Capítulo 14 (Angel)

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Acordei me espreguiçando, já estava me sentindo bem melhor. Mamãe não tinha ido trabalhar e a cada pouco vinha me ver. Maria também tinha feito aquela sopa deliciosa de legumes com pimenta que eu comi, apesar de não sentir nem o gosto da pimenta. Fiz tudo o que elas mandaram para que eu me recuperasse rápido e da melhor maneira possível.

Escutei um barulho no quarto antes mesmo de abrir os olhos. Então me lembrei de que Jason viria me ver de noite.

— Jason? — Pedi baixinho.

— O quê?

A voz de Mia invadiu meu cérebro. Eu abri os olhos rapidamente.

— Mia? — Perguntei incrédula, sentando na cama rapidamente. Ainda era de tardezinha e um pouco de sol entrava pela janela.

— Sim, sou eu. Que bom que você acordou. — Ela me encarou, sentada na cadeira da minha penteadeira. — O que você perguntou?

— Nada. — Chacoalhei a cabeça. — O que você está fazendo aqui?

— Sua mãe me ligou de manhã avisando que você estava doente, que era para eu avisar os professores que você não iria à aula hoje. Então, como foi ela quem me ligou, e não você me pedindo pra te camuflar, eu fiquei preocupada. E disse pra ela que viria te ver depois que a aula terminasse! Ela piscou e sorriu.

— É por isso que eu amo você. — Sorri.

Percebi que ela estava com o notebook ligado em cima da minha penteadeira.

— O que você está fazendo?

— Ah, isso? — Ela se virou para o notebook. — Trabalho da escola que você perdeu hoje, mas não precisa se preocupar, é de biologia e temos alguns dias para entregar.

Levantei e fui até ela, eu usava um pijama de manga comprida e calça verde água com rendinhas nas mangas, Mia tinha um gorro na cabeça e usava uma blusa enorme, fazia muito frio pela tempestade que tinha desabado ontem.

Enquanto ela digitava, me apoiei na cadeira intrigada com a figura na tela do notebook.

— O que é esse negócio esquisito aí? — Apontei para a figura esquisita que parecia com uma bola rosa cheia de pelinhos sendo puxada por uma minhoca com duas pernas.

Mia abriu um sorriso para mim como se fosse à dona do mundo. "Convencida".

— Esse negócio esquisito, é uma proteína miosina arrastando uma endorfina ao longo de um filamento para a parte interna do córtex parietal do cérebro, que cria a felicidade... Nossa quase nem respirei! — Ela disse soltando o ar. E eu fiquei com cara de peixe morto sem entender merrecas.

— Traduza, Einstein. — Eu ri.

Afff! Você está olhando para a felicidade. — Mia virou o rosto para me encarar e sorriu, como se aquilo fosse óbvio.

— Eu já vi a felicidade, e para mim, ela tem olhos verdes. — Falei sem pensar, e tapei a boca com a mão quando percebi que era tarde demais. Mas realmente, aqueles bichinhos engraçados não se comparavam aos olhos intensos de Jason, e a felicidade real que ele me fazia sentir.

— Está apaixonada, hem? — Ela me cutucou, semicerrando os olhos.

Eu só sorri feito boba, sem concordar, mas minha expressão me entregava. Ela me encarou com um enorme sorriso.

— Eu também já vi a felicidade. — Ela disse, francamente. — Ela começa com "S" e termina com "E". — Ela deu de ombros.

— SORVETE!!!

Nós gritamos em uníssono e caímos na gargalhada.

Só Mia para me fazer rir quando minha garganta ainda estava dolorida. Minha risada acabou se transformando em uma espécie de mugido de vaca com grugulejo de peru e tossidas. Um som horrível e dramático.

— Menina, que animal é esse? — Mia perguntou, rindo mais ainda da minha risada maluca, enquanto eu tentava limpar as lágrimas dos olhos de tanto rir. E quanto mais ria, pior ficava.

A porta do quarto se abriu. Mamãe entrou no quarto, vestida com calça jeans, blazer preto, lenço marrom e botas estilo montaria. Linda como sempre.

— Escutei duas hienas rindo, e vim ver como você está! — Ela disse sorrindo, se aproximando de mim e testando a minha febre.

Putz, hiena? — Mia me encarou e mais uma gargalhada explodiu de sua boca.

— Estou me sentindo melhor! — Disse para minha mãe, assim que me recuperei dos risos.

— Sua febre realmente baixou. — Ela me encarou, satisfeita.

— Por que está vestida assim, mãe? — Perguntei e ela se afastou de mim, indo até meu espelho e se analisando.

— Robert me ligou, convidando-me para ir ao cinema com ele. — Sua expressão brilhou. — Eu pedi pra Mia ficar com você. — Ela olhou para Mia que agora já tinha parado de rir, e expressava ar de uma verdadeira psicopata.

— Sim, sua demente, eu serei sua babá! — Mia sorri, um sorriso diabólico esfregando uma mão na outra. Não consegui não rir dela. Eu certamente tinha dó dos seus futuros filhos. Mas o problema aqui era mais grave do que Mia acabar me dando colírio para tomar ou sopa de macarrão cru. Minha mãe não podia sair com tio Rob. Não, sem antes descobrirmos se ele é realmente o Sombra da Noite. Eu não podia correr o risco dela se machucar por minha causa ou de Jason. Apesar de que tio Rob nunca a faria mal. Ele não pode ser um monstro. Ele não é um monstro.

— Mãe, tem certeza de que eu posso ficar com essa louca? Acho que estou me sentindo meio zonza, novamente. — Falei colocando a mão na testa, fazendo minha melhor representação de doente à beira da morte.

— Angel, o que deu em você? Você nunca foi de se deixar vencer por nada, muito menos por um resfriado qualquer. Para de fazer drama, mocinha. — Ela disse me encarando, adquirindo uma postura mais ríspida.

— É que... — gaguejei.

Eu não tinha ideia do que dizer para ela ficar. Sempre fui uma garota forte, e quase nunca fico doente porque não sou de deixar-me abater facilmente por um resfriado à toa. Minha imunidade sempre está a mil, pois me alimento muito bem e faço exames regularmente. Se não fosse o fato de eu correr na chuva fria duvido que teria ficado doente.

Foi então que um plano maluco se formou na minha mente.

— Tudo bem, mãe. Eu ficarei bem! — Dei um abraço nela.

— Por um momento achei que não quisesse que eu saísse com Robert! — Ela me encarou seriamente. Engoli em seco.

As mães devem ter um superpoder de ler a nossa mente, e sempre saberem o que estamos pensando e prestes a fazer.

— Não é isso, só prometa que tomará cuidado e que qualquer coisa me ligará imediatamente. — Falei segurando sua mão.

Eu estava tão preocupada com ela. Mas se tio Rob fosse o Sombra da Noite ele teve muitas oportunidades de machucá-la, e não fez. Ou ele não é o Sombra da Noite ou seu plano não envolve torturar minha mãe. E só de cogitar a ideia de minha mãe ser torturada, me deixou amedrontada.

— Até parece que sou eu que estou doente, Angel. — Ela deu um sorriso gentil e me abraçou, plantando um beijo na minha testa. — Se caso você se sentir mal, ou precisarem de mim é só me ligar, meu amor. Estarei com o celular o tempo inteiro. Eu te amo!

— Também te amo, mãe!

A Protegida (Segundo livro da trilogia Salva-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora