo pra mim. Me destruindo. É muita pressão ter que manter todo esse segredo, e não poder contar para ninguém. Não poder dizer para minha mãe que meu pai foi um herói, quando escuto ela falar dele com raiva, isso me faz sofrer ainda mais. É muita pressão ter que esconder coisas da minha melhor amiga, do meu tio. De todos. E o pior de tudo é não saber onde Jason está, se está bem, e se, por algum mero instante ele pensa em mim.

— Angel?

A voz rouca fez meu corpo estremecer. Ergui minha cabeça atordoada e limpei meus olhos que estavam embasados pelas lágrimas. Funguei.

— Por que está chorando assim? — Jeremy me perguntou, sua expressão preocupada.

— Fica aqui comigo. Por favor? — Implorei.

Sem pestanejar ele disse: — É claro!

Jeremy sentou-se ao meu lado e passou um braço ao meu redor, recostei minha cabeça em seu ombro e deixei que meu choro lavasse a minha alma. Jeremy começou a fazer um leve carinho em meus cabelos, e plantou um beijo no topo da minha testa. Ele tinha se tornando um verdadeiro amigo. Eu precisava dele para passar por isso. Eu precisava de alguém para abraçar, sem que precisasse falar sobre isso, e Jeremy sabia respeitar minha decisão e não me fazia perguntas. Eu funguei e respirei profundamente, enxuguei as lágrimas com a barra da minha blusa branca.

Suspirei fundo para tentar fazer a dor diminuir um pouquinho, e eu pudesse recomeçar a recolar os caquinhos.

— Obrigada Jeremy. — Eu disse, olhando-o nos olhos.

Jeremy era muito bonito, antes eu nem havia notado, pois era namorada de Trevor, e jamais ficaria cobiçando o amigo do meu namorado. Esse era o tipo de coisa que garotas como a Patrícia faziam. Mas agora, podia ver o que as garotas líderes de torcida viam nele. Ele tinha uma beleza diferente, seu cabelo castanho e seus olhos cor de avelã eram maravilhosos, e seu sorriso era simplesmente encantador. Algo nele me passava tranquilidade, era como olhar para o mar e no horizonte ver o pôr do sol. Claro que não se comparava a beleza esplendorosa de Jason, que parecia mais um modelo de capa de revista Play girl. "Não que eu estivesse comparando". Além do mais, Jeremy estava aqui, Jason não.

— Você está tremendo? — Ele me encarou, preocupado.

— Estou com frio. — Eu usava uma blusa branca fina de mangas compridas e calção de moletom floral. Minhas pernas estavam geladas, pelo vento frio que a noite lançava no ar. Uma rajada de vento trouxe folhas secas que caíram das árvores ao nosso redor.

Ele chegou mais perto, me aconchegando a ele. Assim que me tranquilizei, e parei de tremer. Ele falou carinhosamente ao pé do meu ouvido.

— Só quero que saiba Angel que eu estou aqui pra você, posso ser seu amigo, seu ombro pra chorar, o que você precisar. Eu estou aqui! — Disse com afirmação.

Ele se afastou um pouco, olhando profundamente nos meus olhos. Sorri pra ele, um verdadeiro sorriso de "muito obrigada".

— Eu trouxe isso para você. — Ele arrancou uma margarida do vaso na varanda que estava ao seu alcance, e me entregou.

— Você não trouxe, você roubou do meu vaso, na minha frente! — Fiz uma careta de indignação e sorri. Ele sorriu mostrando suas covinhas que o deixavam com um jeito super fofo.

— É falta de educação recusar um presente! — Ele disse, mantendo o sorriso. Peguei a pequena margarida e inspirei seu perfume profundamente.

— Ela é perfeita, obrigada Jeremy —  disse.

Sorri. Era bom sorrir.


A Protegida (Segundo livro da trilogia Salva-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora