Capítulo 9 (Angel)

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Passei aquele dia, totalmente dispersa e aérea a tudo o que acontecia ao meu redor. Não conseguia parar de pensar em Jason, e no porquê ele teria aparecido agora. Em porquê ele tinha que fazer isso exatamente agora que eu estava me conformando, que estava deixando de me martirizar por tudo que tinha acontecido. Eu sei que não seria fácil, mas eu tentaria esquecê-lo. E então ele aparece, e tudo o que eu sinto por ele volta pra mim, simplesmente me nocauteando.

Saí da escola, sem me despedir de Mia ou de Jeremy, nem tinha falado muito com eles esta manhã. Eles sabem que algo está estranho. Sinto-me horrível por não poder desabafar com eles. Amarrei minha blusa jeans na cintura, e fiz um rápido e alto rabo de cavalo. Eu sabia aonde iria, precisava conversar com a única pessoa que sabia de tudo que tinha acontecido. A única que me entenderia.

Andei cinco quarteirões até chegar ao lado mais sombrio, e deserto da cidade de Stantland. A rua de chão batido chegava a ter aqueles redemoinhos de terra por causa do vento forte, e aqueles pedaços de cipós secos que rodavam igual nos filmes de faroeste. Empurrei o portão enorme de ferro que rangeu fazendo um barulho sinistro. Esfreguei os braços e olhei ao redor, parecia que estava sendo seguida. Ir a esse tipo de lugar sempre me deixava com medo, apesar de que eu sempre soube que devemos temer mais os vivos do que os mortos. São os vivos que causam o mal.

O cemitério de Stantland era enorme, e tinha um gramado bem verdinho. As lápides eram todas dispostas perfeitamente nas medidas exatas para que ficassem todas iguais. No meio havia algumas cruzes e estatuetas de anjos enormes, feitos de cimento. Tudo muito límpido e assustador. E o vento que soava em um uivo fino, só me causava mais arrepios. Passei por várias carreiras de lápides procurando pelo nome, até encontrar a que eu queria.

A lápide do papai estava bem branquinha, pois era recém feita e haviam algumas flores murchas e outras ainda vivas. Senti-me mal por não ter lembrando-me de trazer algumas. Larguei minha bolsa e livros ao lado na grama e me sentei de frente para a lápide, sem me sentar em cima de onde achei que estaria o corpo de papai. Seria estranho e desrespeitoso.

Uma lágrima involuntária apareceu quando li a frase escrita na lápide logo abaixo de seu nome.

Willian Dobrev

Querido pai e marido

Senti-me mal, aquele ''Querido'' não condizia com tudo o que ele realmente era, com tudo que ele realmente tinha feito. Ali, deveria ter sido escrito alguma coisa como, herói ou amado, eu não sei, mas com certeza algo que fosse verdadeiro. Não pude vir ao enterro do meu pai, pois estava no hospital. Não pude me despedir e nem dizer o que deveria ter sido escrito ali. Não sei bem se minha mãe veio ao enterro, talvez só por respeito, pois ela o odiava e tinha se tornado uma mulher muito mais amargurada. Eu sabia que ela o amava antes, e agora ela achava que meu pai era um louco que tinha tentado raptar a sua própria filha. E a culpa toda era minha.

Enxuguei as lágrimas que escorriam pela minha face, agora abundantes.

— Me desculpa, pai. Nunca quis que isso acontecesse. — Suspirei.

Eu precisava desabafar com alguém. Eu sei que eu parecia uma louca por estar ali falando com uma lápide num cemitério, mas no fundo eu sabia que onde ele estivesse, estaria me ouvindo.

— Desculpa por ter que mentir para mamãe, mas eu sei que você vai entender. — suspirei — Tenho certeza que teria feito o mesmo por Jason! — Esfreguei a mão no nariz.

— Não sei o que fazer, queria que você estivesse aqui! Queria poder recuperar o tempo que passei te odiando, por algo que você só fez para nos manter a salvo. Sinto-me tão culpada, pai.

A Protegida (Segundo livro da trilogia Salva-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora