O movimento de minhas cobertas sendo puxadas, me acordou. Movi-me rapidamente, assustada. Essa vida de pânico que eu mantinha ultimamente, estava me matando. Estava me tornando uma medrosa compulsiva. Mas quando vi Jason, foi como se todos meus medos tivessem sido removidos de mim e um sorriso bobo apareceu nos meus lábios.
Ele tinha tirado sua jaqueta ficando somente de camiseta preta, seu cabelo estava todo bagunçado. Sem ao menos me pedir se podia, ele simplesmente se enfiou embaixo do edredom junto comigo. É claro que eu não diria não, mas fiquei envergonhada por estar usando meu pijama rosa bebê.
— Jason? — Perguntei.
— Sou eu princesa. Posso dormir aqui?
— É claro, você já está aqui! — Eu ri baixinho.
Instantaneamente pensei que poderia estar com um lingerie melhor, menos bafo, menos febre, mais cheirosa. "Ai Meu Deus!"
— Você sabe o quanto você é linda, meu amor? — Ele disse e se ajeitou ao meu lado. Deitei sobre seu peito e sorri, me aconchegando.
— Nunca imaginei que iria gostar tanto de ouvir essa palavra. — Falei, alegre.
— Linda? — Ele perguntou, e pela luz do luar que preenchia o quarto o iluminando, pude ver seus olhos verdes brilharem e sua expressão confusa.
— Não, — Chacoalhei a cabeça. — Amor!
Ele sorriu e fez carinho no meu rosto.
— Sabe... Eu nunca soube realmente quando se tornou amor, eu só sentia que a cada dia que passávamos juntos a vontade de te cuidar crescia cada vez mais, e o medo de perdê-la me matava.
Virei-me apoiando meu peito em seu peito, ficando por cima dele encarando-o.
— Você está romântico! — Ergui a sobrancelha, mas mantinha um sorriso nos lábios.
— Eu preciso recuperar o tempo perdido. Mostrar pra você todas as coisas que eu posso ser. O meu verdadeiro eu.
— Bem... Eu quero saber coisas sobre você. Acho que o nosso curto, mas intenso período de tempo juntos, não deixou que nos conhecêssemos profundamente.
Ele assentiu concordando.
— Certo. O que você quer saber? — Ele perguntou intrigado.
— Tudo. Qual seu filme favorito, sua comida favorita, sua cor. Essas bobeiras! — Falei sorrindo. Ele assentiu e pensou por alguns instantes.
— Ah... Minha cor preferida é o turquesa dos seus olhos!
— Que engraçado, a minha é o verde dos seus olhos.
Sorrimos.
— Minha comida preferida se tornou Yakisoba, mas acho que foi mais aquela noite e não a comida em si. — Ele disse num sussurro e por alguns instantes voltei naquele dia, naquela noite, naquele nosso primeiro beijo.
Concordei.
— E filmes? — Pedi, ele pensou por um instante batucando os dedos sobre minhas costas, onde suas mãos estavam apoiadas.
— Nunca assisti a filmes. Metade da minha vida eu passei nas ruas e a outra metade numa jaula sendo torturado. Não tive tempo para assistir filmes. — Ele falou aquilo tudo de uma maneira tão simples, como se tudo que acabou de sair da sua boca fosse algo normal do cotidiano.
Meu sorriso simplesmente se desfez.
Eu nunca poderia deixar de imaginar por tudo que ele passou quando era apenas uma criança, tudo que ele passou antes e depois do Sombra da Noite. E metade dessa vida horrível era por minha culpa. Eu nunca, jamais me perdoaria por isso. A partir de hoje eu faria de tudo para fazê-lo feliz. Daria pra ele a felicidade que ele merecia ter tido.
— Mas agora, eu tenho você. — Ele me abraçou, me mantendo firme sobre seu peito. E acho que esse foi o momento depois de muito tempo que eu estava me sentindo realmente feliz.
— Temos que mudar isso. — Eu disse de repente, quando ideias malucas preencheram minha mente. —Você precisa assistir a todos os filmes possíveis, pois é impossível viver sem ter assistido Titanic ou Star Wars, ou o meu filme preferido Diário de uma paixão!
— Qualquer dia desses.
— E música? Você cantou aquela música pra mim. Aquela é sua música preferida?
— Sim. Seu pai sempre a escutava, e eu podia ouvir a música da sala onde eu ficava preso. Ele gostava de rock clássico!
— Ele cantava essa música para minha mãe, às vezes.
Ajeitei-me do seu lado repousando a cabeça no travesseiro, seu braço atrás do meu pescoço, me deixando confortável.
— Eu gosto muito de uma. Uma que me lembra muito de você. Posso cantar? — Pedi, constrangida.
— Claro!
— Só não ri. — Falei já rindo.
— Prometo. — Ele disse.
Comecei a cantarolar baixinho Salvation da Gabrielle Aplin.
You are the avalanche
One world away
My make believing
While I'm wide awake
Just a trick of light
To bring me back around again
Those wild eyes
A psychedelic silhouette
I never meant to fall for you but I
Was buried underneath and
All that I could see was white
My salvation
My, my
My salvation
My, my
Quando olhei para cima, Jason estava dormindo profundamente. Despreocupadamente. Deveria ser difícil e cansativo para ele se preocupar tanto comigo, e ainda por cima viver essa vida de fugitivo. Mas ele era assim, mesmo estando com muitos problemas era como se tudo estivesse perfeito. Quando estávamos juntos, tudo estava perfeito.
Eu já realmente não me preocupava em entendê-lo. Decifrar Jason é mais difícil do que tentar decifrar aquelas contas de física que você só falta quebrar a cabeça, e mesmo assim não consegue. Jason é diferente de todos os outros caras que conheci. Com seu jeito estressado e mandão, uma hora está de bem e na outra só falta mandar o mundo se foder. E às vezes, muito raramente ele deixa seu lado carinhoso transparecer. Mesmo não demonstrando muito, eu sei que ele é romântico. E quando eu menos espero, ele demonstra mais um lado que eu não conhecia. É isso que me encanta nele, esse jeito complicado, indescritível. Sempre uma caixinha de surpresas. Ele é a única pessoa que me compreende. É por esses motivos e muitos outros que Jason me tem assim, de uma forma tão inexplicável. Eu nunca pediria que ele mudasse. É desse jeito que eu gosto que ele seja. Porque, com certeza, se ele fosse um daqueles caras todos certinhos, o sonho de qualquer garota por aí, eu não iria amá-lo tanto assim.
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A Protegida (Segundo livro da trilogia Salva-me)
Roman d'amourAngel está desolada. Jason desapareceu de sua vida a deixando apenas com lembranças, e a incerteza de que tudo o que viveram talvez tenha sido apenas um sonho. Angel decide tentar voltar a viver mesmo que as memórias ainda a machuquem. No entanto qu...