Capítulo 30

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Meu coração parece uma bomba-relógio prestes a explodir. Hinata me abraça com tanta força que, por um momento, tudo parece bem. Sua respiração ofegante acompanha a minha. Pela diferença de altura, seus cabelos escuros tocam meu queixo - e, mesmo sabendo que não deveria, retribuo o abraço com a mesma intensidade.

Ela fungou suavemente. Me pergunto o motivo disso. Talvez o motivo desse abraço repentino e, ao mesmo tempo, tão bom. Nossas respirações são o único som audível, além do vento forte. E tudo parece em harmonia. Como se o universo inteiro tivesse conspirado para aquele instante. Nem mesmo o frio nos abala.

- Hinata, eu trouxe seu chocolate... - Hanabi surge e nos separa abruptamente. Hinata ajeita o cabelo e passa as mãos pelos olhos e pelo nariz. Eu fico ali, um pouco perdido, sem entender o que exatamente aconteceu. - O que vocês estavam fazendo?

- Nada demais, Hanabi - responde Hinata, com as bochechas coradas, talvez pelo frio... ou talvez não.

- Sei. Aqui está seu chocolate quente - ela entrega a caneca à irmã e então se vira para mim. - Acho melhor você tomar um pouco.

Olho em seus olhos claros como o céu de inverno, agora parecendo um mar profundo e misterioso, e aceito a caneca.

- Obrigado - é tudo que consigo dizer.

- Vamos entrar. Está frio demais. E papai já começou a resmungar - Hanabi avisa e entra. Hinata concorda com a cabeça e a segue. Fico mais alguns segundos parado, tentando entender o que aquilo significou, até finalmente entrar na pequena vila.

Ao chegar à maior das casas, Hinata me chama:

- Desculpa por aquilo - diz, olhando para o chão. - Eu... estou meio carente esses dias. Não leva pro lado pessoal.

Aceno com a cabeça. Mas algo dentro de mim insiste que aquele abraço não foi só carência. Ou talvez eu esteja mais carente do que ela.

- Tudo bem. Sem problemas.

- Vem. Meu pai ficou meio incomodado quando soube que você ia dormir aqui, mas não se preocupa. Quando ele e o tio Hizashi estão juntos, ele releva algumas coisas. Guardei um pouco da janta pra você - diz, indo até a cozinha.

- Eu devia ter ficado numa pousada - comento. Tudo isso está estranho demais. Eu nem sei por que estou aqui.

- Já falei pra você parar com isso - ela sorri. Meu coração acelera. Isso só acontece quando ela está perto. Eu já senti isso antes. Duas vezes. É uma sensação tão boa... e tão assustadora. Eu não quero isso.

- Seria muito egoísta da minha parte deixar você ir, afinal de contas, eu dormi duas vezes no seu apartamento - ela diz, colocando uma bandeja sobre a mesa.

- Ainda acho que não é certo eu estar aqui - ela suspira.

- Todo mundo tem dias ruins, Sasuke. E, nesses dias, nada melhor do que ter alguém por perto. Acredite... eu gostaria de ter tido um ombro amigo quando meu namoro acabou - ela senta à minha frente. Eu entendo o que ela quer dizer. Mas, na verdade, eu só quero esquecer tudo. Virar essa página. Reescrever a história.

- Eu só quero esquecer. Você entende? - Ela assente. - Desculpa pelo meu irmão ter te ligado. Mas você conhece o Itachi... nunca faz o que eu peço.

- Sem problemas. Além disso, aqui está um tédio. A maioria dos moradores são idosos. Só meu primo Neji se salva - ela sorri. Um sorriso puxa outro, e eu sorrio de volta. Mas dói.

- Ai - reclamo, levando a mão ao lábio ferido.

- Deixa eu ver - Hinata se aproxima. Seu rosto fica a poucos centímetros do meu. Se antes meu coração já estava acelerado, agora parece que vai saltar pela boca. Seus olhos azuis analisam meu ferimento com atenção, alheia ao fato de que eu a encaro como um louco, absorvendo cada traço do seu rosto. Como não notei antes o quanto ela é linda? - Como isso aconteceu? - pergunta, até que nossos olhos finalmente se encontram. Ela me olha com tamanha profundidade, e eu não consigo desviar. Nossa respiração acelera. Sinto seu perfume doce. Estamos tão próximos... e, quando percebo, me inclino, lentamente, em direção a seus lábios. Ela fecha os olhos, pronta para o beijo... até que se afasta bruscamente.

𝓕𝓸𝓽𝓸𝓰𝓻𝓪𝓯𝓲𝓪Onde histórias criam vida. Descubra agora