Capítulo 2

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Eu não era o garoto mais popular do segundo ano, mas eu tinha meus amigos. Eu tinha Geff que já havia sido reprovado três vezes e que já tinha dezoito anos, mas era um cara legal, um pouco burro, mas legal e era sempre ele quem conseguia maconha e de quem eu sempre comprava, o que acabou se tornando um pequeno negócio para ele. Agusto também comprava maconha com ele, era um cara engraçado, sempre fazia piada das coisas e às vezes na hora errada, mas era um cara bom de se ter por perto, ele costumava tornar os dias mais alegres, mesmo quando estávamos todos os outros de mal humor. Tinha também a Lena e o Jonas. A Lena era uma menina dessas pequeninhas de cabelo pintado vermelho, vestida de preto e sempre ouvindo metal, enquanto Jonas era quase o seu oposto, usava sempre branco e adorava dias ensolarados, todos os anos arrastava todos nós pelos bosques do arredor da cidade para acampar, quando não convencia Geff a pegar o carro do pai e nos levar para ver o mar. Todos eram bem singulares, mas eu me sentia bem quando estava com eles e nos três meses em que estive fora sem poder falar com eles eu senti como se estivesse os abandonando. Eu estava com medo de vê-los de novo, eu não queria encará-los e inventar mentiras quando perguntassem o que aconteceu, por onde eu andava, o que tinha feito, mentiras essas que não os convenceriam e só iria enfraquecer ainda mais a nossa amizade.

As aulas já haviam começado e eu estava com pelo menos um mês atrasado, mas quando acordei eu não quis ficar em casa, eu não queria ficar enclausurado no meu quarto, não depois de ficar três meses preso em outro.

Meu pai disse que eu não precisava voltar logo às aulas, que eu tinha um atestado que justificava pelo menos mais duas semanas em casa, mas eu dei de ombros, disse que me sentia bem o bastante para ir estudar e que era importante tornar ao convívio social. Ele me olhou com aquele olhar estranho, como quem pede por favor não faça merda, tenta não surtar na frente das pessoas, não nos envergonhe.

— Você tomou seus remédios? — Ele perguntou ao invés de dizer o que realmente queria dizer.

Eu disse que sim, mas era mentira, eu jogara alguns comprimidos na privada, havia passado a noite pensando se devia ou não tomar aquelas drogas, mas conclui que não. Eu sei, eu não devia simplesmente concluir que é melhor não tomar remédio porque eu não entendo nada dessas coisas, mas eu não queria me entupir de antidepressivos e remédios antipsicóticos porque os meus pais simplesmente pensavam que eu era louco. Eu nunca tive transtorno algum, nunca tive histórico de doença física ou mental, eu só tinha alguns sonhos doidos, sonambulismo talvez, um tanto depressivo e ansioso também.

Mas aquilo tudo ainda era um absurdo para mim, não acreditava que houvesse algo de errado comigo, porque de fato não havia, eu só não sabia explicar para eles ou para ninguém o que estava acontecendo comigo.

No começo das férias do ano anterior eu estava com meus amigos fumando maconha escondidos no final da nossa propriedade, depois do pasto havia um bosque e um monte que se precipitava com uma vista de toda a cidade, mais ou menos uns cinquenta metros de altura de pura rocha e desfiladeiro.

Íamos ali porque tínhamos de fumar escondidos, não dava para simplesmente entrarmos os cinco no meu quarto ou no de algum deles e fumar sem sermos descobertos, então saíamos cedo da escola e nos encontrávamos todos no meio do pasto e subíamos quinze minutos de trilha e ficávamos sentados na beira da rocha fumando e olhando a cidade, ou então íamos no fim da tarde de domingo quando todos estavam livres e ficávamos vendo o por do sol e comendo algumas besterias veganas que Lena sempre levava para nós.

Fomos para o nosso lugar em uma quarta-feira, já era férias e ninguém tinha nada para fazer, só Jonas é quem iria viajar com os pais, mas ainda em uma semana. Naquele dia Augusto estava mais falante que o normal, reclamou durante toda a subida pela trilha marcada e disse que não arriscaria ficar sentado na pedra arredondada molhada da chuva anterior, que não era uma boa ideia, mas Lena, como a mais esperta e precavida entre nós logo tirou da mochila uma toalha de mesa que estendeu sobre a pedra. Augusto ficou falando coisas aleatórias enquanto Geff enrolava a erva em uma seda amassada. Lena ao mesmo tempo falava da receita que criara de bolinho frito de abobara e de como era gostoso e que dessa vez recheara com queijo para que não estranhássemos tanto.

VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora