Capítulo 28 (Jason)

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Cheguei em frente à vitrine da Loja Royals's King. A loja era muito chique com roupas de alta costura, um lugar fácil de ver Angel gastando seu dinheiro. Quando entrei seguido por Pepe, que não me deixou em paz até eu dizer que ele podia vir junto comigo, as atendentes nos encaram. Percebi que minha roupa deveria ser incomum para os homens que deveriam comprar ali. Os manequins só usavam gravatas e paletós. E Pepe estando comigo, usando uma parca verde militar e calça amarela, não ajudava em nada. Olhei ao redor procurando algo que me agradasse, mas estava apavorado vendo que teria que usar isso. Não que eu achasse a vestimenta feia, eu não tenho esse tipo de frescura, mas era porque me lembrava do homem que me sequestrou, ele usava terno. E as memórias nunca seriam apagadas da minha mente.

Uma mulher de meia idade se aproximou, vestindo uma saia lápis com cabelos presos num coque alto, impecavelmente arrumado.

— Os cavalheiros estão perdidos? — Pediu intrigada.

— Não. Estou à procura de uma roupa de gala para um baile. — Falei rispidamente.

— Entendo. — Ela me mediu com o olhar. — Você tem alguma preferência?

— Ir pelado seria melhor. — Falei, encarando o manequim ao meu lado que usava um terno em tom de verde musgo. Parecia cocô.

A mulher ergueu as sobrancelhas me encarando e vi um rubor se formar em suas bochechas. Pepe caiu na gargalhada.

— O hombre quiere impressionar una chica.

— Não é uma garota qualquer. — Falei para a atendente que assentiu sorrindo.

— Aposto que se ir pelado, irá impressioná-la muito. — A atendente falou num tom sedutor e Pepe riu mais ainda.

Eu sabia que ter o deixado vir comigo havia sido um erro, pois sabia que ele só iria tirar uma da minha cara.

— Venham por aqui. —A atendente instruiu.

A mulher nos conduziu para um lado da loja que era dedicado aos homens, provei uns cinco paletós horríveis. Não podia chegar assim para encontrar Angel. Precisava estar apresentável para encontrá-la, deixá-la orgulhosa de mim. Cada vez que saia do provador e mostrava como tinha ficado para Pepe, ele se chacoalhava de tanto rir. Ele já estava me tirando do sério.

— Agora está parecendo o Poderoso Chefão.

— Cala boca! — Disse já exaltado, mesmo não sabendo quem era o Poderoso chefão eu sabia que vindo de Pepe não era boa coisa.

Nisso a atendente trouxe mais um e diferente dos outros, desse eu gostei. Ele era todo preto, num tecido metalizado parecia quase molhado, a camisa embaixo tão preta quanto o resto do conjunto e a gravata vermelha como sangue. Obscuro, assim como eu.

Após gastar a quantia de 1,540 dólares num terno, sai do estabelecimento pronto para esse baile. Angel ficaria o dia inteiro na casa de Mia. O que me deixou tranquilo e pode me dar tempo de investigar sobre O Sombra da Noite.

Voltamos para a casa de Pepe. Contei para ele tudo o que Angel havia visto e sobre minhas suspeitas. Ele pegou seu notebook e começou a fazer pesquisas. Após alguns minutos Pepe arregalou os olhos.

— O que foi? — Perguntei andando rapidamente até seu lado.

— Não existe nenhum detetive Allen Carter cadastrado na policia de Stantland.

— Então esse sujeito é o Sombra da Noite? — Perguntei.

— Possivelmente. — Ele respondeu, assentindo.

Nós dois ficamos apreensivos e decidimos investigar mais. Com essa certeza, Pepe pôde se concentrar em achar uma maneira de acabar com o Sombra da Noite. Já eu passei a tarde com Miguel como havia prometido no começo da semana. Ensinei-o a andar de bicicleta sem as rodinhas. Eu não prometeria mais nada que não pudesse cumprir. E era bom dar um tempo da loucura que emplacara na minha vida, era bom ser "normal". Após umas duas horas com Miguel, ele pegou o jeito. Nádia quis me agradecer com um café, o que eu não recusei para agradá-la. Ela era uma boa mãe e Miguel um excelente garoto. Queria ajudá-los de alguma maneira, mas nada de imediato veio a mente.

De noite me vesti e fiquei pronto para buscar Angel. Agora que havia descoberto que Allen Carter, ou seja lá qual era o nome dele, era o Sombra da Noite, eu poderia dar a noite de princesa que Angel merecia ter. Aluguei até uma limusine e comprei flores. Pepe ficaria vigiando o baile e há qualquer indício de perigo me chamaria. Com a certeza de quem era o Sombra da Noite, tudo ficava mais fácil. Conhecer seu inimigo era a melhor forma de se defender e de atacar.

As sete da noite, como havíamos combinado, cheguei em frente à casa da Angel. Subi a escadaria da varanda com o coração retumbante no peito, segurando um buque de rosas vermelhas. Sentia-me como um garoto apaixonado. Essa noite tudo seria perfeito como deveria ser, como ela merecia. A felicidade estava estampada na minha cara. Estava parecendo um babaca com essa roupa, mas tudo bem, era por ela.

Toquei a campainha, e aguardei. Nada.

Toquei de novo e ouvi, mas meus sentidos não escutaram nenhum movimento na casa. Concentrei-me mais, ouvindo mais intensamente, me concentrando em cada cômodo da casa.

Então escutei um gemido agoniado, um leve choro sufocado. E o medo me invadiu. 

A Protegida (Segundo livro da trilogia Salva-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora