Doeu muito, quando ele dissera que iria doer eu acreditei que fosse pouco, mas não fora. Enquanto subia rápido no céu eu me agarrei em Geff segurando o gemido de dor. Geff não disse nada, já estava sendo maluco o bastante para ele.
Não era tão difícil afinal, uma vez no ar eu conseguia guiar meu corpo em intenções e inclinações, de repente eu estava voando com Geff agarrado em mim e seguindo o cara que há pouco havia dito que era meu meio irmão.
Aquilo era loucura, sim, era, mas estava acontecendo.
Depois de alguns minutos com o vento forte no rosto nos precipitamos em uma área de campo e começamos a cair. Daquela vez a queda não foi tão suave quanto na última, eu estava nervoso e confuso ainda de como controlar aquilo então caí brusco da mesma forma que o estranho caiu também. Na queda Geff se soltou de mim e rolou ao meu lado.
Haviamos caído no quintal de uma casa de campo, um tipo de fazenda, mas sem celeiro ou estábulos. No horizonte viamos as montanhas e os vales escarpados e as nuvens cobrindo quase tudo.
O estranho se levantou e foi caminhando na direção da casa, depois como que se lembrando de repente que estávamos com ele se virou e gritou para nós dois.
— Vocês vão ter que passar a noite aqui. Não é seguro voltar hoje.
— Onde nós estamos? — Eu perguntei me levantando e ajudando Geff a se levantar.
— Não muito longe — ele respondeu. — Longe o bastante para sermos descobertos.
Estávamos na região serrana do estado, havíamos mudado rápido de lugar, deixamos as áreas de pastos e mais rurais e estávamos no meio da serra de repente.
— A gente não pode ficar aqui — eu falei.
— Podem e vão — ele respondeu. — Já disse que não é seguro voltar. Eu não costumo receber visitas então dê um jeito de se acomodar. Eu não ligo.
Geff me pegou pela mão e me fez parar. Eu o olhei nos olhos e ele pedia com os olhos para que eu me acalmasse, que eu fosse paciente. Independente de qual fosse a explicação para tudo aquilo logo saberíamos.
A casa era uma casa antiga, estilo colonial com um alpendre e varando em torno. Descobri depois que era um dos entrepostos dele, um dos lugares para onde ele corria quando precisava se esconder. Ele tinha mais outros dois lugares como aquele nos extremos do estado e outros perto das capitais dos estados ao redor. Aquela casa na serra era estratégica, o acesso por terra era muito difícil principalmente quando chovia já que as estradas eram bem precárias e mais ainda nos dias de neblina, que eram muito comuns. Ele havia encontrado a casa abandonada, fechado e com as mobílias jogadas às traças, então resolveu se apossar do lugar.
Quando entramos tudo estava no lugar, tudo muito limpo e bem cuidado, a mobília era antiga cheia de canapés e mesas de centro baixas. Era um lugar bonito e tinha uma aura de lar. Me acalmei por estar de novo entre quatro paredes e não mais a céu aberto, o silêncio da montanha ajudava também.
— Escolham um quarto qualquer — o estranho disse abrindo uma porta e entrando por ela. — Eu não me importo, só não me incomodem.
Olhei para Geff e vi o quanto ele estava estarrecido, o quão preocupado ele estava e fiquei sem saber o que dizer.
Encontramos um quarto com banheiro e entramos em silêncio, era grande como todos os cômodos da casa e eu fiquei me perguntando se teria água encanada ou aquecimento já que eu precisava de um banho de verdade.
Deixei Geff sozinho no quarto e fui conferir o banheiro.
Tinha toalhas limpas no banheiro o que me fez acreditar que aquele homem não era o único que usava aquela casa como esconderijo. Havia sim água encanada, que vinha de um reservatório de água da chuva e de um sistema de captação de uma nascente não muito longe dali. Havia aquecimento e energia elétrica, tudo vindo de um gerador à gasolina que ficava nos fundos.
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VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETO
Teen FictionVocê já sonhou que estava voando? Você já sonhou que estava caindo? Guilherme ficou internado durante três meses em um hospital psiquiátrico depois de uma suposta tentativa de suicídio e recorrentes sonhos e visões. Embora os médicos atestassem su...