Capítulo 22 (Angel)

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O detetive Carter chegou e ficou decepcionado ao saber que Jason não estava mais aqui. Vi seu olhar presunçoso que lançou para mim quando minha mãe disse que nós estávamos namorando. Eu odiava esse sujeitinho arrogante.

— Então, você mentiu para a polícia? — Ele arqueou uma sobrancelha, os braços cruzados sobre o peito.

— Não menti, eu omiti, é diferente. E eu tenho certeza absoluta que Jason não machucou meu pai.

— Ok. Mesmo assim eu gostaria de falar com ele quando possível.

— Tudo bem. Vou avisá-lo. Tenho certeza de que ele fará o possível para ajudá-lo.

— Certo.

Seu olhar penetrante não me abalou. Eu não gostava dele e defenderia Jason como fosse preciso. Olhei para o visor do celular vendo que estava bem atrasada para o começo da aula.

— Mãe, eu preciso ir, se não vou me atrasar para o início da aula. Você pode me levar?

— Achei que Mia vinha te buscar. — Mamãe falou, me encarando.

Eu tinha perdido o Lexus que foi achado num desmanche dias depois do acidente, e ainda não tínhamos dinheiro o suficiente para comprar um novo carro para mim. Então dependia da carona da Mia ou de mamãe. O que era um saco.

— Não. Achei que você ia me levar!

— Eu disse ontem de noite a você que hoje estou indo para uma conferência em Leigtawn, e não poderia te levar para a escola!

— Eu não lembro. — Suspirei.

— Você estava bem aérea mesmo. Agora entendo o motivo. — Ela deu um meio sorriso. Sei que ela se referia a Jason. — Tomou seu remédio, meu amor?

— Sim. Tudo certinho. Já me sinto recuperada da gripe. — Sorri para ela.

— Deixa que eu a levo! — O detetive se ofereceu e eu não gostei nada disso. O jeito como ele sempre parecia disposto a ajudar era algo para se desconfiar. Ninguém age assim sem interesses. Ninguém faz nada sem ganhar algo em troca.

— Ela não vai te atrapalhar, Allen? — Mamãe perguntou.

— Capaz. Eu estava indo para aquele lado mesmo! Ele sorriu.

Contra minha vontade e ainda com receio, acabei aceitando a carona. Eu não tinha muitas opções no momento.

O carro do detetive era bem espaçoso, mas parecia pequeno com nós dois sentados no banco da frente. Até o ar parecia denso ao nosso redor com a tensão que surgia entre nós. Sentei com minha bolsa e livros no colo, olhando pela janela. Ignorá-lo era minha ideia. A chuva descambava do céu tão forte quanto a minha apreensão, e não dava trégua assim como minha impaciência.

— Então... Como está indo a sua memória? — Ele perguntou, ajeitando seu terno que tinha algumas gotículas de água. Retirando-as. Revirei os olhos, percebendo que meu plano de o ignorar tinha ido por água abaixo.

— Ainda não me lembro de nada concretamente, mas acredito que a historia é a que todos sabem. Eu fui sequestrada pelo meu pai e Jason nos ajudou. Blá Blá Blá e ponto final. — Falei impaciente.

Ele sorriu um sorriso estranho, talvez tentando disfarçar algo. Manobrou o carro para longe da calçada e seguimos pelo asfalto.

— Sabe... Sei que você não gosta de mim e tem esse direito, mas eu só quero ajudar. — Ele disse tranquilamente.

Como se eu tivesse acreditado no que ele falou, dei o sorriso mais falso que consegui. Ele dirigiu somente com uma mão ao pegar uma pasta que estava ao seu lado, e ao coloca-la no meu colo, me mandou abrir. Dentro, haviam vários papéis. Ele tirou um papel de dentro e me mostrou. Enquanto dirigia somente com a outra mão.

— Conhece essa garota? — Ele me entregou o papel onde tinha uma imagem. Uma foto tirada de uma câmera de vigilância.

Engoli em seco.

A foto era minha. A garota era eu.

— O que você estava fazendo, Angel? — Ele perguntou.

— Eu só precisava pegar algo na antiga empresa do meu pai. — Disse.

Ele me olhou com desconfiança.

— Sei que você sabe muito mais do que está me contando.

Fiquei tensa sem saber o que falar. Qualquer coisa errada que dissesse poderia dificultar ainda mais as coisas para Jason. Ele pegou outro papel da maleta preta e me entregou enquanto dirigia pela via. A chuva lavava a estrada e trovões podiam ser ouvidos e relâmpagos vistos no céu nublado.

— E o que você acha que ele estava fazendo lá?

Peguei o papel de sua mão e analisei, na foto Jason aparecia na mesma porta de entrada onde a minha foto tinha sido tirada. Na entrada da empresa do meu pai. Deve ter sido quando eu e Mia estávamos lá, pensei comigo. Mas ao observar mais os detalhes da foto pude perceber que a hora e a data em cima escrita em vermelho não eram as mesmas. Ele tinha ido lá dois dias antes de mim, pelo que mostrava ali. "O que ele procurava?".

Não respondi. Não sabia o que responder. Continuava sem ação e reação mediante suas palavras e sua expressão ameaçadora. Irritado ele pegou a foto bruscamente e colocou na maleta. Fechou com uma só mão enquanto continuou dirigindo velozmente.

— Coloque no banco de trás para mim, por favor. —Ele falou num tom um pouco impaciente.

Peguei a maleta de sua mão e me virei para o banco de trás para colocá-la no assento.

Sabe quando você se arrepende de ter tomando uma decisão no começo do seu dia? Pois ter pegado uma carona com o detetive Carter, tinha sido a pior decisão da minha vida. Porque, além de não saber como reagir mediante ao que eu estava vendo, eu travei completamente.

No assento de trás do carro do detetive, havia uma blusa preta com o símbolo do Sombra da Noite jogada ali, como um acesso fácil para vesti-la quando fosse preciso.

Então como em flashes as coisas vieram na minha cabeça, num baque profundo. Deixando-me zonza e confusa.

Ele tinha saído com a minha mãe.

Ele conhecia meu pai.

Ele sabia coisas demais.

Tinha feito perguntas demais.

E agora isso.

Meu corpo se retesou e o medo em mim se alastrou, me dando a certeza que meu sexto sentido nunca erra. Nunca gostei dele e agora sabia o porquê.

O detetive Carter era o Sombra da Noite.

A Protegida (Segundo livro da trilogia Salva-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora